quarta-feira, 4 de abril de 2012

Nem tudo que é fantasia vira sonho, nem tudo que é realidade vira realização


    Ah se tudo fosse como naquele filme Meia Noite Em Paris... Se tudo fosse como uma interminável viagem introspectiva e profunda. Imaginativa, sim, porém fiel ao fato de nos conhecermos mais a fundo e, Santo Deus! Estamos falando de Paris!
    Assim que o filme acabou me vi sentada sozinha no sofá da sala, chorando baixinho e vendo a cena final como se fosse algum mapa filosófico para minha própria vida. Oras, que coisa linda caminhar na chuva, escrever sobre os bulevares de Paris, aqueles cafés, aquelas roupas, os rostos, as ruas, tudo. Tão bonito. Meu coração pareceu inflar no peito como se baixinho ele próprio chorasse em uma admiração gritante.
    Enquanto a chuva caia, meus olhos pareciam grudar na tela da TV. E veja só, aquele homem de sorte tendo a oportunidade em meio a história do filme de sentar-se com todos aqueles homens que admirava tanto e de conhecer todas aquelas maravilhas dos anos 20. E eu aqui, não tão longe, sentada em frente a tela de um computador esperando ver uma máquina de escrever, anos 60 e 70, trabalhando em um jornal auspicioso e qualquer de NY, chaminés de de fumaças de cigarros encarapitando-se no ar frio da sala recheada de telefones antigos tocando, homens em seus ternos bem vestidos, um cheiro de café mesclado ao mofo dos papéis e das folhas amareladas, dos sapatos molhados em um dia de outono e chuva. Ah... O coração parece que vai criar pernas e sair de mim, fazendo tudo isso ser real.
    Uma comparação entre mim e aquele homem do filme me fez sentir-me ainda mais só, até o sofá parece mais fundo agora. Queria estar em qualquer outro lugar, e penso nas milhares de pessoa que escolheria de ver a minha frente e conversar, conhecer, ter uma chance única na vida. Penso em tudo que eu gostaria de viver, algo longe dessa realidade intangível, dessas feridas que marcam o corpo e a alma, e dessas tristezas que, assim como todos nós, carrego todos os dias como uma mala morta sendo arrastada atrás de mim, para todos os lugares.
    Vivemos reclamando do passado que não vivemos, ou desejando uma fantasia longe de ser alcançada. Eu, todos os dias que acordo, gostaria de estar acordando em outra época, e isso, quase sempre me parece tão impossível. Mas então eu faço um café, eu leio um livro, eu busco vida em autores que não publicam mais seus livros, eu escuto musicas que não tocam mais nas rádios há muitos anos, eu pinto o cabelo de uma cor diferente, eu uso batom vermelho e escolho sapatos antigos, me sinto confortável, me olho no espelho, depois olho no calendário. Tudo bem, isso passa. Essa sede toda de sermos aquilo que não somos, talvez um dia passe, ou não. Enquanto isso eu vou colocando uma cesta de flores todos os dias na minha janela, escrevendo poemas, mandando cartas, cozinhando biscoitos de Natal, prendendo o cabelo com fitas de seda e chorando em filmes antigos e profundos. Enquanto isso eu vou untando a fantasia de uma vida que poderia ter sido, com uma que é agora. Enquanto isso eu vou empurrando a vida até ela me empurrar, em digamos assim, para algum lugar plausível e... Desejado.


Annabel Laurino.



Insaciedade Medrosa


Parece um tanto sem graça no começo. Eu sei. Afinal, o que se pode haver de tão atraente e delicioso em um copo d’água sem nenhum cubo de gelo enfeitando-o graciosamente? E, conforme dita a física e a química, nele não ocorrem aquelas gotículas decaindo sobre o vidro frio do copo, com uma poça pequenina e sem vida por baixo, o acumulo de todas aquelas gotículas geladas. Não. Não há gotículas nesse copo, apenas um canudo branco de listras rosas dependurado e retorcido pelo bocal do copo em aparência demasiada abandonada, quase intocável. Compreensível que nada de atraente você veja nisso, nessa cena auspiciosa de um copo solitário repousando por cima de uma mesa velha, sem gotículas ou pequenina poça de gotículas geladas ao fundo e nem mesmo cubinhos de gelo, e sim, apenas um retórico e contraditório canudo branco com listras cor de rosa. Cheio, o copo cheio quase transbordante. De fácil acesso, a água que contém ali, com toda aquela coisa que a água faz, beijando o bocal silenciosamente, tenho sede. Sim, uma sede incansável de me esquecer de mim e beijar a água, encostar os lábios no canudo branco e chupar dele toda essa água, esse toque de água. Mas contenho-me afável. Tenho medo do que pode acontecer, se vou conseguir parar depois. Como posso fazer? Sou insaciável, digo, e me vejo aqui, nesse momento dispersivo de pouca fé, com uma gula imensa sobre algo, digamos assim, não atraente para os olhares alheios. Eu, porém, quase me sinto gritar com essa cena. Me vejo nela, veja só. É como se o copo, o lindo copo bojudo de vidro gélido fosse um sistema funcional acoplado dos acontecimentos recentes, você perguntaria “o tempo?” e eu responderia com um aceno fiel, “sim, o tempo”, e então o canudo sendo eu, em minha coragem destemida que me falta sã, a roupa da coragem, sim, por que para provar da água é necessário o canudo, como uma rota, ele ligaria-me a água, e sem coragem, não há o que conseguir ter. E veja só, a água enfim seria ele, por que não? Então percebes que o copo me traz a água e a água me tenta com um canudo flutuante do qual sem ele não posso provar d’água. Claro, como menina travessa, pensei em encostar meus lábios no bocal do copo, mas seria de tamanha gula e não é assim que me apresenta tal. Preciso reunir algo para chegar a coragem e ainda não o sei o bem. Como posso fazê-lo? Teria então que ir com delicadeza, sutileza e com carinho, amor, afeto e etc. afins que intermináveis me faltam nos bolsos? Pois então estou perdida, sem a coragem não consigo entrar nessa. Ou no copo, ou na água, agora tanto faz.



Annabel Laurino.

“Foi um beijo cheio. Longo. Delicioso. Um beijo enorme, um beijo doce. Quente. Sexy.”


Martha Medeiros




Pensei que iria derreter quando você me viu. Me encarou, na verdade. Foi como se naquele momento todas as luzes tivessem se apagado e só dois holofotes permanecessem acesos, um em cima de você e outro em cima de mim. Um sonho lindo.”

Martha Medeiros


Aros de Tartaruga e suas mãos envelhecidas apontando do passado ao medo. Argh

Preparei uma somática de pontos. Prós e contras. É complicado dizer mas depois de tanto tempo sendo pisoteada pela vida, tendo ela sentadinha na arquibancada com um bloco de notas nas mãos enrugadas e olhos tão críticos por baixo daqueles óculos de aros de tartaruga vermelho, e analisada por ela e sempre, sempre, sendo surpreendida por aquelas anotações criticas que viabilizavam me trazer, querendo ou não, resultados em acontecimentos nem sempre tão agradáveis assim. Agora decidi que já chega. Pode chamar isso de pirraça, coisa que não vai dar certo, mas decidi me sentar ao lado dela e puxar um bloco de notas também. Decidi uma nova tática de abordagem, de agora em diante enquanto ela me analisa a analisando eu a analiso escrevendo seus pontinhos tortos no caderninho velho e esfarrapado com meu nome em cima. Não me entenda mal, estou somente cuidando da minha autopreservação mental. Não posso enlouquecer novamente. Não posso me deixar ser pega de surpresa e caindo naquele tal lugar que se chama decepção e coisa e tal.

Annabel Laurino.

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“Eu te acho bonito de formas tão variadas e profundas e insuportáveis.


Tati Bernardi



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"O problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente."





- Fernanda Young