quarta-feira, 29 de maio de 2013

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"Tenho muita coisa aqui pra te oferecer, mas sabe o que é? Sou incompleto, também preciso receber."


Caio Fernando Abreu 

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Não consigo olhar no fundo dos seus olhos
E enxergar as coisas que me deixam no ar, me deixam no ar
As várias fases, estações que me levam com o vento
E o pensamento bem devagar

Outra vez, eu tive que fugir
Eu tive que correr, pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar

Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A conseqüência do destino é o amor, pra sempre vou te amar

Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar



(De janeiro a Janeiro)


segunda-feira, 27 de maio de 2013

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“A gente escuta um Beatles enquanto você desenha corações deitado na cama e eu escrevo “oh, you don’t realize how much I need you.” E nesses dias em que eu me sinto só, é só pensar que em algum lugar você deve estar pensando em mim. E nesses dias em que a gente briga, fica tudo meio cinza. E nos dias em que a gente faz as pazes, eu deito do seu lado e canto no seu ouvido “oh, I could never really live without you.”


Caio Fernando Abreu


domingo, 26 de maio de 2013

Autumm and Spring

    Tudo no mundo pode ser alterado muito bem sem a minha ajuda. Tudo pode entrar e sair de um ciclo sem que haja influência minha. Tudo é contornável e as ações são reações de fatos já existentes na atmosfera terrestre. Tudo existe por alguma razão e tudo deixa de ser por algum motivo. Sem a minha ajuda.
    As coisas fluem. A vida é fluido das veias do tempo. Tudo acontece em questão de segundos. E é só preciso um segundo para que tudo deixe de existir.
    Eu vi o tempo brincar na gangorra com o amor. Eu vi muitas coisas. As pessoas indo e vindo e eu ficando sentada no mesmo banco da estação enquanto o trem nunca vinha. Eu vi o sol renascer inúmeras vezes e contei gotas de chuva escorrendo frias pela janela de um quarto.
    Conheci o que é saber deixar ir e deixar ser e let it be, let it be.
    Foi difícil, difícil como ensinar para uma criança que ela não pode sonhar com super heróis, papai noel, princesas e castelos com dragões imensos. Veio da minha essência acreditar em tudo, não querer me despedir daquilo que eu amo, não querer deixar passar.
    Mas uma hora dessas a gente vai aprendendo com os socos que a gente ganha e uma dessas a gente aprende a ficarmos quietos e distantes. Respira irmão, respira. Deixa estar.
    Não me entristeci mais por ver muita gente indo embora e deixando de gostar de mim pelo o que eu realmente sou. Não me entristeci porque aprendi que quem te ama de verdade segura tua mão até o fim e nunca vai deixar de te amar por qualquer coisa como uma avalanche deslanchando ou um temporalzinho de verão. Então eu só fiquei quieta e deixei que eles fossem, deixei que não gostassem mais de mim, deixei. 
    Alguns erros foram desnecessários, outros sobretudo em vão. Mas eu aprendi com eles, aprendi até mesmo a nunca mais comete-los. Foi o que restou para pensar nas noites sem o sono vir. 
    Sonhos eu tenho alguns, desejos eu tenho sempre. Mas não te contarei todos. Te direi apenas que me faz falta alguém por aqui, alguém firme e estável, espalhando flocos de luz e me deixando provar uma réstia de gosto bom do que é compartilhar a vida e dividir momentos, segredos, coisas assim. Ouvir e contar histórias. Ser e dar o bem. 
    Não, eu não chorei mais. De vez em quando somente, quando vejo algo bonito, eu choro. Algo que me emocione a alma. Um casal feliz, uma família bonita, um filme romântico, uma musica, um cheiro, uma lembrança e alguns momentos introspectivos. 
    É mentira quando eu disse que continuava a mesma. Não continuo. Na vida tudo flui, como disse Heráclito, tudo é ciclo. Eu sou um ciclo pensante e que me altero conforme as conotações da vida. Tive que mudar, foi preciso. Mas não vi e nem sei quando me ocorreu essa mudança, quando foi que me dei por mim mudada. Aconteceu como acontece de uma árvore perder suas folhas secas e depois em outra estação estar cheia delas, lindas e verdes. Não sei qual das árvores eu sou agora, a seca ou a exuberante árvore primaveral. 
    As vezes penso que sou a seca, com meus ramos desnudos sobre um sol de inverno, esperando o cantar dos pássaros, o calor da estação próxima, e então eu poderei me encher de ramos e folhas e me cobrir de luz, novamente. 
    Tudo flui, e fluirá uma hora de eu ser outra coisa além dessa e de novamente não estar mais como era antes. 
    Perdendo folhas secas ao vento, ganhando novas quando a próxima estação chegar.




Annabel Laurino

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Sou apaixonado por abraços. Não resisto a segurança de abraços fortes, sinceros que me envolvem.


Caio Fernando Abreu 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

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“Agora já passou. Não sinto raiva, não sinto nada. Sinto saudade, de vez em quando. Quando penso que podia ter sido diferente.”


Caio Fernando Abreu em Onde Andará Dulce Veiga?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

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“Então, minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus.”

O fabuloso destino de Amélie Poulain

domingo, 19 de maio de 2013

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    “A praia estava cheia de um vento bom, de uma liberdade. E eu estava só. E naqueles momentos não precisava de ninguém. Preciso aprender a não precisar de ninguém. É difícil, porque preciso repartir com alguém o que sinto. O mar estava calmo. Eu também. Mas à espreita, em suspeita. Como se essa calma não pudesse durar. Algo está sempre por acontecer. O imprevisto me fascina.” 



Clarice Lispector

sexta-feira, 17 de maio de 2013

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[...]
– Eu acho que você estava sem medo de me perder. E se você não tem medo de perder é porque não tem importância.
– Só sei que estou sentindo o medo agora.
– É tarde para isso. Acorda, cara. O sonho acabou
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Gabito Nunes 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

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(A Cor Púrpura)

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"Eu sei que ela me perdoa, assim como eu a perdoo. As últimas palavras de Thomas Edson foram: “O outro lado é muito bonito.” Eu não sei onde fica o outro lado, mas acredito que seja em algum lugar e espero que seja bonito."



(Quem é você, Alaska? - John Green)

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“E se disserem que o amor enfraquece com o tempo, diga a eles que o tempo não existe.”

 Jack Jahnson

terça-feira, 14 de maio de 2013

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"- Você tem amigos, George?
 ...
 - Eu sou um Misantropo. Não por opção. É um fato."



The Art of Getting By

segunda-feira, 13 de maio de 2013

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"Mas eu não posso reclamar. É, não posso reclamar. Mas eu queria reclamar, conversar, entender, decidir. Ou então gritar, berrar, rugir, enlouquecer até você verbalizar uma improbabilidade tal como “garota, cala essa boca lotada de marimbondos e pequenas palavras mal escolhidas e vê se escuta isso: eu amo você demais."

 Gabito Nunes

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00:00

    Nunca me disseram que isso um dia iria acontecer. Não foi essa a resposta que me deram quando eu perguntei como era a vida de um adulto depois que você cresce e fica tão alto a ponto de alcançar as nuvens. Eles só riram de mim e disseram que você não pode alcançar as nuvens mesmo sendo um adulto, você só fica grande, só isso. E que eu não poderia ser tudo aquilo que eu queria, astronauta, médica, professora, chef de cozinha e estilista de moda. Eles me deram tapinhas nas minhas costas e disseram que um dia eu iria entender, que eu não precisava me preocupar.
    Ninguém se quer se deu ao trabalho de me precaver de que a vida era mil vezes mais complicada do que eu supos quando era criança. O quanto é ruim sentir saudade de algo que não é mais seu brinquedo favorito e isso doer de uma forma difícil de fazer passar. O quanto relações são complicadas e que você não pode confiar em ninguém tão fácil assim, que haverá pessoas que por mais boas e genuínas que pareçam brincarão com seu coração.
    Mas tudo bem, acho que fazia parte de todo aquele fairytale que nos criam e vem acompanhado de papai noel, coelhinho da páscoa e fada do dente. Fazia parte e eu achava o máximo isso.
    Só que tudo aquilo acabou e agora é tudo tão diferente. Nem mesmo os adultos parecem mais saber como agirem com suas próprias vidas e me olham enviesado como se me perguntassem "que foi, pensou que a vida vinha com manual de instruções?". E eu sei que não vem, agora eu sei. Nesse momento presente eu entendo tudo e compreendo melhor do que ninguém, porque aprendi a não julgar mais e isso tem feito bem, chega um momento que você simplesmente aceita muito melhor as coisas tais como elas são, isso não faz de você alguém acomodado, só te mantém com os pés mais próximos do chão.
    O que é uma ironia vindo de alguém que acreditava poder crescer e alcançar as nuvens. Bem, eis uma novidade, eu não posso. 
    Mas não vá pensando que eu desisti. Esses meus silêncios e minha humildade toda de ver as coisas é porque tenho tentado ser uma pessoa melhor, de dentro para fora. Essa é a regra. Eu tenho tentado de verdade alcançar o meu Santo Graal de todos os dias e ser alguém cujo eu realmente me orgulhe quando eu for dormir a noite. Não desisti dos meus sonhos, é mentira quando eu disse que sim, que havia. Ao mesmo tempo que é verdade que isso não seja nem possível a não ser quando você já não estiver mais aqui e tudo ter se tornado pó e mais pó. Sonhos não morrem meu caro, eles só adormecem por um tempo. Que bom.
    Alguns eu coloquei para dormir e outros eu mantenho bem acordados que é para que eu me lembre deles todos dias, são eles a minha inspiração de acordar e seguir em frente, em frente porque esse é o rumo certo. É em frente que se vai.
    Não sou mais aquela pessoa egoísta de antes, eu admito sim muitos dos meus erros e coisas cometidas e falhas que deixei para trás. Quem nunca os cometeu? É por isso que eu me redimi de todas as coisas que aconteceram, e depois que eu passei por aquela fase toda escura e cheia de pensamentos ruins eu decidi ficar bem e me tornar alguém melhor. Isso me fez crescer. 
    É quase meia noite, sabe. Eu lembro de uma brincadeira antiga de fazer um pedido sempre quando o relógio marcasse meia noite em ponto. Eu lembro de fazer isso com alguém e disser baixinho "feche os olhos, faça um pedido, rápido" e então nós pedíamos algo, sei lá, desejávamos dentro de nós mesmos qualquer coisa. Não é bem que acreditávamos naquilo, mas era bom de repente ter algo que confortasse, e depois de desejarmos em silêncio, abríamos os olhos e sorriamos. Era bom.
    Hoje eu fechei os olhos, meia noite, fiz um desejo e os cílios quase se colaram quando eu pedi baixinho aquilo que o meu coração menos deixou que adormecesse. 
    Vai criança, alcance o céu, seja feliz. 
    Ah, eu não posso dizer o que eu pedi, desejos são segredos a menos que se realizem. Mas eu posso garantir que foi uma porção de coisas boas, cheias de luz e paz e eu quase pude me ver correndo com uma coroa de flores no cabelo e cantando aquela musica antiguinha sobre visitar a lua. Você sabe.
    Fly me to de moon and let me play among the stars... In other words, hold my hand. In other words, baby kiss me.





Annabel Laurino


quinta-feira, 9 de maio de 2013

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    Confusão é quando você sabe exatamente do que seu coração precisa e mesmo assim prefere ouvir os pensamentos racionais de uma mente congestionada. É quando você mata todos os sentimentos e medita no que precisa ser pensado. É quando você percebe que mesmo fazendo tudo isso e se vestindo de racionalidade, maturidade e todas as 'dades' a mais, o seu coração ainda está ali gritando pelo que precisa. Então você confuso não entende nada. No fim, tudo que é de verdade perdura. E tu sabes meu caro, coração não mente.

Annabel Laurino

I Feel Like Disappearing

    Não sei como começar isso. Não sei como dar partido nessa coisa sem pé e sem cabeça que de repente se tornou tudo. Mas que tal uma musica do Chorão, aquela que todo mundo ouve quando ta pê da vida e ao mesmo tempo quase querendo começar a agarrar um travesseiro. Você sabe.
    "Eu tentei me manter afastado, mas você me conhece, eu faço tudo errado. Tudo errado."
    Funciona bem para o momento. Eu que to tentando abandonar tudo e até eu mesma. Não sei como se faz isso ainda, eu não sei como cortar laços com esse ser que sou eu e sempre fui desde que me conheço por bicho vivo e gritante. Você sabe? Você sabe como abruptamente deixar de ser? Como se tornar qualquer coisa menos você mesmo?
    Tentei não falar a respeito, tentei não escrever a respeito, tentei se quer pensar a respeito. E quer saber? Não deu certo. Não deu certo ou eu não tentei de verdade, não sei. Só sei que é difícil cara, é difícil e tem doído muito. Agora mesmo, eu escrevo tudo isso com uma sensação dolorida no peito, e pode apostar, não é fácil.
    Não é fácil de repente você ver tudo que você acredita indo por água a baixo em questão de segundos sem ter nem se quer a chance de ser ouvida enquanto grita para que por favor não façam isso. Não é fácil ver o quanto tudo que você mais ama vai embora ou as pessoas a sua volta que você mais confia de repente te decepcionam. Não é fácil se sentir sozinho e frustrado. Sim, depois de tudo que aconteceu, essa é uma palavra que se encaixa bem para mim. "Frustrada".
    Todos os sonhos pisoteados, todas as coisas arrancadas e jogadas em qualquer lugar.
    Tentei não chorar, tentei não me sentir mal, tentei recitar frases filosóficas do tipo ' não importa o que as pessoas façam com você, importa o que você faz com isso.'. No results man. Chorei e sofri igual, na mesma medida descontrolada de alguém que gradativamente entra em crise. Simplesmente não funciona quando se trata de amar muito aquilo que você está perdendo. 
    Eu podia ter enlouquecido sabe, como antigamente. Fugindo de tudo e todos, fazendo bobagem, dormindo com a mente vazia e acordando sem saber o que aconteceu noite passada. Eu podia ter feito tudo exatamente da mesma forma do que antes e eu sei que teria funcionado, eu sei que teria dado certo depois de algum tempo de desgaste físico, emocional e perdas de valores consideráveis. 
    Acontece que eu li em algum lugar que a dor deve ser sentida. E é isso ai. Não torna nada mais fácil, acredite, mas eu penso todos os dias que se de repente eu ficar aqui quietinha aonde eu estou e só simplesmente esperar a dor sair, então quem sabe ela canse de mim e vá embora um dia. 
    Eu não ia mais escrever. Eu não ia mais contar sobre como as coisas estão ruins, eu queria falar de sol, haliantos, frio, fins de tarde, cheiro de alfazema, incensos de café, flores, paz, sorriso bonito e lusco-fusco dos dias. Mas não tem como evitar.
    É fato que quando você tende a entrar nessas crises você aceita sua passagem de primeira classe para o mundo encantado dos solitários sem vez. Primeiro porque as pessoas não gostam de gente que se queixa da vida e sofre e tem problemas e não finge o tempo todo que tudo está bem, como elas fazem. Segundo porque automaticamente eu comecei a me afastar, de tudo e todos. De repente tudo ficou tão pequeno.
    Matando sentimentos todos os dias. Matando esperança, sonhos antigos, sonhos em que eu teria alguém para me salvar disso tudo e me fazer feliz e me colocar um sorriso nos lábios que durasse mais do que alguns segundos e com quem eu viajaria para Paris, quem sabe, e quem me beijaria depois de uma briga dizendo que mesmo eu sendo uma louca total, uma drama queen escandalizada, nada nesse mundo seria suficiente para nos separar. Sonhos em que uma família não se despedaça assim, desse jeito, em que eu chegaria em casa e teria um abraço fraterno para deitar o rosto no ombro e dizer como foi meu dia. Sonhos assim, simples e que fazem falta quando você pensa que são só a base de felicidade e amor. Quem nesse mundo não quer isso? Me diz quem. Paz e amor.
    Dói muito desacreditar de tudo. Dói muito simplesmente ir dormir com a certeza de que nada mais é esperado. Tudo foi por água a baixo meu caro, eles mataram os meus sonhos. 
    Sim, eu tentei me manter afastada, eu tentei fazer com que ninguém soubesse disso. Eu ainda tento. Todos os dias eu passo minha maquiagem de superficialidade e finjo que está tudo bem, que eu sou feliz, que eu sou incrivelmente feliz e nada me faz falta. É isso que todos fazem e eles nem se quer desconfiam porque estão ocupados de mais fingindo também para notarem na minha atuação fajuta e descarada.
    Mas depois que a farsa termina eu ainda sou eu mesma novamente, sozinha no meu quarto, ruminando minha tristeza dolorida e sentindo esse gosto amargo de se estar só e incrivelmente só, acompanhada sempre da sensação de susto, enquanto a queda é longa e nenhuma mão venha sacudir meu corpo e me acordar desse sonho confuso, me alertando que o café da manhã está servido e um novo dia começa. Uma vida nova. Um novo eu e um novo tudo.
    Enquanto isso, continuo em queda. 
    Like disappearing. 


Annabel Laurino




terça-feira, 7 de maio de 2013

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 DESATIVADO
Por tempo indeterminado.
Causas: Confusão mental e desordens particulares.

domingo, 5 de maio de 2013

Des-espera

    Não esperar nada, de ninguém. Isso tem ajudado tanto, feito tanta diferença ultimamente. Cargas mais leves e fluidos melhores. Sem pesos que não se consiga suportar, e agora todos os pesos são somente meus. De mais ninguém. As mãos continuam quentinhas e quietinhas dentro dos bolsos sem manifestar qualquer gesto adiante para carregar as malas pesadas de alguém.   
    E não é isso o que todos sempre pedem? "Não cuide de mim, eu me viro sozinho, você não pode resolver tudo por mim...". Segui o conselhos elementares meu caro. E agora, egoismo ou não, eu sigo em frente sem olhar para os lados, por que é isso que todos querem. Que você não se intrometa, que você não tente cuida-los. Acho que todos nós no fundo queremos seguir com as nossas próprias ideologias para algum lugar qualquer, mesmo que um lugar de nada, a gente não quer ninguém na nossa cola dizendo o que devemos ou não fazer. E tanto faz na verdade. Fico apática a qualquer coisa, qualquer movimento muito próximo.
     Não vou mentir. As vezes queria tantas coisas, tantas atitudes das pessoas, que nunca vêem. Queria tanto que alguém um dia dedicasse uma musica em meu nome, ou que escrevesse sobre mim. Queria tanto ver uma dessas coisas assim, alguém se esforçando por mim, jogando todos seus medos, seus traumas, suas falhas, seus vazios, mudando, escalando montanhas, só para estar perto e então ficar.
    Faz parecer que se pede um milagre, quando tudo que eu peço na verdade são as mesmas coisas que doou desproporcionalmente. E fico só. Sempre só, esperando.
    Foi dai então a ideia de virar um cactus gigante e verde, e cheio de apatia e indiferença e não esperar nada e nem mesmo mais contar os dias. Não revolucionou grandes diferenças, as coisas continuam a não chegar, mas dói menos. Quase nem sinto nada. É mais fácil.



Annabel Laurino





Texto escrito 22 de julho de 2012

sábado, 4 de maio de 2013

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    "Olhe, não fique assim, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai aguentar mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai aguentar mas aguenta as dores da vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás.Você acha que não porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traqueia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei - vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. "É melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."




Caio Fernando Abreu


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sexta-feira, 3 de maio de 2013

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 E talvez seja isso então. Talvez seja assim mesmo. Somos nós os solitários que colorimos o mundo para aqueles que sabem viver. 



Annabel Laurino

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Winter Lady

   Sei que você sabe que eu começarei falando que está chovendo lá fora e eu estou aqui novamente em mais um dia chegando ao fim junto com a rapidez que esfria o meu café preto do meu lado. Sei que você sabe exatamente o que eu penso enquanto olho para um lugar qualquer através das janelas e fico suspirando devagarzinho enquanto ouço aquela musica que fala de um ultimo beijo. 
   Eu não posso evitar. É toda essa energia que fica no ar, essa atmosfera compressora, nostálgica e etc, você sabe, aquela minha inclinação para ser poética, eu simplesmente não consigo evitar. São essas tardes que escurecem rápido, as filas nas praças para pegar o ônibus, o cheiro do café com o frio assomando lá fora e a chuva caindo fraca, as pessoas e suas roupas novas para a estação que chega. Tudo isso toca, sabe, toca que nem uma musica lenta.
   Mas eu estou tentando não ser mais nostálgica, e eu sei, é quase impossível dando-se minha natureza por si já conhecida, mas eu tenho tentado. Nos últimos dias provei de um sabor antigo e que eu nem lembrava mais, o da solidão. Pela primeira vez depois de muito tempo eu fiquei completamente só comigo mesma e você não vai acreditar, mas eu me senti feliz depois que o susto foi embora. Porque claro que teve um susto, foi como se eu fosse jogada numa piscina de água fria, de repente todas aquelas relações sendo cortadas sem quase nenhuma explicação que me confortasse. E nada e nada. Foi um susto daqueles. Dormi mal durante algumas noites e em outras eu fiquei completamente acordada tentando entender o que tinha acontecido.  
    Não que eu entenda completamente agora. Na verdade eu arrisco dizer que o entendimento de tudo isso nunca virá ao meu alcance, e acho até melhor assim, já doeu uma vez e não quero que doa novamente, então prefiro que fique um silêncio absoluto sobre isso e que o caso de-se como decretado. Você sabe, certas coisas é melhor não se saber. 
    Então depois que o drama mexicano passou, eu me acostumei, veja só. Criei em mim aquela antiga doçura de estar só consigo mesmo e gostar dessa sensação. Comecei a curtir cada segundo novo e que antes eram desperdiçados em vão, comecei a amar essa sensação renovada que não veio com sol forte e nem tempo de verão. Você sabe, eu sempre fui do contra então a minha fase renovada tem folhas secas e tempo frio com direito a chuva e cachecóis bonitos e cabelos esvoaçantes num vento gelado de final de tarde. Meu tempo renovado tem gosto de café com direito a novas descobertas que só o tempo irá dizer.
    Entendi que não valia a pena todo aquele drama, entendi que tudo passa porque tem que passar e é assim que sempre vai ser. É como eu disse, algumas coisas não servem para serem entendidas, servem apenas para você se conformar, porque é assim que é. E eu me conformei, com a falta de tudo que poderia simplesmente ter faltado, me conformei com tudo que aconteceu e deixou de ser e então morreu. Mas isso não quer dizer que foi o fim, não, para mim pelo menos não. Foi apenas o meu impulso vital do que eu chamaria de regresso de mim mesma. 
    Como se eu acabasse de fazer uma viagem longa e cansativa, meus pés ainda doem mas é realmente ótimo ter voltado para casa finalmente. Para a minha casa, que é aqui onde eu realmente estou agora, dentro de mim mesma, porque ainda não tenho um outro lar para o qual eu possa me esconder, eu ainda não encontrei a minha outra casa além de mim mesma. Mas não importa. Não importa que eu esteja absolutamente só e que meu coração simplesmente se negue a confiar novamente até mesmo na sombra de uma árvore ou num projeto de luz que se encaminhe adiante, não importa porque eu finalmente reaprendi a respirar sem tubo de oxigênio auxiliar, mesmo que seja doloroso as vezes, é necessário sobretudo.
    Regressar é sempre bom e sentir as cobertas macias da minha cama me confortam toda noite, porque mesmo com as marcas que eu fiquei depois que tudo aconteceu, eu sei que toda manhã quando o sol fustigar na minha cara desmantelada de sono será um dia a mais, um dia a mais que eu estarei esquecendo, um dia a mais que eu estarei ficando melhor, um dia a mais que tudo isso estará ficando para trás e as feridas cicatrizando. Até que um dia eu esteja realmente pronta para respirar fundo, quem sabe num inverno adiante, quem sabe nesse mesmo, com chuva ainda, e olharei para fora da janela, você saberá o que eu estarei pensando, você sempre saberá. Soltarei um suspiro, dessa vez de satisfação e pensarei com meus botões que 'sim, eu estou pronta para outra até mais adiante ou agora. Eu estou pronta.". E esse dia, você sabe, vai chegar. 





Annabel Laurino


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“Sou um ser do tipo sanguíneo que oscila muito. Tenho momentos de extrema alegria e momentos de profunda depressão. Não obedeço a uma agenda: hoje vou sentir isso, amanhã vou sentir aquilo. Reajo aos acontecimentos à medida em que o ambiente reage sobre mim. Mas como sou hipersensível, as coisas têm às vezes um valor que a maioria das pessoas acham ridículo. Mas eu sou assim mesmo. Por exemplo, às vezes fico furiosa com uma pessoa cujo problema talvez, você contornasse com um simples puxão e orelha. Ao mesmo tempo, tomei agora consciência de que essa não é uma atitude lógica e estou procurando me reestruturar.”



- Elis Regina em entrevista a Clarice Lispector

quarta-feira, 1 de maio de 2013

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"É estranho quando as coisas simplesmente têm de terminar. É o estágio onde todos os sentimentos já evoluíram para um nada. É o nada que você optou para parar de sentir dor. No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se… Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso."


Caio Fernando Abreu

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