Esquadrinho essas paredes azuis
São cinco da manhã,
A chuva foi embora
Cubro as minhas pernas nuas e geladas
E por mais uma vez, sinto falta de café.
Minha boca seca,
Meus olhos estalados e assustados procuram
Procuram, como um radar
Dentro dessas paredes azuis e geladas.
Vastidão silenciosa e ofuscante
Eu mergulho mais uma vez na sedenta vontade de encontrar
Identificar
Não é alecrim, nem jasmim
Nem música qualquer que dite o compasso vertiginoso desse
som
Que não para de gritar dento de mim.
Lembro agora que eu não sei escrever poemas
Tudo que sei é torto
Disforme e dançante
Então por que escrevo?
Para desatar o choro que está preso no fundo do peito,
Que dói.
E pra procurar
Te procurar, mais uma vez, insone.
E dentro das cartas lacradas,
Dos versos secos,
Das horas aguadas,
Das ruas lânguidas e encharcadas,
Do que foi dito e que ninguém lembrou,
Mas eu lembrei.
Dentro
Tudo dentro, amassado
Agrupado e esquecido
Solto e perdido
Dessas paredes azuis.
Annabel Laurino