terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Não ir, ir, ficar, sair, desistir. Tentar.

- Então se é para ser assim, me desculpe, eu desisto.
- Desiste? - perguntou atônito.
- É isso mesmo, eu desisto. Com prudência ou não, mas como pode ver estou indo embora.
- Peço-lhe, não vá.
- Eu vou.
Tristemente um retumbante silêncio se fez dentre eles.
- Espero que se lembre de que mesmo indo embora a história não acaba aqui.
- Ora, seja especifico que o tempo branda.
- Digo, a história, nossa história, viverá acessa dentro de você todos os dias.
- Como podes ter certeza disso?
- Eis que se for de verdade viverá, mesmo que se passe dias frios e chuvosos, ainda assim, como chama quente no inverno rigoroso ela acenderá brilhante, e no verão úmido descobrirás que ela não de desfalecerá pelas imensas inundações. Saberás disso, se for verdade. Agora, pode ir.
[silêncio]
- Me deixas ir?
- Não, nunca.

Annabel Laurino.

Ardência pura. Ciumes cruel, falta insana. Jaz aqui.

    E o que te dizer? Se tenho ciumes só de pensar que guardas tua fala mansa para outro alguém que não eu? Que ligas teu telefone não pensando mais em me ligar, mas ligar para outras pessoas? Pessoas novas ou velhas que do nada rechearam a tua vida no lugar do espaço que eu ocupava antes. Não sei, pode ser bobagem. Tenho medo de parecer pra você alguém insignificante. Em parte por que necessito desse espaço vital na sua vida, em parte por que quero ser para você na mesma medida de importância que você é para mim. Não quero ser o seu 'era e não é mais', virar possibilidade, ou cartão postal jogado dentro da gaveta, empoeirado e perdido, desbotado.
    Tenho falta sua meu bem, mas é uma falta tão cursiva que as vezes dói por que não sei como estanco essa falta. É do tipo, "me deem água que dentro de mim nasce um deserto Saara, mas muita água, água pra valer", mas trazem-me um misero balde de água morna, esquecendo do deserto que há aqui dentro. Não cessa, não cura. Mas dói nessa ausência ribombante que fica girando dentro do peito, ocupando um espaço que não cabe quase nada. E agente acorda todo dia pensando que pode ser diferente, e o passado ali do seu lado, feito garra negra apertando sua mão, aperto frio. E da uma saudade, uma saudade louca do tempo em que tudo fazia um sentido imenso sem nem fazer esforço. Da saudade de tudo, do abraço, do cheiro, do toque, das musicas, dos risos, das brincadeiras. Da saudade. Da ciumes. Dói pensar que tudo o que eu fui pra você agora, não sou mais e não tenho mais importância.
    Ou tenho?
    Bate a porta e grita, chama, diz que tenho, diz que ama. Mesmo que seja incerto, mesmo que a chama seja curta, mesmo que o céu extingue, não tem problema. Só não deixa esse amargo sabor aglutinar na boca e se perder nos ponteiros negros do tempo. Não deixe.
 

Annabel Laurino.