Desta vez, dentre todas as outras, é completamente diferente.
Entenda, esta sendo muito difícil para mim agora. E esta sendo duro fechar as portas da casa e trancafiar as janelas jogando a chave fora e arrastando comigo o vazio ininterrupto que é o de aceitar o fim.
Por isso, por isso você não vai ouvir um se quer gesto meu, nem mesmo qualquer ruído que seja. Por que seria impossível. Sinto-me como os gerânios de Caio Fernando Abreu. Adormecidos, parados, observam e não sentem mais coisa alguma.
Espero que entendas. Já que não acerto mais seu coração, já que minhas palavras doces pra ti tão amargas e tão cruéis não surtem efeito ou indiferença, digo, entenda. Seria cruel de mais ter de desenterrar as chaves no quintal e com as mãos tremulas e com o peito palpitante e com as vestes sujas de terra abrir a casa outra vez. Me esbaldaria na vontade insana de me jogar outra vez nos teus braços, de tomar um banho, de lavar as vestes, e de te contar minhas histórias e de chorar a minha dor. Não conseguiria mais sair. Faria um café forte para nós dois e sentaria na varanda admirando o sol, ou a chuva. E se outra vez uma ruptura cruel ameaçasse a aparecer eu teria que novamente abandonar a casa, apagar o fogo na lareira, fechar as janelas, jogar fora as fotos, esquecer os cheiros, lembranças e partir. De novo. E de novo.
Não parece cruel de mais para você?
Entenda.
Annabel Laurino.