quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mansa

Vai tentar ludibriar novamente?
Vai fazer sempre o mesmo jogo?
Garoto, esta na hora de mudar de tática.
Meu passo é leve.
Minhas curvas, onduladas e frias.
Sou pequena, nem tamanho quase eu tenho.
Não ocupo espaço.
Apenas me deixe viva na soleira dos teus braços.
Não fará mal nenhum.
Deixo quente o toque.
Você passa as luvas brancas da sua pele fria sobre suas pernas ferventes.
Nervoso.
Eu marco você.
Marco fundo.
E você nem percebe.
Está distante, perdido na fala mansa que jogo em cima dos teus ouvidos, não prometo nada.
Mas falo bonito.
Não tem como negar.

Annabel Laurino. 


Carnaval de Frutas

   A cada dia que passa me convenço mais de que nessa vida ninguém pode substituir ninguém. Não importa o quanto você tente, não importa o quanto os dias lindos de verão se mostrem abertos para você como portas douradas cintilando de raios quentes e reluzentes, e que as oportunidades surjam, e que você se sinta mais livre, mais solta, e que você beije outros lábios por ai, e que você deleite em outros braços por ai, e que você tenha outras conversas vazias ou construtivas por ai. Não importa. É a única convicção que você toma depois quando descobre que não importa mesmo, não tem jeito, ninguém substitui ninguém. E dói um pouco, uma dor daquelas que você sabe que o único consolo é a tentativa eterna de procurar reverter esse resultado, mesmo sabendo que você está fadada á não conseguir. Aperta o peito, da vontade de gritar. Mas você sabe, pode até ser que encontre pessoas melhores, que seja melhor, mas não é igual. Nada é igual. E não se trata do que você recebe, dos risos, dos olhos, do corpo, da pele, da maneira e tudo mais, mas da forma como você se sente dentre tudo isso. Não é você de verdade, como era naquele tempo meio distante. 
     Da vontade de ficar na frente da televisão para o resto da vida, beber café amargo e assistir ao plantão de noticias como se estivesse vendo o anuncio do tempo para o final de semana. Da vontade de não tentar mais. De não tocar mais em ferida alguma, de deixar como está, de morrer por dentro, por fora, por cima, pelos lados. Mas você sabe que não da. Que as feridas tem que cicatrizar, que a vida segue, que tudo segue, que a saudade é viva, que machuca, mas você banha ela todos os dias com pingos de dignidade. Já doeu uma vez, agora você só pode se matar um pouco mais em outros alguém. Não tem jeito. 
     Mas a verdade inconveniente vem sempre pronta e macia, como uma sobremesa de Carnaval de Frutas a sua frente: Aqui está, perceba, ninguém substitui ninguém. E reluz lindamente colorida, doendo muito, você engole em seco e segue fingindo não sentir nada. Uma colherada doce de cada vez. 


Annabel Laurino. 

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    Como Alice, as vezes a gente meio que se coloca em situações que são tão tentadoras, tão puramente deliciosas e que chamam instantaneamente a nossa atenção. Só por que tudo parece um pequeno biscoito delicioso, suculento, pode ser muito saboroso. O que ele faz? Qual será seu efeito?... É por ai que começamos a nos perder em uma loucura cada vez mais instigante e vertiginosa. Sem nem mesmo perceber. E cada vez que vamos adentrando mais na história, mais nos perdemos. Pode ser divertido. Pode ser delicioso. Pode ser um sonho. Pode ser fatal.

Annabel Laurino.