sábado, 30 de março de 2013

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Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças


- Acabei de ver um filme.
- Mesmo? Interessante. Filmes são inspiradores.
- É, penso o mesmo.
- E que filme você assistiu?
- Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Já viu?
- Vi sim.
- Ah... Eu meio que chorei.
- O final é ótimo.
- Sim. E eu meio que lembrei de você enquanto assistia.
- Mesmo? E por que?
- Não sei. Eu lembrei apenas. A vida não é estranha? Sei lá. Me parece as vezes.
- E por que você diz isso?
- Porque simplesmente é. Sabe, você passa uma vida inteira sozinho e depois conhece alguém que marca todos esses seus momentos solitários, a pessoa gruda nos seus objetos ridículos de decoração, no seu lençol da cama, na sua TV e nos seus filmes, e até nas suas musicas. Depois como é para simplesmente esquecer quando tudo acaba? Para onde vão as histórias e lembranças?
- Me parece um tanto triste, de fato. Acho que não há uma solução.
- Exatamente. Fica tudo ali tão impregnado. E de repente a pessoa não ocupou só o físico e o material da sua vida, mas as suas relações, os seus amigos, sua família, ela adentrou os poros da sua vida e planos do seu futuro. Tudo.
- E você lembrou de mim porque...
- Porque vendo o filme eu lembrei daquela coisa que você disse uma vez. Aquela...
- Que tudo na vida é passageiro?
- É.
- E...?
- Mas não é. Não pode ser. Não quando é assim, quando as coisas são assim.
- Você fala de amor.
- Sim!
- Acho que o amor é uma exceção.
- Exatamente.
- Sim, ele não se aplica a essa regra.
- Eu queria um amor desses. Um amor desses que impregnasse e que marcasse de alguma forma. Eu queria um cara daqueles, sabe. Que gostasse da cor do meu cabelo, fosse azul ou laranja, e enfeitasse os seus dias com a minha presença. Que adorasse as trocas do meu humor tão invariáveis. Eu queria, eu realmente queria um amor daqueles.
- E depois você iria querer esquecê-lo. Como no filme. Não é tão louco tudo que eles fazem para se esquecer?
- Sim! Mas ai é que está. Um amor desses você não esquece. Eu poderia desejar esquecer. Mas não há como. Eles não conseguiram. E veja, eu não iria querer coisa alguma. Eu estaria sabendo, eu sei o segredo, eu iria querer ficar.
- E qual é o segredo senhorita?
- Persistência caro, persistência.
- E só isso?
- Não só isso não. Dentre outras coisas mais que te conto outra hora. 
- Mas acima de tudo...
- Sim, persistência. 



Annabel Laurino