terça-feira, 20 de setembro de 2011

Chorei


Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. 

Caio Fernando Abreu


Precisando


To precisando de alguém que me segure forte
Que me agarre com força
Por que sou como água, fluo sozinha
Eu estou aqui, parada, quieta, sou a calmaria em carne
Mas fluo
Horas e outras não estou mais aqui
Preciso que me agarrem, mãos fortes e precisas, para que me prendam
Por que preciso disso
Preciso sentir-me segura
De um conforto, de um cheiro, de um gosto, de um afago
Tão, tão fácil que é
E tão complicado de se fazer
Por que não entendo, muitas vezes fujo
E quando fujo é pra valer
Daí você tem que me caçar em um jogo que nem eu mesma entendo
Acontece que eu sofro de mais
Por vezes, dores que nem são minhas
E fujo com essas dores, para que ninguém veja o quanto sofro
Preciso de alguém que perfure lá dentro, lá no intimo, que instigue, que puxe, que cole
E não descole depois
Preciso de chocolates
Cobertores
Sol
Flores
Música
Danças
Corações quentes
E sorrisos sem fim
Preciso de algo longe do eterno
Eternidade é muito tempo para se contar
E acho que não tenho esse tempo todo
Mas preciso de algo, do tipo, agora
No momento
E que tenha recheio
Não me venha com nada vazio
Nada de que eu não possa me lembrar depois
Com um sorriso no rosto
E duas lágrimas latentes escorrendo pelo rosto febril.

Annabel Laurino.

Ta ardendo tanto amor.
E arde, arde, arde.
Que dor febril essa.
Começa no peito e toma conta de mim.
Até minhas lágrimas estão febris agora.
E ardem, ardem, ardem...
Uma ardência calórica, que não tem fim
E como arde
Uma queimadura arderia menos
Ardência, querida
Saia de mim
Por que machuca de mais essa dor
E não estou gostando disso,
Embora chore, e arda,
Chorando e ardendo
Há muito tempo aqui.

Annabel Laurino.

Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo. Brigavam sempre. E se desafiavam todos os dias. Mas, apesar das diferenças, tinham algo importante em comum: eram loucos um pelo outro.

(O Diário de uma paixão)

Como soube partir


Você estava aqui agora a pouco
Mas não vi como soube partir
Não houve rastros e nem marcas de sua saída
Apenas um fio de seus cabelos sobre minhas vestes brancas
Não teve cheiro seu guardado em camas
Nem um pingo de seu suor em meu corpo
Muito menos teu reflexo no meu espelho
Tuas mãos já não se encaixam nos meus seios
Teus olhos já não ilustram meu corpo
Seus pés barulho não fazem mais
Teus dedos cortados dos meus já foram
E nenhum fio que nos ligava se encontra mais aqui
Você partiu
E eu esqueci

Annabel Laurino