sábado, 23 de julho de 2011

Caixa

 É nessa caixa secreta perdida no tempo, levada pelo vento que me escondo de mim. Já não sei mais como cheguei aqui. O que fiz o que perdi. Ainda estou  pensando por que, e como me deixei assim. Pisei sobre meus ideais, esqueci minha filosofia de vida, minha ideologia constante. Sinto minha pele arroxeada de frio arder em brasas da vergonha, da luta e do medo que senti. Sinto medo de mim. Vergonha de mim.
    Que triste.
    Choro por que não sei para quem me desculpar. Fui eu que me infligi, fui eu que me machuquei dessa vez. Abri a porta sem ter permissão por fazê-la. Me igualei a quem não queria me igualar. Me perdi.
    Chorei.
    Choro por que sinto medo, sinto danos irrecuperáveis no tempo, nos dias que se passaram, que se alastraram a minha frente e que eu me esqueci. Esqueci de você e de mim. Sou egoísta agora, mimada e triste, sou dor e amor. Só não sei com quem dividir. Guardo tudo pra mim dentro dessa caixa fechada onde ninguém pode saber estar. Guardo trancada, selada, escondida. Só abro pra quem souber o segredo de como me abrir, de como fazer eu me entregar. Enquanto isso, fico como uma vara coberta de cera endurecendo ao vento quente que congela meu corpo varal, visceral, viscoso. E tudo isso me cansa. Me fatiga. Já não agüento mais pensar em mim.

     Annabel Laurino



Estou doente.

    Estou doente. Oh sim, estou doente. Essa letargia constante em que me encontro abomina meu corpo, adentra minha alma, crucia meus pensamentos, paralisa minha fala. Estou doente. Essa capacidade imunda da realidade que abre e fecha os poros na minha pele branca deixa marcas. Dor. Estou doente. Quero salvar meu corpo, viajar com minha alma para muito longe, cavalgar sobre meus instintos prolíferos e não saber onde estou. Não quero sentir. Ou quero sentir. Já não sei mais qual é o pior. Se sentir, morro de dor, se não sinto, morro de nada. Morrer de nada. O que é pior?
 Estou fraca, estou só. Estou doente. De amor, de dor, de ódio. Fustigam minha alma, arrancam meus pelos, puxam meus cabelos. Sem dó. Esse caso danoso, essa fúria desse mar de confusão custa tanto a passar. Vou fugir, vou chorar. Estou doente. Mas ainda estou aqui. Ainda sinto meu corpo que não se mostra mais tão lúcido e nem mais tão frágil. Ainda sinto-o em mim. Ainda estou aqui. Ainda grito e falo. Ainda sinto prazer, ainda sinto-me excitada na loucura dos meus atos, na loucura da vida, do dia, da dor. Sou insensata na dor. Até mesmo na dor.
 
   Annabel Laurino.