Te direi
que entendi cada palavra sua sobre o amor. Ou o ‘amor’ que sentia, sente, por
mim. Entendi cada vírgula, cada “eu te amo” gesticulado e bem disfarçado em
gestos românticos, ou anti-românticos, porque também há sobre você, e quase
todos nós, essa mania de sermos birrentos, camuflar emoções. E eu entendi cada
peça misteriosa desse quebra cabeça, seu e de todos os caras da minha vida.
Puxa foi interessante, sabe? Foi legal saber como funciona isso tudo. Só que perdeu a graça. To
cansada pra valer. É isso. Pela primeira vez em toda essa minúscula vida eu
estou sendo direta e falando sem rodeios em meio às palavras de que tenho uso.
Cansadíssima.
Agora aqui, sentada em cima dessa pedra
fria de frente para o mar, com o caderno em mãos, o vento batendo no meu
rosto, esse cheiro de maresia congelada, sal do mar, brisa salgada, esse som de
crianças correndo e gritando lá longe, carros passando, caras tentando vender
seu peixe, ganhar um dinheiro a mais no dia, to me sentindo tão cansada. De tudo
que ia ser mas ai desengringolou e acabou não sendo. Culpa minha, sua, deles,
de todos nós e nossas mentes ferradas.
Eu
sei que não sou perfeita, sei que nem sou a ‘mina gostosa’ que você e seus
amigos ficam vendo as fotos no Facebook e dizendo ‘tai uma mina que eu pegava’.
De longe também posso ser aquela garotinha que você conversa no chat e diz
milhares de coisas furadas e que cola, sempre cola. Não estou desvalorizando a
raça minha de todo dia, mas existem tipos, e não sou o tipo de menina, mulher,
garota, enfim, que você está acostumado a lidar.
Não tenho cabelos
longos, não uso saia minúscula, não saio por ai dizendo que tenho um namorado e
que ele me leva para sair todas as sextas, porque eu não quero um namorado, e
nas sextas geralmente estou muito ocupada em meio aos meus livros ou em meio
aos meus poucos amigos jogando vídeo game, salvando a princesa, escutando
musica e morrendo de rir. Eu tenho mais o que fazer, e digo isso por que acho a
vida muito fútil, e as pessoas muito fúteis e todo e qualquer tipo de
relacionamento bobo que não exista amor, muito fútil. Tudo muito previsível e chato, as pessoas e etc.
E, como eu estava
dizendo, aqui sentada, nessa hora da tarde, com o sol fustigando na minha cara
e me dando um olá gracioso eu me sinto cansada de tudo isso, enquanto paro para
pensar.
Porque eu
realmente acredito e acreditei nas pessoas, todas elas que entraram na minha
vida, todas as pessoas que estenderam a mão e disseram, ‘ah eu to aqui com você’.
Mas as pessoas não estão com você coisa nenhuma, elas ficam por um tempo, elas
permanecem sentadas e quietinhas e te dão as réstias de carinho e atenção, até
que o que elas querem é dado e elas vão embora, ou até elas perceberam que não
terão nada e vão embora mesmo assim.
Sem chance,
cansei. Levanto dessa maldita pedra fria e saio caminhando pela praça, um cara
meio alto, meio descabelado levanta do banco que estava deitado e sai cantando
uma musica descornada sobre alguém que o deixou esperando e não chegou, e nunca
mais chegou. Minha comparação com a dele é inevitável. Me sinto descabelada,
sem banho, o efeito da brisa salgada, me sinto perdida, como se eu tivesse
dormido em um banco qualquer dessa praça. Passo pelo chafariz e um amontoado de
pombas se aglomeram em volta, saio caminhando, escutando ainda os berros
gritados da melodia do velho mendigo e me sinto decidida. Sim, decidida.
Respiro o ar,
meio abatumado de penas de pombas fétidas, sal do mar, mendigo sem banho,
cidade estranha, água parada do chafariz, e tomo um rumo. Um rumo, qualquer
rumo, mas um rumo. Estou indisponível. A partir de agora, enquanto eu suportar.
Enfim, não me procure. Esse é o novo lema da new way of life. Não me espere.
Não me chame. A liberdade grita. É o único som que ouço.
"Porque
você não chegou e eu morri de dor, eu chorei, você não chegou, não se culpe,
agora eu vou embora, eu tenho um novo amor. Um novo amor! Me olho no espelho, e
olhe só! La está o amor!" (8)
Annabel Laurino