segunda-feira, 27 de agosto de 2012

New way of life


    Te direi que entendi cada palavra sua sobre o amor. Ou o ‘amor’ que sentia, sente, por mim. Entendi cada vírgula, cada “eu te amo” gesticulado e bem disfarçado em gestos românticos, ou anti-românticos, porque também há sobre você, e quase todos nós, essa mania de sermos birrentos, camuflar emoções. E eu entendi cada peça misteriosa desse quebra cabeça, seu e de todos os caras da minha vida. Puxa foi interessante, sabe? Foi legal saber como funciona isso tudo. Só que perdeu a graça. To cansada pra valer. É isso. Pela primeira vez em toda essa minúscula vida eu estou sendo direta e falando sem rodeios em meio às palavras de que tenho uso. Cansadíssima.
    Agora aqui, sentada em cima dessa pedra fria de frente para o mar, com o caderno em mãos, o vento batendo no meu rosto, esse cheiro de maresia congelada, sal do mar, brisa salgada, esse som de crianças correndo e gritando lá longe, carros passando, caras tentando vender seu peixe, ganhar um dinheiro a mais no dia, to me sentindo tão cansada. De tudo que ia ser mas ai desengringolou e acabou não sendo. Culpa minha, sua, deles, de todos nós e nossas mentes ferradas.
    Eu sei que não sou perfeita, sei que nem sou a ‘mina gostosa’ que você e seus amigos ficam vendo as fotos no Facebook e dizendo ‘tai uma mina que eu pegava’. De longe também posso ser aquela garotinha que você conversa no chat e diz milhares de coisas furadas e que cola, sempre cola. Não estou desvalorizando a raça minha de todo dia, mas existem tipos, e não sou o tipo de menina, mulher, garota, enfim, que você está acostumado a lidar.
    Não tenho cabelos longos, não uso saia minúscula, não saio por ai dizendo que tenho um namorado e que ele me leva para sair todas as sextas, porque eu não quero um namorado, e nas sextas geralmente estou muito ocupada em meio aos meus livros ou em meio aos meus poucos amigos jogando vídeo game, salvando a princesa, escutando musica e morrendo de rir. Eu tenho mais o que fazer, e digo isso por que acho a vida muito fútil, e as pessoas muito fúteis e todo e qualquer tipo de relacionamento bobo que não exista amor, muito fútil. Tudo muito previsível e chato, as pessoas e etc. 
    E, como eu estava dizendo, aqui sentada, nessa hora da tarde, com o sol fustigando na minha cara e me dando um olá gracioso eu me sinto cansada de tudo isso, enquanto paro para pensar.
    Porque eu realmente acredito e acreditei nas pessoas, todas elas que entraram na minha vida, todas as pessoas que estenderam a mão e disseram, ‘ah eu to aqui com você’. Mas as pessoas não estão com você coisa nenhuma, elas ficam por um tempo, elas permanecem sentadas e quietinhas e te dão as réstias de carinho e atenção, até que o que elas querem é dado e elas vão embora, ou até elas perceberam que não terão nada e vão embora mesmo assim.
    Sem chance, cansei. Levanto dessa maldita pedra fria e saio caminhando pela praça, um cara meio alto, meio descabelado levanta do banco que estava deitado e sai cantando uma musica descornada sobre alguém que o deixou esperando e não chegou, e nunca mais chegou. Minha comparação com a dele é inevitável. Me sinto descabelada, sem banho, o efeito da brisa salgada, me sinto perdida, como se eu tivesse dormido em um banco qualquer dessa praça. Passo pelo chafariz e um amontoado de pombas se aglomeram em volta, saio caminhando, escutando ainda os berros gritados da melodia do velho mendigo e me sinto decidida. Sim, decidida.
    Respiro o ar, meio abatumado de penas de pombas fétidas, sal do mar, mendigo sem banho, cidade estranha, água parada do chafariz, e tomo um rumo. Um rumo, qualquer rumo, mas um rumo. Estou indisponível. A partir de agora, enquanto eu suportar. Enfim, não me procure. Esse é o novo lema da new way of life. Não me espere. Não me chame. A liberdade grita. É o único som que ouço.
     "Porque você não chegou e eu morri de dor, eu chorei, você não chegou, não se culpe, agora eu vou embora, eu tenho um novo amor. Um novo amor! Me olho no espelho, e olhe só! La está o amor!" (8)


Annabel Laurino