Não sei se conseguirei esperar esse algo crescer. Um desespero grande toma conta e eu, que sempre fui por natureza impaciente, não aprendi a esperar, a deixar fluir. Fico fuçando as feridas e não permito que cicatrizem, fico remexendo nos armários até que encontre qualquer coisa além de um mofo ou uma aranha, ou um chapéu velho e mofado. Minha essência é por si estranha, vivendo a caça de encontrar beleza no mais feio quadro.
Eu disse claro e em bom tom que precisava viver, tenho feito isso. Mas ao mesmo tempo a vontade é de parar por pelo menos alguns segundos e escutar o que eu própria quero dizer mas não consigo. Porque viver, ultimamente, tem sido como saltar de paraquedas em um frenesi gigante, no meio de dois milhões de festas soando alto, todas ao mesmo tempo, e bilhões de rostos ao invés de nuvens, uma multidão de cores e entoações que me dispersam. E me confundem.
Annabel Laurino