sexta-feira, 1 de março de 2013

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“E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário: por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”


Caio Fernando abreu

Over Rainbow


Alguém ai


    Olá? Será que tem alguém ai? Alguém me ouve? Alguém está lendo o que estou escrevendo? Oi, você. Como vai? Como foi o seu dia? Já te perguntaram isso hoje?
    Desculpa perguntar assim, desculpa a forma abrupta de iniciar essa conversa meio jocosa de quem não quer nada. É só que eu precisava saber se tem alguém. Sei lá, para saber. Antigamente costumava ter. Antigamente até algum tempo eu geralmente tinha. Você sabe, alguém, uma pessoa, um ser. Alguém que realmente se preocupava. Alguém que realmente lia as linhas escritas e as entrelinhas mais escondidas. Alguém que tinha o mesmo ideal de vida. Amor de verdade. Ir até o fim de tudo sem nunca desistir.
    Ah, perdoe-me novamente se te conto essas coisas, para você que talvez eu nem conheça. É que antigamente eu também tinha para quem contar essas coisas. Eu tinha com quem conversar das dores e medos do meu coração sem ser julgada sobre isso. Alguém que realmente entendia isso e não ia embora com passos largos batendo pesados nas calçadas com uma promessa de ‘talvez’.
    Sabe quando a gente simplesmente fica triste e não tem nada que dê jeito nisso? É mais ou menos isso. Eu tomei uma tristeza tão grande por tudo agora. Parece sempre que todas as coisas estão sempre distantes de mim e eu nunca vou alcança-las. Eu tinha alguém para explicar isso. Eu realmente tinha com quem olhar no olho e lamentar algumas coisas. Mas é uma tristeza esperançosa essa, eu te afirmo. É com ela que eu vou correr aos ventos.
    Sentada no chão do quarto com as meias raspando no carpete e aquela musica tocando que te faz sentir meio slow, sabe? É assim que eu estou agora.
    Fico procurando mãos fortes para me apoiar e me fazer nunca, jamais, never, desistir. Mas eu não vejo ninguém. Eu não vejo mais aquele alguém. Próximo e incrivelmente próximo e que faz qualquer coisa por você. Porque sabe que igual a você, meu caro, só correndo aos quatro cantos desse mundo procurando de céu a inferno e mesmo assim, só talvez uns vinte por cento parecida. Aquele cara que te liga mesmo quando você desliga na cara dele porque está furiosa pela falta de atenção, aquela pessoa que viajaria o mundo para encontrar a coisa mais boba que iria te fazer feliz.
    Aquela pessoa que eu não tenho mais.
    Fico redigindo um texto confuso na minha cabeça. Penso então que não tem jeito. E teria como ter? Quando as coisas deixam de ser elas realmente deixam e não há quem dê jeito nisso a não ser nós mesmos. As coisas deixaram de ser meu amigo. Me ausentei do barco por horas e olha a inundação!
    Continuo ouvindo a musica e resposta nenhuma me vem, continuo prestando a atenção no mundo a minha volta e nenhuma coisa me diz respeito mais. Só me resta viver. E eu vou viver meu caro leitor. Eu vou seguir. Eu vou com dor, com medo, com tristeza, eu vou com uma carga absurda de um peso morto que não existe mais e agora é só lembranças. Mas eu vou. Eu vou e estou indo agora. Estou partindo para o além mar e quem quiser que me acompanhe. Eu vou e não pretendo nunca mais voltar. Porque tem aquelas horas que chega de sofrer, chega de chorar, chega de pedir que entendam, que escutem, que sejam amigos e sejam verdadeiros. Chega de exigir o mínimo.
    Eu vou viver. 
    E eu espero que você, que está ai lendo tudo isso e ainda não desistiu, que vá fazer o mesmo. A vida é uma só!




Annabel Laurino