sábado, 29 de agosto de 2015

Sobre conotações, matizes e Deus

    Nas matizes dissonantes dos meus dias eu posso ver através da janela em que me deparo. E falo pra você, meu amigo que novamente me lê, sobre as conotações. Atento-me às conotações e matizes, porque vejo como tudo mudou. De azuis violáceos a simples tons perolados de bege e nude, eu encontro uma matiz diferente nesse amontoado de cores que se dispersam ao longo dos meus dias.
    É verdade que muito me entristeceu o rumo que o barquinho tomou, rumo em direção a uma maré brava, de alto mar, com a promessa de tempestades violentas e céu negro, puro breu. Mas, e creia meu amigo, existe um mas, eu irei ver o retorno deste barco às águas mansas e cristalinas que o esperam, como se fossem o seu lar. E essa espera, em meio a tristeza ferrenha que também é capaz de me alegrar, há algo chamado esperança.
    Claro, eu posso te explicar, meu amigo, como alguém pode se entristecer e mesmo assim permanecer alegre. Mas veja, eu estou suscetível  às mudanças de conotações bruxuleantes que brincam de pincelar, pintar, os meus dias, porém permaneço firme. Porque mesmo que essas conotações não me agradem, mesmo que muitas vezes, inúmeras delas me entristeçam, eu encontro uma fé inabalável, uma certeza indestrutível, uma alegria inexplicável que vem de um único lugar, de Deus.
    Caminhando pela rua, tão tardinha do dia, em mais um desses finais de tarde de agosto, ventania gélida e tempo estranho, onde uma brisa decidiu brincar com o meu cabelo, encarapitando-se em volta do meu rosto e fazendo cócegas no meu nariz, eu me senti gigante. Ali no meio daquela rua cheia de tantas pessoas caminhando para todos os lados em direção a todos os rumos possíveis, eu com apenas meu 1,56, me senti gigante de tanta paz, pois eu tive a certeza. A minha certeza secreta que me fez sorrir ao compasso dos meus pés trilhando o caminho.
    Os dias mudaram. Eu mudei. Logo vejo que continuo a mesma que sempre fui, mas algo novo e bonito incide em mim agora. Algo repleto de luz.
    As conotações de cores alteraram-se por fim, os dias passam e cada um deles parece ter uma cor diferente sobre uma matiz completamente nova. Nem sempre essa cor me agrada, meu amigo, e eu não vou te mentir, especialmente nos últimos dias. Mas tenho pincéis novos e cores mais bonitas guardadas em latinhas especiais de tinta que agora eu sei como usar. E tento assim, deixar meus dias mais bonitos, mesmo que de alguma maneira não sejam como eu esperava, como eu tinha planejado que fossem.
     Eu sei, eu sei, já te falei das conotações, dias, Deus, matizes, latas de tinta, tristeza e alegria, mas não contei o mais importante, que eu continuo.
    Sim, eu continuo. Continuarei. Como já diria um velho escritor “continuo remando”. Remarei apontando meu barco rumo ao horizonte sem fim, para um céu cheio de luz, eterno e real, com conotações límpidas e matizes inimagináveis pra mim. 



Annabel Laurino