Nada fazia mais sentido. E o grande mal começou a surtir um
efeito contraditório e letárgico. Comecei a entrar em um cruel estado de
indiferença, do não me importar. Trouxe muitas reviravoltas nesses últimos
dias do que nos últimos anos. Comecei a sofrer por dentro e a escamar dores por fora. Talvez tenha sido
a época mais dramática de toda essa vida e incrivelmente complicada. Mas com tudo isso me tornei muito simples. Quase nem
choro mais. Fico quieta como um ramo de flores envelhecendo ao sol, respirando
os últimos golfos de ar que ainda me restam e compreendendo a vida toda muito
antes da hora.
Talvez eu não saia
dessa, sei lá. Ou talvez haja mesmo um final feliz nisso tudo, se é que existe
essa de final feliz, mas deve ter uma luz no fim do túnel, um brilho, uma coisa
que ilumine e acabe com essa situação toda.
Não posso te
contar o que é essa situação toda. Bem que eu queria, cuspir tudo para fora e
chorar durante um longo tempo e te dizer com cara de choro e lágrimas úmidas e
encharcadas o quanto suspeito que estou ficando louca, que tudo isso é demais
para mim. Mas então eu estaria fazendo drama, e estaria deixando com que tudo
saísse do controle, e te envolveria nessa minha névoa confusa. Prefiro ficar
quieta, chorar e dizer todas essas coisas mas sozinha. Eu e eu somente, ninguém
mais.
Olhando esse sol
forte depois de longas horas de chuvas, esses bichos rastejantes fugindo de
suas tocas úmidas depois de tanta água, fico vendo esse sol muito forte entrar
vivo pelo quarto e me sinto tão grata por poder estar aqui, somente aqui,
respirando esse ar, vendo esse sol, e fingindo ser alguém qualquer com seus
próprios problemas , não sentindo nada e sentindo muito.
Annabel laurino