sexta-feira, 18 de março de 2011

Repartir

    Tudo que eu queria agora, nesse exato momento, como um desejo momentâneo que eu bem sei que pode durar, dias, meses, anos... Era repartir. Sim, dividir algo. Com alguém.
    Como repartir uma barra de chocolates. A cama. O lado pequeno o qual seu corpo assenta. O oxigênio envolto de seu ser. Repartir um segundo em milhões de pedaços. Dividir as cores de um olhar em milhares de lembranças que ficarão, quem sabe, para sempre em mim. Procurar em outros dentes, que já não importam foscos ou brilhantes, retos ou discretos. Procurar um significado alheio que lhe faça, querer simplesmente repartir. Quem sabe até repartir você mesmo ao meio e doar. Se doar.
    E nisso, em uma sede insana que já não me cessa mais, queria poder dividir. Dividir tudo em mim, dar todos os pesos e as cargas e dividi-las. Receber as outras dores desse outro alguém também, ficaria tudo tão... Estável. Suas dores com as minhas dores e então, estaríamos igualmente bem repartidos. Queria dividir as tarefas da escola. O jantar. A tarefa de cumprir os horários, as reclamações dos dias. E os pensamentos alheios que me engolem. Queria... queria simplesmente, sem mais delongas, repartir por repartir, no simples ato de estar por estar, sem significado algum, sem motivo algum, mas repartir por precisar. Necessitar.



Annabel Laurino.