domingo, 13 de fevereiro de 2011

E ontem á noite...

    Antes de dormir, eu estava pensando em você, não posso negar. É verdade que não era uma coisa boa. Não para mim. Talvez boa para você. Talvez... Nem faça sentindo nenhum. Tanto faça. Para você.
    Estava decidida em lhe esquecer.
    Lembro-me das palavras nítidas em minha mente como uma letra de musica muito escutada.
   “Preciso esquecê-lo, já chega, não posso mais, não posso mais lidar com isso. Você nem se quer sabe, você nem se quer imagina que eu ainda estou aqui, ainda penso na gente, na gente que já não existe mais, somente para mim. Já chega não posso mais, preciso esquecer você. Preciso apagar seu telefone celular da minha mente e me controlar para não ligar, preciso parar de visitar sua pagina na internet, preciso parar de escutar as musicas que me façam lembrar você, preciso jogar aquele urso idiota que você me deu fora não posso mais olhar para aquela cara peluda branca e preta que sempre me olha assim que eu entro no quarto. Já chega. Não posso mais.”
    E eu nunca entendo. Queria saber para quem perguntar para, apenas uma única vez poder ter a resposta certa. Por que eu não posso esquecer você? Por que é tão difícil? Como se descolassem algo de mim.
    Eu não pedi isso pedi? Eu não pedi para amar você, não mesmo, me lembro muito bem de negar, negar até a ultima pontinha de mim que eu não amava você.
    E olhe só!
    Olhe só para mim!
    Hoje. Enquanto caminhava pela praça. As solas dos calçados raspando na areia úmida, amassando as folhas secas caídas pelo chão. Olhando a grama emborrachada, muito verde, muito brilhosa. Os verdes musgos dos troncos das arvores, as cascatas de folhas penduradas em seus galhos acima de minha cabeça. Sentindo o cheiro forte de orvalho, pairando pelo ar. A praça vazia. Alguns carros passando pela rua. Algumas pessoas saindo do trabalho. As gotículas pequeninas e frias da fraca chuva embaçando minha já muito enfraquecida visão. O vento gélido que nem aparente de verão adentrando minha pele e sentindo uma louca vontade de tomar um café quente, sentir o gosto descendo tranquilamente pela minha garganta e aquecendo-me rapidamente... Então. Então você chegou. Como um vento súbito que batesse em mim. Chegou me arrebatando de mim mesma.
    “Não por favor. Você precisa esquecê-lo” pedi para mim mesma; “você precisa. Você deve esquecê-lo.”
    Mas, uma outra parte de mim. Uma parte teimosa que nunca ouve o que a razão firme e vivida dentro da minha mente diz.
    “ E se você o visse agora? E se você o encontrasse nesse exato momento? Não seria..."
    “ Não vou encontrá-lo.”
    “Mas e se? E se você encontrasse. E se você o visse e ele a visse. O que você faria?”
    “E o que poderia fazer?”
    “Abraçá-lo-ia?”
    Abraçá-lo... Sentir seu corpo bem perto do meu. Tudo. Tudo que eu almejei naquele pequeno instante. Era simplesmente como se eu pedisse um presente como uma criança pequena que olha uma vitrine de brinquedos. Você não quer todos, você quer apenas um em especial, um que você sabe que não pode ter. Mas você quer.
     E eu queria um abraço. O seu abraço. Queria sentir o calor do seu corpo transpassando ao meu.
Atravessei a rua. Abandonando o parque, entrei no lugar onde estava indo. E lá estava você. Sim. Dentro daquele pequeno local.
    Eu não acreditei. Parte da minha mente, a racional, também não.
    “Não pode ser...”
    “Sim!Sim!É ele! Oh eu disse que podia vê-lo, disse que podia ser!”
    Meu coração desacelerou no peito. Era você. Atrás de uma prateleira. Você lá parado. De costas para mim. Minha visão alcançava apenas sua cabeça, mas foi o suficiente para saber que não estava louca, era você. Era você. A mesma figura perfeita e imperfeita que destaca nas fotos guardadas do meu computador. O rosto lúcido de uma imagem muito bem guardada em meio a um livro meu.
    Que engraçado.
    Era você ali. Real. Real como um sonho. Você. Seu rosto e seu corpo, nítidos a minha frente depois de tanto tempo sem ser em uma das suas fotos que eu ainda guardo e que algumas eu roubei de você.
    Entreguei os filmes para a atendente, mal escutando o que ela falava comigo. Minha mente inerte. Meu corpo gritando sem saber o que fazer. De repente me senti estúpida e completamente idiota.
Simplesmente não sabia o que fazer. Onde colocar as mãos, como falar o que falar. Cumprimentar você ou não cumprimentar? Fingir que vi ou que não vi?
    Rejeitando a parte da minha mente irracional que gritava incontrolável para chegar em você e abraçá-lo, mesmo que em um cumprimento, mesmo que por dois segundos, eu poderia me contentar com apenas uma provinha que fosse do seu corpo ao meu.
    Fiz a volta na estante de filmes, tentando ignorar a minha mente, o meu descontrole físico, o disparate do coração.
    Cumprimentei-o.
    As palavras saindo da boca como se sopradas.
    E de repente como uma surpresa, você havia me abraçado, ou chegado perto, não sei. Mas meus braços, meus pequenos braços acompanharam, como por um ensaio a volta do seu corpo, um abraço. Era tudo que eles pediam. Um encontro do seu corpo. Um encontro firme. Suguei seu cheiro como se sugasse vida no ar completamente deliciada, aturdida e maravilhada. Rapidamente senti o desapontamento chegar quando me dei por mim que o cumprimento já acabara.
    Palavras jogadas fora, um silêncio constrangedor. Nada do que eu dissesse seria algo que eu profundamente gostaria de dizer. Cansaço. Cansada de puxar um assunto sobre estudos, trabalho ou família. Cansada de dizer tudo contrário ao que eu gostaria de falar.
    “Preciso de você.”
    Em uma locadora? Assim? Do nada? Suportar seu olhar de rejeição?
     Não, obrigada. 
    Vi você pegar seu filme, ir ao balcão e vir me dar um xau rápido antes de ir embora. Mas antes. Antes você me abraçou novamente. E meu corpo já não sentia mais prazer pela saudade ser mesmo que milímetros decaída. Meu corpo sentiu-se profundamente só.
    Meu rosto corado. Um sorriso no rosto que eu não conseguia guardar. Eu vi você sair. Ir embora.
    E de repente eu voltei ao normal.
    Fora só isso. Minha mente constatou.
    Que coisa. Que coisa amarga eu senti.
    Depois, senti-me estúpida e perdida. Peguei um filme, sai da locadora e enquanto voltava pelo mesmo lugar, mal sentindo os pés tocar ao chão, mal notando a chuva sobre mim, mal notando o caminho que tomava eu pedi, silenciosamente que isso não quisesse dizer nada. Que eu ainda pudesse esquecer você.  Que fosse algo do acaso, por qualquer objeção sem motivos.
    Simplesmente eu tomara a decisão de ir ao mesmo lugar que você, sem saber que você estaria lá.
    Só isso.
    Mas o outro lado da minha mente indagou friamente. O irracional. O lado que ainda tanto deseja por você. Você que eu não posso mais ter.
    Será?
    Será mesmo?


Annabel Laurino.