Estou escrevendo isso
não por obrigação, mas pelo que parece eu não consigo pensar em outra coisa que
não seja, bem, em você.
É verdade, não
fique surpreso. Não faça essa cara de bobo como se recém descobrisse que o
assoalho da sala é verde limão. Estou falando sério. Mais sério do que nunca, e
isso é grave. Não estou acostumada em ser direta em assuntos... Bem, delicados?
É, delicados. Não estou acostumada. E isso, sugiro assim, dói um tanto como certo
tipo de incomodo necessário, quando a gente sabe que tem que tomar uma injeção
para ficar curado mais rápido e que logo quando toma, passa, e vem o alivio e a
cura.
Tudo isso que
estou escrevendo virá a ser uma espécie de cura.
Acredite, eu
estou tão mais surpresa que você.
Por que eu estou
escrevendo? Eu não sei. Difícil dizer. O problema mesmo é que sempre quando
falo, quando olho nos seus olhos tocando nesses assuntos tão... Novamente delicados,
eu fico nervosa, gaguejo, olho para os lados e procuro direções completamente
opostas do que eu realmente queria dizer.
Você precisa
acreditar em mim, tudo isso é um baque fechado para mim, e pode ser que venha a
ser para você também.
Li uma vez,
Pequeno Príncipe, se você quer saber, “Tu te tornas eternamente responsável por
aquilo que cativas”, dizendo isso uma raposa.
Eu sou a raposa
e digo isso a você. Você é responsável pelo que fez em mim. E digo, eternamente
responsável.
Você me cativou surpreendemente
fácil e sem dor. Como conseguisses? Não compreendo nem mesmo agora, depois de
ter pensado para só então dar partida nessa estonteante escrita. Mas sugiro que
devem ter sido seus gestos cavalheirescos, suas atenções dadas ao que eu dizia,
seu carinho, seu amor, sua forma doce, protetora, prestativa, gentil, me
acolhendo, me dando forças.
Você me conquistou
nos detalhes e nem percebeu, acho que passou batido não sei. Toda vez que olho
para o futuro eu consigo lhe ver nele facilmente, lucidamente, fácil, sereno,
quero levar você para todos os anos da minha vida. Quero estar do seu lado
quando meus livros forem publicados, quero poder escrever histórias de
personagens incríveis e neles usar suas piadas, quero me inspirar, sugar você,
quero você e isso é uma coisa que me atordoa.
Quero que você
esteja aqui em todos os dias de inverno, e quero cuidar de você, mudar você de
uma forma que no fundo já és, mas que me deixes aprofundar nesse gesso duro que
criasses em volta de si, completamente desnecessário, ao longo dos anos. Eu só
quero, sarar suas feridas, quero ser seu bem, quero sem pretensão de rótulos,
poder estar, simplesmente, estar com você, em você.
Você compreende?
O problema, que
não é novidade, é que tenho muito medo de tudo. Talvez um medo aterrorizante do
amor que você sente por mim, e tenho medo de mim, e da minha capacidade insana
de fugir quando as coisas ficam sérias. Eu sou lupina, não gosto, mas sou.
Chamo-me assim, por gentil. Só por isso. Mas falo sério, tenho medo. Desse medo
que me arrasta no incerto, me prende e quase me sinto sufocar, tenho medo de
perder o fio da coisa, de ser deixada, de você me deixar, de sei lá, estragar
tudo, tenho medo de como pode ser.
Tenho medo de me
machucar.
E olho para
você, se machucando esse tempo todo por mim. Minha nossa, como você consegue?
Eu sou tola,
evasiva e fria.
Como pode?
Não consigo
entender.
Sinto muitíssimo,
a coisa toda termina logo nas linhas adiantes eu quase nem tenho muito mais o
que escrever por que simplesmente me deu uma sede de te encontrar e dizer tudo
cara a cara.
Então acho que
vou encerrar por aqui, beber mais café e ver se você me liga daqui a pouco, vou
sentar na cama e terminar de ler aquele romance que estou lendo, vou lembrar de
você no decorrer das páginas e vou pensar se estou bem certa disso. Não terei
respostas, quase nunca temos. É impossível ter. Mas é isso, eu precisava disso,
eu precisava escrever sobre isso, e isso. Eu só precisava. Sei que você
entende.
Você sempre me
entende.
Annabel Laurino.