segunda-feira, 10 de junho de 2013

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    Mas eu venho calma como quem da passos de Bossa Nova pelas ruas de uma cidade em decadência noturna enquanto é engolida por postes de luz acessos e calçada úmida pelo sereno denso. Eu venho respirando fundo, cantando jazz nos estalidos dos dedos, lendo esses livros todo antigos que falam de quando alguma moda rica começou em Nova York e as mulheres eram belas e homens galantes tinham o poder. Percebendo tanta coisa, é na minha calma diária em que me descubro. É na descoberta que pequeninos desejos virulentos me assomam por inteiro.
    Eu venho querendo mais companhia de espirito do que companhia de carne, a gente percebe por um tempo que tem muita gente perto que ta longe, longinho. E é a alma que alimenta, não é mesmo? É a essência que se aproxima, a carne é só uma roupa, útil e depois inútil, varia, não aconchega, não ilumina como a alma faz. E eu tenho desejado é isso, ter gente bem por perto, que me arranquem risos, sorrisos, gracejos e despertem em mim meu lado mais bonito, aquele que eu escondo quase e se não o tempo todo.
    Você não vai querer saber mas te conto mesmo assim de que o mundo lá fora é gigante e eu quero alguém para compartilhar mundos. Alguém que deite do lado, pegue a minha mão e com a outra segure um livro, converse durante horas a fim e me conte coisas como o céu, a terra e fatos de que não faço ideia que existiam. Você não sabe, mas eu desejo alguém que venha com a paz no peito e me distribua um pouco disso enquanto me deixa mordiscar sua orelha e lhe sussurrar baixinho sobre um sonho que tive numa outra noite qualquer.
    Faz tanto tempo que o coração ta assim sobre terremotos repentinos que seria bom só para variar encontrar alguém por ai que quisesse ser um pouquinho de acalanto para esse farrapo desestabilizado que virou o coração.
    Tem tanta gente caminhando pelas ruas dessa cidade, e qualquer hora podia ser bom de repente alguém que dividisse um café e me contasse uma história boba, dessas que saem involuntariamente, mas são boas de saber. Você sabe, a gente sempre precisa de carinho, daquela coisa que todos gostam, de atenção. A gente sempre precisa de um pouco do que ainda não provou direito.
    Vem em mente, quase de repente, que amor não sei bem o que é. Mas se amor for isso, se amor for paz e compartilhar o que se chama de vida e sonhos e coisas boas e até aquelas mais feiinhas e nem tão lisonjeiras assim, tudo bem, eu topo. Eu to topando deixar o coração aberto só para ver o que é que deixa ele calminho. Para ver o que acontece se o acaso de tropeçar em algo lindo se torna em digamos assim, uma delicia de se apaixonar e ter alguém para contar isso sem medo nos olhos, sem receios contidos.
    É isso que todos queremos, não é mesmo? Só alguém que faça mais do que estar, e seja.



Annabel Laurino

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