quarta-feira, 27 de julho de 2011

Tempo. No tempo. Do momento. No sentir...

    Tudo ultimamente tem parecido meio louco. Não sei se o relógio me engana, mas as horas voam, passam rapidamente, dispersas ao meu olhar. Queria que o tempo parasse um pouco e me desse um segundo a mais, só para poder digerir a idéia da nova correria, das novidades dos dias, dos sentimentos.
    Eu não sei como dizer, mas sustento dentro de mim, mesmo que por fora não aparente, uma estranha vontade de ser cuidada. E isso pode nada ter haver com a minha estranha necessidade de que o tempo parasse.
    Às vezes, depois das loucuras do dia, no descanso da noite, trancada no quarto, a porta fechada, as luzes apagadas, me pego escutando musicas que prometem um abraço, um carinho, um amor. E no meio do escuro, meus olhos fechados agradecem por ninguém ver o que peço silenciosamente... Não peço uma, nem duas vezes de um dia normal, com alguém normal que possa apenas servir para satisfazer um vazio carnal eletrizante e gritante dentro de mim, ou que possa apenas matar essa sede escapista de ter com que repartir um pedaço da vida, da dor, do amor. Apenas, peço humildemente, ao tempo, no silêncio, um segundo para tudo parar e que nesse pequeno intervalo de tempo, eu posso sentir a aproximação eterna e tão desejada de alguém especial chegar. Quero que o tempo pare para me deixar sentir. Sentir alguém, esse alguém especial, me tomar em seus braços e dizer que sempre me quis, mesmo quando o tempo, no escuro do tempo, na velocidade do vento, não podia me ver.
    Não sonho em sonhos perfeitos, em perfeições físicas, ou mentais. Nada é pronto, nada é perfeito, nada é completamente lindo ou surreal. Não peço nada assim, nem sonho assim.
    É apenas um clamor cálido, daqueles que se faz quando se está só, quando se pode pensar melhor, quando se pode ouvir atentamente as batidas da musica que agora já não mais soam de seus fones de ouvido, mas de lá dentro, do seu coração. Você pode ouvi-las atentamente agora, na percepção do escuro, na falta de luz, sua mente trabalha compassadamente junto a pureza de seu coração. E você sente-se fechando os olhos, é uma batida bonita, sincronizada, não há bem um som, mas é o seu som, é bonito, é real. Você pede, a ultima coisa que pode pedir, para que um dia não seja a única a ouvir esse som. Esse belo e verdadeiro som da vida. Esse real e surreal clamor de... Sentir.


Annabel Laurino.



Ainda sou... Ainda serei... Uma eterna garotinha...

    Quando ficamos velhos, ou melhor, cada vez mais que ficamos velhos, temos a exagerada tendência a ser incrivelmente chatos sem perceber.
    Coisas que antes nos faziam rir e apertar a barriga em meio a gargalhadas e choros de risos, com o tempo passa a ser substituído por um união de sobrancelhas enrugadas, olhos apertados, resmungos exagerados...
    O abraço da mãe na frente dos amigos nos deixa irritadiços e sem jeito, o aperto nas bochechas da sua tia avó torna-se insuportável, as gargalhadas de seu primo mais novo no cinema por que achou a cena engraçada é no mínimo irritante, a guerra de bolhas de sabão é insignificante, as garotinhas convidando-a a brincar de cartas é irrelevante, seu tio coruja tentando paparicá-la como se ainda tive cinco anos de idade é idiota, suas amigas fazendo guerras de travesseiro é besta, e sua mãe querendo contar suas histórias de criança é... chato.
    Por quê? Por que temos essa tendência de sermos incrivelmente chatos conforme vamos crescendo? Por que não podemos rir sempre? Por que não podemos estarmos felizes sempre? E, pior ainda, por que as coisas de crianças que um dia fora nosso presente agora tende a ser uma coisa tão incrivelmente esquecida?  Como se nunca tivesse existido.
    Não entendo isso. Ainda sou uma eterna criança exagerada. Tudo bem que às vezes por baixo de meus óculos de grau e de meus livros chatos eu pareça uma nerd ambulante extrapolada de estranha e sem um pingo de risos. Mas me faça rir. Eu adoro.
    Vamos motivar mais isso. Rir mais. Brincar mais. O que tem de errado nisso? A vida não foi feita para ser levada tão a sério assim. É importante conversar, trocar idéias, entender o que se passa no dia-a-dia, falar sobre questões mundiais exageradamente importantes.
    Mas é mais importante ainda viver. Rir, pular, sorrir, gargalhar. Saber rir das coisas pequenas, saber manejar as situações infantis e relembrar os velhos tempos.
    Sentada na grama seca, brincando de bonecas a tarde inteira, comendo sorvete direto do pote, fazendo biscoitos e sujando a cozinha de farinha, pregando peças nos avós, inventando histórias, inventando brincadeiras.
    Ainda guardarei meus velhos tempos, ainda lembrarei de quando ria sem motivo, de quando me esquecia do mundo, e de quando inventava um só para mim. Ainda caminharei de pés descalços sobre a grama fria, ainda sujarei a roupa, farei bagunça, ainda andarei descabelada se bem me convir, ainda comerei sorvete do pote, andarei de balanço, correrei no parque, ainda tirarei fotos doidas que ninguém precisa ver, ainda rirei tanto que chorarei, e cantarei tão alto que meus pulmões protestarão.
    Não é necessário agir como criança. Mas aquela que existiu um dia, não precisa ser apagada completamente de mim.



Annabel Laurino.



Gosto de como... Meu corpo...

    Gosto de como a sutileza de um bocado doce de ternura beirando a inocência às vezes se apoderam de mim. Gosto do tom da minha voz, da minha risada em escalas, meio ponderada, meio casual, meio arrastada, meio sensual. Às vezes como um ponto, gritante ela afina, e depois se espicha meio como uma calda espiralando no ar. Gosto do gosto adjacente da sabedoria afiada que arde na ponta da minha língua quente, das palavras em meus olhos, iluminando a alma, aquecendo a mente. Gosto das feições costumeiras de meu rosto brando. Gosto da minha pele, febril e macia. Do brilho do sol invernal repousando calidamente sobre meu corpo. Gosto de como esse mesmo sol fica dourando os pelos de meus braços nus, iluminando e recaindo sobre minhas pestanas negras. Gosto de como meu corpo se acentua sob um vestido negro, e que eu, ao todo muito branca, pareço assim, meio faminta, meio felina, meio brutal.
    E por fim, gosto do meu corpo. Gosto do que ele faz. De como ele faz.


Annabel Laurino.



Dias Anormais

    Hoje é um daqueles dias anormais. Prefiro chamá-lo assim, por que anormal é a única palavra que consigo descrever dias como estes.
    Meio cinzentos. Começam de uma forma doida. Você desperta de um sonho maluco que mesmo depois de acordada você fica relembrando-o, deixando que as lembranças do sonho perfurem na sua mente com um sentimento de agonia. O que ele quis dizer?
    Depois os invariáveis e sucessivos acontecimentos que correm diante da mudança das conotações de cores do dia são repetitivos, e anormais. Acontecem como qualquer outro dia, você faz praticamente as mesmas coisas. Porém seu corpo está pesado, sua mente é um turbilhão, suas mãos tremem e sua boca é um poço de ressequidão. Dias em que nada é explicado. Dias em que parece um ponto no meio de mais tantas vírgulas, você não sabe o que se sucede depois, você não sabe nada. As coisas que vem acontecendo ultimamente são inesperadas, os sentimentos cálidos que lhe preenchem são surpresos, como bolinhas explosivas explodindo dentro de você.
    Estou tentando manter a calma em dias anormais, estou tentando ser indiferente, agir como se nada estivesse acontecendo. Mas é complicado. Me encontro em um emaranhado de fragmentos circunspectos que são essenciais no dia, na vida e não posso fugir. Não posso fugir desses sentimentos que me golpeiam, que me perfuram até mesmo nos dias normais, que se tornam anormais.
    Vou ter que aprender. Vou ter que entender isso. Em cima da dor, e da reentrância de um sentimento remotamente só e vazio, vou ter que me virar. Vou ter que começar a encarar.
    Até mesmo nesses dias... Dias anormais.


   Annabel Laurino