Você precisa destapar os ouvidos
Para ouvir a chuva
O tempo que se perdeu, já foi achado
No fundo do teu bolso escondido
O tempo não se perdeu
Nem foi perdido
E cai agora a chuva
Que respinga na minha blusa azul
Que respinga no mundo frio
E nós nos damos as mãos
Entrelaçados pelo tempo
Este tempo que não se perdeu
O mundo gira devagar
A fria névoa vem nos alcançar
Mas nós fugimos
Aves cortando o céu a noite
Você precisa ouvir a chuva
Como flui
E dança
Maybe nothing lasts forever
Talvez, talvez
Somos infinitos gritantes
E chove lá fora
Annabel Laurino
"Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem. "