quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sua falta

Os dias e as horas começam a passar e eu, triste, fico olhando para as janelas, as paredes, os livros, as musicas, o meu próprio corpo, sim, minhas pernas, meus braços, passo os dedos sobre os lábios e mordo-os, olho a TV, olho os pés, as balas de café, o carpete, olho tudo, todo o mundo, as pessoas na rua, os carros, as calçadas, o meio fio, os fios dos postes... E você não está aqui, suas mãos não estão nas minhas pernas, ou seus braços envoltos dos meus braços, sua boca na minha, a gente na cama do quarto rindo de qualquer bobagem com os livros sobre as nossas cabeças, e você muito menos está nas pessoas da rua ou caminhando nas calçadas que eu passo desatenta. E porque você não vem? Eu sei que te mandei embora, de novo, que abri a porta e sem piedade joguei suas coisas fora e disse que não sabia mais o que iria ser. Mas fica tão descolorido tudo quando você não está. Sabe o café? Nem mil gotas de adoçante o fazem ficar descente. Perco o paladar, o tato das coisas. Tudo fica cinza. Qual é a graça nessa gente? Cadê o sabor? Droga. Por que mesmo que você não está aqui? Volta logo. 


Annabel Laurino



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“A maior parte de nós não é tão forte. O que é a honra comparada com o amor de uma mulher? (…) Vento e palavras. Vento e palavras. Somos apenas humanos e os deuses nos moldaram para o amor. Esta é a nossa grande glória e a nossa grande tragédia”.


(A Guerra dos Tronos – pág. 467)

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    A gente sabe quando não dá pé, mesmo que existam alguns chavões só pra contrariar. Meu ego é uma faixa de segurança – teoricamente, até foi feito para confiar, mas. Você até quer confiar. Mas não depende só de você. Qualquer bêbado no trânsito confia. Confie em si mesmo, que idiotice. Algumas mentiras são tão bonitas de se ouvir.
    Se você quer alguém rastejando atrás de você, sugiro esquecer ter me conhecido e comprar uma iguana ou algo assim. Se tem uma coisa que eu sei nesse mundo é de mim. Me conheço. No meu corpo tem cromossomos de uma zebra africana. Estou sempre fugindo dos leões. Algumas pessoas escolhem ser livres. Outras não têm chance de escolha, apenas são. E nunca mudam, mesmo que queiram. É uma questão de fase: paixão não revelada é paixão morta, amor não demonstrado é amor morto. Só mais uns dias e pronto. Estarei oficialmente no limbo, na liberdade anestésica de absolutamente nada sentir.
    O que você está olhando? Até parece que nunca viu um covarde respirando antes. O que pesa, a grande diferença, é que você é daquelas pessoas que precisam de segurança, de lastro, de sentido, precisam de qualquer maneira ser feliz. Eu não. Sim, isso existe, é possível. Não sei lidar direito com as emoções. É só olhar diretamente para a luz calorosa do sol e meu corpo já responde com um espirro. Não vou entrar em detalhes ou dar satisfações. É uma longa história. Minha alma não tem a idade que aparenta."



Gabito Nunes