terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Algo.

     Hoje não vi nada em especial... Nada que pudesse... Espere!
    Oh, sim! Sim!
    Eu vi algo!
    Algo subindo a elevação de cores e de sabores que se enchiam dos meus lábios até aos lugares mais alheios de mim. Meu olfato, minha audição.
    E subia e subia. Como se estivesse sendo comando por um maestro que cheio de suas consternações, dos mais profundos e sórdidos desejos, conduzia o algo.
    Oh! Algo cheio para se ser visto, ouvido, cheirado e ainda saboreado.
    Gostos e gostos.
    Uma explosão de sensações na ponta de minha língua.
    Doce e amargo!
    Que crueldade deliciosa de uma mentira mal contada, mal profanada no encontro firme do osso que se move no beijar.
    Cheio de texturas. Ásperas e lisas. Sedosas e macias.
    Conduzindo pelo corpo.
    Conduzindo num caminho incerto da alma.
    Você vê sem nada ver.
    Você sabe sem nada saber.
    Saber e saber. Nada impede de entender.
    Oh como me encanto. É como notas de piano. Fortes, mais fortes, mais fortes, soando precisas, raivosas, subindo no ar. Tragando o silêncio, tragando a doce e breve inocência.
    Oh sim!
    Hoje, de fato eu vi algo.
    Vi você.
    Em um sonho. Apenas em um sonho.
    Real, por que não, real?
    Você esteve aqui afinal.



Annabel Laurino.