sábado, 22 de outubro de 2011

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"Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento historinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga."

    Caio Fernando Abreu.

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    Não sei por que estou chorando. De repente bateu uma tristeza tão grande. Como uma coberta quente e pesada, jogou-se sobre mim. Não pude negar, na verdade nem tive tempo. Só comecei a chorar, e chorei e chorei. Por tudo talvez, por saber que não volta mais, por saber que tudo mudou. Que de alguma forma eu mudei, e não sei se gosto de como estou agora, de como as coisas estão. Agora que vejo o quebra-cabeça montado a minha frente, concluo que não me agrado do que eu vejo. Não gosto nem mesmo do que vejo quando me olho no espelho. Da proporção do brilho desses olhos de ressaca, olhos amargos, não gosto de como olham pra mim. Choro, por que sinto sua falta, e sinto falta de um carinho, um colo que ninguém da, um abraço que ninguém dispõe a estender seus braços e me envolver. Choro por que penso que preciso ser amada, mesmo quando eu menos mereça, por que é assim que deve ser, ser amada quando eu for uma idiota, uma burra, por que eu sou humana, eu erro também. Foi assim que sempre te amei, aceitando seus erros. E por que não agora comigo também? Seria isso uma resposta? Você não me ama? Choro. Engulo a verdade e choro ainda mais. Ta sendo um dia difícil, um dia que podia ter sido bom, fácil, calmo, assim podia ter sido, mas se tornou terrível, está quase que sendo... Péssimo, algo assim.

Annabel Laurino.

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    Hoje eu não quero falar com ninguém. Quero ficar aqui, quieta e só. Ultimamente é muita gente falando comigo, pedindo atenção, pedindo o calor do meu corpo, o riso dos meus lábios, se não o gosto deles, e até meus sentimentos. Querem que como um pedaço de pão eu reparta a mim e saia por ai me doando, me despedaçando em flancos pedaços e depois ficando com o que mesmo? Dedos trabalhando sobre um teclado. Não quero ver ninguém. As pessoas me cansam. São elas o grande motivos de minhas consternações. Sou sempre muito forte, sempre sirvo como fonte de escape e quando acho que encontrei alguém forte pelo meio do caminho, alguém que seria tão capaz de me amar como ninguém mais e tão capaz de lutar por mim, ela arranca meus pedaços, me cobre de duvidas, de decepções e parte, vai embora, não deixa nada, a não ser memórias. Que eu vou tilintando com a ponta dos dedos sobre o teclado frio. Mas esta tudo bem. Eu só não quero ver ninguém. Não quero olhar fundo nos olhos de ninguém e nem ser tocada, por favor, repito, não me toque. Não quero ninguém olhando para mim também, por favor, não me repare. Finja que só estou aqui, que passo como um vento ameno de um canto a outro do quarto, mas não me observe, não guarde nada, não se interesse por mim, não tente me ter, não tente gostar das minhas imperfeições detalhes, não ache meu cabelo legal, não goste do meu visual e nem das minhas roupas, não goste de mim, pronto. Simplesmente não vá com a minha cara. Me deixe ir, não me toque, não me puxe, não me veja, me deixe inteira. Não quero ver ninguém.

Annabel Laurino.