As pessoas tão falando sem parar. Elas falam e falam. E
parecem que estão guspindo tudo o que falam. O pior é que falam em outra língua.
Eu to sentada aqui me perguntando o que que eu estou fazendo aqui e como eu vim
parar aqui. Daí eu lembro que eu caminhei até aqui há alguns minutos atrás.
Penso que eu poderia estar muito inerte em mim mesma para não lembrar do
trajeto. Daí eu lembro que eu nem prestei atenção no que a minha mãe falava
enquanto vinha comigo e isso me fez lembrar que eu vim pensando o tempo todo em
você e que enquanto eu concordava com o assunto, eu não tinha a menor idéia do
que se tratava ser.
Continuo sentada.
Faz uns minutos que estou aqui. A mulher bebendo água do meu lado acabou de
espiar o que eu estou escrevendo. Eu olhei pra ela e ela fingiu olhar as horas
no relógio da parede. Não achei a menor graça, como eu até poderia ter achado em
outro dia.
A sala de recepção
esta cheia, eu to me perguntando por que eu não fiquei em casa. A minha cabeça
lateja e sinto minhas mãos suarem, eu definitivamente não estou bem. Meus olhos
estão úmidos e a todo instante eu confundo ter ouvido a sua voz no meio desse
caos intraduzível.
Um cara ta falando
comigo agora, eu não to entendendo nada, ele ta falando outra língua, eu sei
falar, eu sei o que responder, é tão simples... Mas não sai, parece que algo na
minha mente esta congelada, a minha língua parece que enrolou-se e tudo que sai
é murmúrios gustativos a procura do que falar ao certo. Ele esta me olhando com
uma cara estranha, ele acha que eu sou louca, ótimo, não seria a primeira
pessoa a achar.
Respondo qualquer
coisa, e ele assenti em um meneio de cabeça e seus enormes cabelos brilhantes e
meio desgrenhados balançam de uma forma engraçada. Acho que dei a resposta
certa, nem sei.
Volto a escrever.
Olho para os meus
tênis e fico pensando na cor branco por um longo tempo, comparo a minha mente,
totalmente em branco, e depois aos taxis na rua e acho graça disso.
Não estou bêbada e
nem chapada, estou letárgica. Tudo que me vem a cabeça é os seus olhos, seu
sorriso, suas mãos, seu cheiro e tudo que eu sinto por você. Lembrei de mim
negando os meus sentimentos á alguns dias atrás. E sorrio por isso, por quão
estúpida cheguei a ser por achar que poderia fugir disso tudo.
E não pude, tanto
não pude que estou novamente no mesmo lugar. Esta tudo parecendo uma montanha
russa, e eu me sinto girando no ar, as coisas passam, as pessoas gritam, eu
fico sentada na recepção da escola de inglês esperando a minha aula começar, e
digerindo a loucura dos últimos acontecimentos que influenciam eu e você. Você
e eu...
É tudo tão...
Acabaram de me
chamar pra aula. To guardando o caderno na bolsa, mas não consigo, tento
terminar as ultimas coisas, e depois suspiro.
O que mais eu tenho
a escrever?
Mais nada, eu decido.
Ta tudo tão perdido,
to tão causada, tão cansada. To querendo que você me ame, que você lute por
mim, mas estou tão afringida pela espera irrecuperável do tempo e dos
sentimentos. To querendo que você me puxe, que cole em mim e nunca mais
desgrude. Que acredite e confie na gente.
To achando isso tão
difícil. To sentindo que vou estourar, vou chorar, vou gritar... Mas não posso.
Desejo estar em
casa, deitada na cama, meias e um cobertor, abraçando um livro, a cabeça caída sobre
meu travesseiro e gritando ao som de Gun’s.
Segunda chamada. Me levanto, ainda não guardo o caderno na
bolsa, finjo mexer em qualquer coisa, sorrio falsamente para professor e depois
termino.
Por favor, oh, por favor... Por favor, vida, oh vida, não me
decepcione! Só dessa vez...
Annabel Laurino.