terça-feira, 17 de abril de 2012

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“Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela.”



Tati Bernardi




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“Não sei o que seria mais provável”


Caio Fernando Abreu

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Para os caros e raros leitores que acompanham minhas linhas neuróticas de raciocinio vezes diário, vezes lá que outra, comunico que me sinto só. Que me sinto triste, não estou legal ou feliz ou momentaneamente perto de me sentir plena. Que todas as frases e letras de musicas e textos mirabolantes foram ilusões feias de uma mente declinada a se iludir. Não liguem para isso, ou para aquilo outro ou qualquer outra coisa que seja. Não liguem e ponto. Apenas me sinto terrivelmente só, uma solidão que se faz quando mesmo acompanhada do mundo inteiro em uma corrente de corpos entrelaçados e mesmo assim algo dentro de você insiste em se sentir sozinho e mortalmente vazio. Não sei ainda o que é, não descubro. Quem souber, avise. Manifeste-se por favor. Não cobro nada. Sou mansa. Embora vezes não pareça.

Annabel Laurino.

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    Uma sofreguidão lenta se apossa de mim nesse momento. Como um pedaço de alguma coisa grande da qual entala na garganta, estranha. Minuciosa e mansa, seus dedinhos finos e pequeninos dedilham minha face na tentativa de descobrir até mesmo minhas feições mais secretas, para destruir-me aos poucos.
    Tenho muito medo de toda essa sensação. Pois é incrivelmente familiar, uma tristeza funda que se instalou no peito, um choro engasgado, entalado e aperfeiçoado dos mais profundos soluços.
    Desistência.
    De tudo, de tudo que se pediu, que se quis e não veio ou se veio não foi como o esperado.
    Vontade de chorar e chorar, de pedir que o tempo pare só para refletir melhor.
    A sensação é quase a mesma de comprar uma roupa nova e quando chegar em casa vesti-la e perceber que ela não era tão bonita assim, talvez nem mesmo servisse tão bem assim. Enganada e triste, sinto vontade de me jogar na cama e chorar horas a fio e tentar retroceder esse medo de mim mesma, essa angustia. Sou cruel, já disse, tenho medo disso, desse alento todo de podar relações da qual me sufocam sem a maior piedade, e então afundar em uma fossa de dar gosto durante, digamos assim, meses.
     Por favor, repito constantemente, haveria como só por um momento que alguém acendesse a luz desse coração escuro e me mostrasse à direção?
     Dizem que quando tomamos uma decisão ela deve ser seguida até o fim, que se deve passar por cima de todas as dificuldades e tentar, com todas as forças.
    Mas não sei se encontro isso agora dentro de mim, é difícil dizer. De tudo que eu esperava fazer, lutar era o menor item da minha lista no momento. Não por preguiça ou por incapacidade, mas chega um momento que você já lutou de mais, que você esbravejou de mais, que você não quer mais promessas não cumpridas, não quer mais sair por ai carregando ninguém nas costas ou esperando o melhor de tudo e alguém. Chega um momento que você automaticamente quer e pronto, quer agora, quer o bom, o melhor. Claro que você quer lutar. Eu quero lutar. Mas não sozinha, de novo. Não dessas maneiras tortas que sempre acabo mal.
     Não quero ver o mesmo filme novamente. Posso estar errada, sei que posso. Mas não correrei o risco de jogar tudo para cima e vendar os olhos, de novo não. Nem mesmo que eu corra o risco de passar semanas em uma terrível tristeza, nem que eu me perca novamente dentro de mim mesma, nem que eu chore até me acabar, nem mesmo que eu tenha que me sentir tão terrivelmente só a ponto de me ferir, nem que seja triste e lamentavelmente angustiante.
     Não correrei o risco.


Annabel Laurino.