Tava querendo me
apaixonar. Tava querendo entrar no estado ‘preciso tanto de você’. Mas
novamente eu me esqueci, você se esqueceu, me magoou fácil. Ninguém tem culpa não,
desse meu estado de tamanha frigidez que congela qualquer possível relação que
possa engrenar.
Fiquei apática,
triste mesmo, fiquei de uma maneira caída, de dar dó. Mas agora sei lá, você
sabe como eu funciono, sabe que quase sempre eu nem se quer demonstro nas feições
do rosto o que o coração chora para transmitir. Eu pensei mesmo foi em pegar as fotos
e destruir com tudo, fim, esquece o que passou e o que poderia ter sido, vou
embora, vai viver! Mas ai seria crueldade, comigo, contigo, com a gente e com o
meu pobre coração que se acostumou com o teu sorriso aberto e os teus braços
grandes envoltos do meu corpo. Seria matar uma flor linda que eu demorei tanto
pra deixar crescer.
Não posso destruir
com tudo. Mas estou fazendo as malas mesmo assim. Estou me antecipando de uma
emboscada que poderia fisgar a mim e ao meu mundo. Não suportarei ver nos
tornarmos aqueles casais banais e melancólicos, jogados num sofá no domingo, de
roupas amassadas se chamando de ‘mô’ ou de termos pejorativos. Não surpotarei
brigarmos um com o outro, discurtirmos o tempo inteiro, nos tornarmos robôs
numa relação tão bonita e cheia de cores.
Já vi que não
mudamos por ninguém, não mudaremos. Somos o que somos e seremos eternamente
assim. Prefiro te ter sobre os meus olhos, do que ao lado mas não mais você, o
você guardado na minha memória, que eu mordiscava a orelha com o brinco de
rockeiro e bagunçava seu cabelo pra te provocar.
Dói mais do que eu
esperava. Eu pensei que viveríamos as canções mais lindas dos Guns até as mais
charmosas dos Beatles, que iríamos percorrer o mundo de mãos dadas. Mas caí na
real, não estamos preparados para grandes aventuras enquanto estivermos com os
pés no chão.
Não sei por que
escrevo, escrevo acho para não sentir mais dor, mais saudade, mais peso. E
agora, quem ocupará meus dias? Quem me salvará da minha solidão? Quem irá criar
cócegas no canto dos meus lábios e me fará mais feliz do que já estive em anos?
Ah triste fim, eu
penso, deitada na cama brincando com a mecha de um cabelo e me sentindo amarga,
cruel e vazia, um dó de mim mesma que você não poderia imaginar, mas ao mesmo
tempo, uma mágoa, por tudo que poderia ter sido e não foi. Pelos erros que
cometemos e pelas minhas promessas de não me deixar ferir, mais uma vez, de
tantas vezes. No fundo eu sinto que se eu não tomar essa decisão, quem mais tomará? Vamos ficar nessa de brigas e amargas palavras até que o tempo se enrosque em nós e nos faça odiarmos um ao outro, restando somente o feio, o pó, a destruição do bonito, do saudável.
Só não me diga que
sentiu saudade, o sol não brilhará hoje, as nuvens tão carregadas de chuvas e nos
meus olhos, uma maré densa de uma saudade que explodirá em segundos enquanto eu
não te ver. Enquanto eu não te olhar.
Annabel Laurino