segunda-feira, 20 de agosto de 2012
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Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse — e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado — a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.
Caio Fernando Abreu
lá se vai o domingo
É, o domingo foi embora mesmo. Abandonou-me mais uma vez.
Juntou minha felicidade mais ardente e gostosa e amontoou em sua mala pesada
sem rodinhas, saindo arrastando-a pela porta. Lá se foram todos os meus planos
e desejos de final de semana. De ler muitos livros à dormir 32 horas inexistentes.
Muitas coisas planejadas e não cumpridas, mas o domingo valeu a pena, só para
constar. Teve aquele gostinho bom de acordar com a chuva fustigando na janela,
o almoço gostoso de domingo na mesa, sua mãe chamando por você, comer aquela
sobremesa cheirosa inventada na hora e que no fim acaba em sorverte com petit gateau, muito bom aliás. E Logo a ida na casa da amiga, as risadas, uma estudada
no material da semana, mais risadas, pipoca, assistir a séries de TV antigas,
conversar, depois vai ficando tarde, e mais tarde. E você volta pra casa, então
o domingo te surpreende.
Não sei a vocês,
mas meus domingos sempre parecem pequenos pedaços de bolos trufados com as
gotas de chocolate ao fundo, escondidinhas, esperando a mordida finale. E agora
que meu domingo acabou, que ele foi embora enquanto eu entrava no carro e
ligava o som, cantando aos berros ensandecidos e animados de Sunday Bloody
Sunday na voz de Sambô, batucando desajeitadamente nas pernas, ele ia indo aos
poucos. E terminou de ir quando eu gargalhava e abria os botões do short jeans
pela escapadela de uma pizza em final de domingo.
A vida é boa sabe?
É muito boa. A vida é ótima. E eu sempre acabo por entender isso nos finais dos
domingos. Quando o céu com suas nuances de nuvens parecendo uma massa suja de
glacê descolorido, as luzes da cidade, e o incerto tão incerto me esperando lá,
lá longe no final daquela curva que aponta adiante da sinaleira. Faz parecer
que a vida é uma só, entende? E que é para ser devidamente vivida, cantada,
curtida, degustada. Não sei qual é o seu jeito de morder um doce, de beber um
café, ou um chá que ama muito. Ou então sua maneira de ouvir aquela musica
predileta. Nos domingos eu fico sempre assim no fim. Vendo ele ir embora, tão
feliz e ao mesmo tempo meio down. Mas que me perdoem essa minha natureza meio nostálgica,
continuarei meu café, observando a segunda-feira chegar.
Annabel Laurino
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