quinta-feira, 27 de junho de 2013

Caminhos, descabelados e confusos

      A vida é complexa meu irmão. A vida é louca. Quer dizer, os caminhos que a vida toma. Tão obtusos e dissimulados, tardios e escorregadios, são disformes e uniformemente engenhosos, não sei como se cruzam, mas se cruzam e sempre de repente, como se uma linha imaginária os traçasse de uma hora para outra.
    Tudo muda tão rapidamente. Uma hora você está na fila da padaria esperando o pão quente e outra você pega um ônibus qualquer na rodoviária rumo aquela cidadezinha perto de casa e que tem bons filmes. Uma hora você acha que tem o amor da sua vida em mãos, que ficarão juntos para sempre, casarão e terão dois filhos e um cachorro com nome do baterista da sua banda predileta, mas em outra tudo acaba, tudo rui como pedacinhos se rachando lado a lado e não existe mais amor algum, só uma ilusão fantasiosa do que sua mente criou. Mas a vida é insana e produz surpresas e no mesmo tempo em que você se acabava chorando numa cama e ouvindo Don't Let Me Down o novo romance da sua vida se aproximava. É, aquele cara que se apaixonou por você enquanto te observava na fila do pão e gostou do seu cabelo e do seu nariz arrebitado e meio fofinho também. Vai ser ele que vai te levar pra conhecer lugares bacanas, ler poesia embaixo da árvore, comer chocolate em dia de chuva e massagear seus pés antes de dormir, te dará flores numa tarde qualquer e dará seu nome a uma estrela no céu.
    Pra você ver, pra você ver, a vida sempre tão estranha. Acontece, uns chamam de loucura, eu chamo de descomplicamento fatalístico. Tem que acontecer meu irmão, tem que acontecer, é só deixar fluir. Uma hora você tropeça em algo lindo que virá com toda força e te trará luz.
    Sabe quando aquilo é tão bom que chega a limpar a sua cabeça? Pois é. Qualquer hora isso acontece com você.
    Claro, esses caminhos que a vida traça, vezes bem traiçoeiros, vão acabar com seu fôlego e vontade de lutar, haverá dias que você não terá vontade de ver a luz do sol e nem de abandonar a cama, nada terá graça e tudo perderá o riso, mas força, e sempre em frente, como dizia o Russo. Afinal, é dessas fossas todas, nesses momentos de pouca luz, desses momentos de 'desbaratamento' total, onde tudo fica confuso, e eu disse tudo, é que a gente tira um coelho da cartola e aprende a caminhar até com as mãos, se preciso for.
    Seja criativo, se a solidão bater, dança com ela, já dizia o Camelo. Dança, dança. Se cair chuva, dança. Se der vontade de chorar, dança também. Vai bota aquela musica, tira o pó dos livros, deixa a vida fluir que aos poucos ela se ajeita. É assim sempre, é assim que funciona. 
     Eu só espero que tenha sol todos os dias, cinzas e rosados, tanto faz e que os dias amanheçam doces com cheiro de alecrim e alfazema, alguém cantando baixinho I Need You no meu ouvido e eu querendo viver pra sempre, ser infinito. Mas se isso não acontecer, amanhecerá igual, os amanhãs estão ai, por todo os caminhos a frente dos quais nos encontramos, e serão doces, surpreendente doces, vezes fatais, mas ensinarão a você, a mim, a nós todos, que nada é tão fatal que não possa continuar a te surpreender.
    Pequenas liturgias nervosas de aprendizados contínuos. Você precisa de uma porção dessas coisas. E de amor também. Amor para todos nós. Amor por todos os caminhos a frente, por favor.





Annabel Laurino