Um transeunte pisou-a logo quando atingiu seu voo. E mais tarde naquele mesmo dia, uma jovem se exercitando arrastou a pobre folha para longe, e esta escorregou pelo chão, até que um cão vadio a cheirasse e a pegasse na boca e fosse caminhando com ela por um curto espaço de tempo até que perdesse o interesse e a deixasse sozinha na calçada suja. Um vento, não mais que frio e forte, e sabe-se lá de que direção vinha, se eram tantas, a ergueu com tamanha força, levantando seus flancos pedaços pisoteados não lembrando mais aquela linda folha de antes, erguendo-a cada vez mais, até que subisse e subisse, alcançando as janelas mais altas e depois como se nada fosse suficiente perdeu sua força e deixou-a regressar ao chão estável, duro e frio, onde já havia estado antes, para onde voltava agora.
Pedaços lhe faltavam para que estivesse completa, haviam roubado-lhe até mesmo seu caule macio. Pobre folha. Os espíritos das árvores, perguntaram-se depois, como podia ainda se considerar uma folha única, se seus pedacinhos dividiam-se espalhafatosos por ai. Oras, muito simples, ela estava em todos os lugares e seria sempre única e não se entristecia mais por isso. Era um ciclo, caindo uma vez do seu ramo verdejante e bonito, como a árvore, e cairia agora novamente, até que quem sabe, renascesse em uma outra árvore qualquer, quando o verão chegasse. E assim até que o ciclo se encerrasse.
Ah, como todos podem ver, a vida.
Annabel Laurino