sexta-feira, 28 de junho de 2013

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“Não quero palavras bonitas, quero palavras sinceras. Já basta.”


 Caio Augusto Leite

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Caminhos, descabelados e confusos

      A vida é complexa meu irmão. A vida é louca. Quer dizer, os caminhos que a vida toma. Tão obtusos e dissimulados, tardios e escorregadios, são disformes e uniformemente engenhosos, não sei como se cruzam, mas se cruzam e sempre de repente, como se uma linha imaginária os traçasse de uma hora para outra.
    Tudo muda tão rapidamente. Uma hora você está na fila da padaria esperando o pão quente e outra você pega um ônibus qualquer na rodoviária rumo aquela cidadezinha perto de casa e que tem bons filmes. Uma hora você acha que tem o amor da sua vida em mãos, que ficarão juntos para sempre, casarão e terão dois filhos e um cachorro com nome do baterista da sua banda predileta, mas em outra tudo acaba, tudo rui como pedacinhos se rachando lado a lado e não existe mais amor algum, só uma ilusão fantasiosa do que sua mente criou. Mas a vida é insana e produz surpresas e no mesmo tempo em que você se acabava chorando numa cama e ouvindo Don't Let Me Down o novo romance da sua vida se aproximava. É, aquele cara que se apaixonou por você enquanto te observava na fila do pão e gostou do seu cabelo e do seu nariz arrebitado e meio fofinho também. Vai ser ele que vai te levar pra conhecer lugares bacanas, ler poesia embaixo da árvore, comer chocolate em dia de chuva e massagear seus pés antes de dormir, te dará flores numa tarde qualquer e dará seu nome a uma estrela no céu.
    Pra você ver, pra você ver, a vida sempre tão estranha. Acontece, uns chamam de loucura, eu chamo de descomplicamento fatalístico. Tem que acontecer meu irmão, tem que acontecer, é só deixar fluir. Uma hora você tropeça em algo lindo que virá com toda força e te trará luz.
    Sabe quando aquilo é tão bom que chega a limpar a sua cabeça? Pois é. Qualquer hora isso acontece com você.
    Claro, esses caminhos que a vida traça, vezes bem traiçoeiros, vão acabar com seu fôlego e vontade de lutar, haverá dias que você não terá vontade de ver a luz do sol e nem de abandonar a cama, nada terá graça e tudo perderá o riso, mas força, e sempre em frente, como dizia o Russo. Afinal, é dessas fossas todas, nesses momentos de pouca luz, desses momentos de 'desbaratamento' total, onde tudo fica confuso, e eu disse tudo, é que a gente tira um coelho da cartola e aprende a caminhar até com as mãos, se preciso for.
    Seja criativo, se a solidão bater, dança com ela, já dizia o Camelo. Dança, dança. Se cair chuva, dança. Se der vontade de chorar, dança também. Vai bota aquela musica, tira o pó dos livros, deixa a vida fluir que aos poucos ela se ajeita. É assim sempre, é assim que funciona. 
     Eu só espero que tenha sol todos os dias, cinzas e rosados, tanto faz e que os dias amanheçam doces com cheiro de alecrim e alfazema, alguém cantando baixinho I Need You no meu ouvido e eu querendo viver pra sempre, ser infinito. Mas se isso não acontecer, amanhecerá igual, os amanhãs estão ai, por todo os caminhos a frente dos quais nos encontramos, e serão doces, surpreendente doces, vezes fatais, mas ensinarão a você, a mim, a nós todos, que nada é tão fatal que não possa continuar a te surpreender.
    Pequenas liturgias nervosas de aprendizados contínuos. Você precisa de uma porção dessas coisas. E de amor também. Amor para todos nós. Amor por todos os caminhos a frente, por favor.





Annabel Laurino

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cê precisa, eu preciso

To precisando de alguém que me segure forte
Que me agarre com força
Por que sou como água, fluo sozinha
Eu estou aqui, parada, quieta, sou a calmaria em carne
Mas fluo
Horas e outras não estou mais aqui
Preciso que me agarrem, mãos fortes e precisas, para que me prendam
Porque preciso disso
Preciso sentir-me segura
De um conforto, de um cheiro, de um gosto, de um afago
Tão, tão fácil que é
E tão complicado de se fazer
Por que não entendo, muitas vezes, e fujo
E quando fujo é pra valer
Daí você tem que me caçar em um jogo que nem eu mesma entendo
Acontece que eu sofro de mais
Por vezes, dores que nem são minhas
E fujo com essas dores, para que ninguém veja o quanto sofro
Preciso de alguém que perfure lá dentro, lá no intimo, que instigue, que puxe, que cole
E não descole depois
Preciso de chocolates
Cobertores
Sol
Flores
Música
Danças
Corações quentes
E sorrisos sem fim
Preciso de algo longe do eterno
Eternidade é muito tempo para se contar
E acho que não tenho esse tempo todo
Mas preciso de algo, do tipo, agora
No momento
E que tenha recheio
Não me venha com nada vazio
Nada de que eu não possa me lembrar depois
Com um sorriso no rosto
E duas lágrimas latentes escorrendo pelo rosto infantil.




Annabel Laurino

segunda-feira, 24 de junho de 2013

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    Creio que qualquer hora dessas será necessário que alguém descongele esse coração com medo. Que toque lá no fundo. Nos recônditos encantados de mim mesma. E então eu topo confiar mais uma vez nessa coisa que eles chamam de se apaixonar, amar, isso tudo. Mas já vou avisando, tem que valer a pena. Já doeu demais uma vez.



Annabel Laurino

domingo, 23 de junho de 2013

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     “‘Tão longe ficou o tempo...’, pensarás – e sentirás uma vontade absurda de voltar, de encontrar, de ligar para alguém que talvez já não atenderia mais; falar da imensa falta que faz tudo o que não vivestes, contar das tantas inexplicáveis carências incuráveis, e sentirás atravessada na garganta – ou no peito ou na mente–, tudo aquilo que chamamos de ausência, e então fugirás, porque é isso que fazes, e encontrarás outros cheiros, outros gestos, outros sorrisos numa outra pessoa qualquer, mas no espelho cru, os teus olhos já não acham nem graça, nem brilho. E repetirás outras e muitas vezes; mastigando, engolindo, ruminando em uma frase escrita sobre algum tempo: vai passar, eu sei que vai passar. E lentamente silenciarás, e lentamente aceitarás.”


Andre Wade

sábado, 22 de junho de 2013

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    Oro a Deus não pedindo cargas mais leves, e sim ombros mais fortes. E tenho repetido que no que depender de mim, me recuso a ser infeliz. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa. 



Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Saturno

    Hoje Saturno reluz. Porque nada está perdido, nem mesmo os pequeninos sonhos para se remoer antes de dormir.
    Mastiga lento o desejo próximo de querer ser feliz. Mastiga a favola doce daquela lembrancinha amarga. Mastiga, pequena.
    Saturno brilha porque não quer mais chorar. É tanta coisa lá fora, é tantas pessoas que passam e nem sabem que você está ai, do lado de dentro de algum lugar. Não se esconda, pequena criança. Sorria, abra seu coração novamente, se livre das amarras que te prendem. Quem foi que disse que o tempo de ser feliz acabou?
    Ah, esses sonhos com gosto bom, ficam passando na cabeça da gente que nem cafuné de mãe antes de dormir. Cê pensa e pensa, da aquela vontade de viver de novo o que ainda nem aconteceu. Mas é bom não é? É bom ter esses sonhos.
    Por isso que Saturno nunca se apaga. 
    E reluz mais uma vez numa noite de breu, ao lado das estrelas minimas. 
    Enquanto você dorme sem saber onde irá estar Saturno da próxima vez.


Annabel Laurino

Fotos do mural

quarta-feira, 19 de junho de 2013

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“Ela é aquilo que ninguém vê. E tudo aquilo que ele gosta. No mesmo frasco, atrás do rótulo.”

Gabito Nunes

domingo, 16 de junho de 2013

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“Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louco pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir.”



Gabito Nunes

sábado, 15 de junho de 2013

Batida de Sexta

    É verdade que depois que ela foi embora lhe arrancou algumas particularidades excelentes de observar e viver a vida. É sim, verdade, que depois que ela foi embora lhe fez esquecer a maneira gentil de mastigar as suculentas provas da vida, instigando o sabor doce de alguns momentos inesquecíveis, porque ela estava em todos eles, e agora, não estava mais.
    Por isso recitou Legião enquanto olhava o teto iluminado acima da sua cabeça que latejava, latejava, cada vez mais incessante. 
    Os bons morrem jovens. Ele disse, a boca seca abrindo-se como a porta de um porão a muito tempo fechado. Abriu os lábios e deixou a voz sair. Os bons sempre morrem jovens. 
    As estrelas do teto estavam distantes, os postes nas rua já se acendiam com aquela luz amarela e que agora lhe provocava uma forte vontade de se levantar e ir até lá apaga-las. As copas das arvores da praça lhe chegavam na visão e tudo que ele via era a luz amarela e as estrelas, enquanto ouvia a musica ao fundo de seus ouvidos aglutinados por uma batida forte.
    Por que os bons morrem jovens?
    Iria morrer. Então era assim? Morreria vendo os postes de rua, morreria depois de não ter feito nada e ter tentado tudo, morreria simplesmente, como uma poeira cósmica é jogada no espaço interestelar acima de sua cabeça. Morreria e seria um fim. 
    Tentou imaginar o que as pessoas diriam no dia seguinte, se sentiriam sua falta, se lhe mandariam flores no dia de finados. Que triste fim, pensou, eu nem fiz a barba hoje, que pelo menos eles se dêem ao trabalho de me fazerem a barba quando me colocarem no caixão. 
    A vida sempre tão trágica, e obtusa com seus emaranhados de desprendimentos sentimentais...
    - Não se mexa, eu vou chamar a ambulância.
    Quem agora ousava lhe interromper nesse momento de fim? Será que já não haviam detido todas as suas chances de felicidade suficiente? Será que não podiam pelo menos lhe deixar morrer em paz?
    - Fale comigo e não durma, certo? Meu nome é Fernanda, mas pode chamar de Nanda, ah ok, isso não importa agora. Enfim, você vai ficar bem. Ta tudo bem.
    Ficar bem? Ficar bem? Oras, era só o que lhe faltava para uma sexta feira como essa. Era só o que lhe restava mesmo. Cabelos castanhos e uma pele clara lhe assaltavam a visão periférica enquanto seus olhos tentavam se acostumar com a luz.
    Na verdade, percebeu, não fechou os olhos nem por um segundo, acreditava que não estava piscando com tanta frequência quanto o normal e por isso sentiu seus olhos lacrimejarem. Piscou. As luzes novamente entraram em foco junto com as copas das arvores e nada mais era só um borrão de puro brilho. Tentou erguer a cabeça mas seus ombros foram impelidos para baixo e pequenas lágrimas escorreram dos olhos enquanto ardiam.
    - Não se levante. Não se mexa. Ai você está chorando. Não chora, vai ficar tudo bem.
    Sentiu uma mão tateando seus bolsos das calças e depois da jaqueta, se desesperou, arregalou os olhos e de repente a mão saiu. 
    - Estou pegando seus documentos... Hã... Rodrigo. Certo, então Rodrigo, um carro bateu em você. Você não está ferido e a batida não foi muito forte, mas acho que você bateu a cabeça quando caiu...
    Fernanda que pediu para ser chamada de Nanda continuou a falar. Explicou do tal acidente e de como motoristas eram irresponsáveis. Sim, eles eram, ela afirmou. E continuou a tagarelar uma porção de coisas e falar que Rodrigo não deveria dormir, deu explicações as pessoas que se aproximavam para saber do que houvera e xingou algumas vezes o motorista, que nervoso, tentava dizer que não havia visto o tal rapaz, que tudo foi muito rápido.
    Era um Bad-Day para Rodrigo, sexta feiras geralmente não eram mais dias muito bons. Poderiam ser, se fossem alguns meses atrás quando tudo era paz e tinha um aroma de amor, mas agora sextas feiras eram cinzas e com a certeza de mais dois dias solitários enfurnado num apartamento em frente a uma praia de mar gelado e vento frio de inverno. Nada mais era como o verão havia sido.
    É por isso que queria descobrir o que iria acontecer caso ficasse um tempo a mais no meio da rua do que o necessário para atravessá-lo. 
    Ligou para ela na manhã do mesmo dia e avisou que chegariam flores no seu trabalho lá pelas dez. Disse que havia reservado uma mesa naquele restaurante chique que passavam em frente depois do cinema nas voltas para a casa. E disse também que não se importava que ela havia experimentado o amor de outro cara, que ele não era assim tão legal, que ele sim, Ele, o cara que a amava de verdade, é que poderia lhe dar o mundo se ela quisesse. 
    A resposta obtida não foi a esperada.
    Nada de emoção. Jantares românticos. Promessa de amores renovados e um futuro em frente.
    "Não é por nada, mas eu não sei o que sinto por você. Que dizer, eu amo você, eu sei disso, mas não fomos feitos para ficarmos juntos. É isso. Me desculpa. Adorei as flores."
    A voz tremia estática na ligação, a voz linda dela e que Rodrigo sentia profunda saudade. 
    É por isso que saiu caminhando sem rumo depois que fechou o apartamento e pôs o lixo na rua, fumou alguns cigarros, bebeu alguns copos a mais e sozinho continuou a caminhar pela cidade. Até que viu o carro, os faróis acessos, a promessa de que tudo iria se acalmar, principalmente aquela tortura na sua cabeça . O que aconteceria?
    Nada aconteceu. Pelo visto ele ainda estava vivo. E não era bom o suficiente para morrer. Ou isso ou Deus o queria muito naquela vida ainda para provar de uma sexta amarga e de um pouco mais de solidão.
    Aproveitou que a tal Fernanda parecia estar ocupada xingando um motorista morbidamente culpado e levantou-se as pressas, sentindo-se meio tonto, a visão turva de luzes e cores e pessoas. Havia uma significativa quantidade delas espalhadas em volta de si e do carro e do próprio motorista. Todas lhe olhando assustadas e observando com irritação o suposto cara que lhe atropelara. Foi por isso que todos emitiram 'ós' assustados quando se levantou e outras até mesmo disseram que tinham mais o que fazer e o cara estava vivo, nada demais havia acontecido. 
    - O que você está fazendo? Você está louco? Sente-se agora. 
    Era a Fernanda. Só podia ser ela. Cabelos castanhos, marrons da cor de chocolate, olhos grandes e clarinhos como o mel e uma mecha prata na franja em frente aos olhos. Era pequenina, baixinha mesmo, e tinha um ar mandão e ao mesmo gentil, preocupada. 
    Linda ela.
    - Não, eu tô bem, mesmo. Eu me desliguei um pouco e na verdade o carro só me empurrou, não foi uma batida de verdade como daquelas dos filmes e veja só, estou bem. - sorriu com desdém e estendeu a mão para o motorista que atônito lhe olhava aturdido.
    - Você é louco. - disse a Nanda baixinha que tinha delineador azul nos olhos grandes e de cílios enormes.
    - Eu sei moça pequenina, eu, você e todos nós. Mas agora que tal um café para essa sexta feira amarga e deixar essa confusão toda que a vida é de lado por alguns instantes?
     Ela sorriu. Essa foi sua surpresa. E ele sorriu de volta.
     Ah, as tragédias diárias.





Annabel Laurino

   

quinta-feira, 13 de junho de 2013

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Com o tempo você aprende a cair com classe e a se levantar com orgulho.

Cazuza

quarta-feira, 12 de junho de 2013

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     E quando você chamar meu nome
     Eu que nem sei aonde estou
     Pra mim que tudo era saudade 
     Agora seja lá o que for 


Ana Carolina 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

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    Mas eu venho calma como quem da passos de Bossa Nova pelas ruas de uma cidade em decadência noturna enquanto é engolida por postes de luz acessos e calçada úmida pelo sereno denso. Eu venho respirando fundo, cantando jazz nos estalidos dos dedos, lendo esses livros todo antigos que falam de quando alguma moda rica começou em Nova York e as mulheres eram belas e homens galantes tinham o poder. Percebendo tanta coisa, é na minha calma diária em que me descubro. É na descoberta que pequeninos desejos virulentos me assomam por inteiro.
    Eu venho querendo mais companhia de espirito do que companhia de carne, a gente percebe por um tempo que tem muita gente perto que ta longe, longinho. E é a alma que alimenta, não é mesmo? É a essência que se aproxima, a carne é só uma roupa, útil e depois inútil, varia, não aconchega, não ilumina como a alma faz. E eu tenho desejado é isso, ter gente bem por perto, que me arranquem risos, sorrisos, gracejos e despertem em mim meu lado mais bonito, aquele que eu escondo quase e se não o tempo todo.
    Você não vai querer saber mas te conto mesmo assim de que o mundo lá fora é gigante e eu quero alguém para compartilhar mundos. Alguém que deite do lado, pegue a minha mão e com a outra segure um livro, converse durante horas a fim e me conte coisas como o céu, a terra e fatos de que não faço ideia que existiam. Você não sabe, mas eu desejo alguém que venha com a paz no peito e me distribua um pouco disso enquanto me deixa mordiscar sua orelha e lhe sussurrar baixinho sobre um sonho que tive numa outra noite qualquer.
    Faz tanto tempo que o coração ta assim sobre terremotos repentinos que seria bom só para variar encontrar alguém por ai que quisesse ser um pouquinho de acalanto para esse farrapo desestabilizado que virou o coração.
    Tem tanta gente caminhando pelas ruas dessa cidade, e qualquer hora podia ser bom de repente alguém que dividisse um café e me contasse uma história boba, dessas que saem involuntariamente, mas são boas de saber. Você sabe, a gente sempre precisa de carinho, daquela coisa que todos gostam, de atenção. A gente sempre precisa de um pouco do que ainda não provou direito.
    Vem em mente, quase de repente, que amor não sei bem o que é. Mas se amor for isso, se amor for paz e compartilhar o que se chama de vida e sonhos e coisas boas e até aquelas mais feiinhas e nem tão lisonjeiras assim, tudo bem, eu topo. Eu to topando deixar o coração aberto só para ver o que é que deixa ele calminho. Para ver o que acontece se o acaso de tropeçar em algo lindo se torna em digamos assim, uma delicia de se apaixonar e ter alguém para contar isso sem medo nos olhos, sem receios contidos.
    É isso que todos queremos, não é mesmo? Só alguém que faça mais do que estar, e seja.



Annabel Laurino

Love reading | via Tumblr

sábado, 8 de junho de 2013

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"(...) Ela não desistiria da sua própria mente mais elegante e culta por todas as diversões das outras." 


Persuasão - Jane Austen 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Anna e o seu beijo Francês

    Hoje eu falo aos leitores, aos sonhadores, aqueles que nunca se cansam de reler.
    Aliás você já releu seu livro favorito ultimamente? Ou pelo menos se lembra daquela sensação incrível após terminar um livro de que você simplesmente não conseguiu largar desde a primeira página até a ultima? 
    Ter uma relação linda com um livro acredito que é uma das sensações mais incríveis que possam existir, dentre todas elas, quero dizer. Invariavelmente eu gosto de reler alguns livros de que amei muito. Parece que sempre foi deixada alguma coisa importante para trás, e toda vez que o abro é como se eu regressasse para o primeiro momento em que o li, e então é fácil estar novamente num dia de chuva com o livro aberto no colo e um café quente ao lado, ou na escola e um montão de gente gritando ao fundo enquanto eu os ignoro e continuo a ler, na praia ou na fila do supermercado. Reler um livro é sempre um encontro com novas redescobertas que deixaram-se passar desapercebidas e regressar ao primeiro instante em que foi lido. 
    Ler Anna e Beijo Francês é assim para mim. As páginas que eu considero perfeitas, as letras, a capa, tudo nele é encantável e simplesmente sempre retorno a lê-lo dentro de um espaço de tempo, o fato é que nunca consigo deixar de sentir o mesmo gosto que sinto quando repito a leitura, como se estivesse sempre apaixonada.  
    E é isso mesmo, é como se eu quisesse viver dentro dele para todo o sempre. Cada detalhe, cada lugar da história, cada personagem ao qual fui apresentada ficam na minha mente depois que o livro inteiro termina e o gosto é sempre o mesmo, o de quero mais. 
    A minha familiaridade com o livro não está somente com a história em si, eu simplesmente adoro a Anna e me identifico muito com ela e sou louca por uma amiga como a Mer que é apaixonada por Beatles e que não saberia o que fazer diante de um cara legal como o St. Clair, toda a apatia de Anna pelos romances escritos pelo seu pai onde pelo que é descrito no livro me lembram bastante os de Nicholas Sparks, os quais sempre alguém morre, me fazem um tanto feliz, pois é a mesma minha apatia. Só que toda essa identificação está um pouco mais além. Eu simplesmente adoro a escritora. Eu consigo enxergar cada ponto da história detalhadamente trabalhado e quando leio seus agradecimentos no final e entendo como a história teve sua inspiração para nascer eu me emociono, então sempre é o grand finale onde termino o livro com os olhos cheios d´água. 
    Stephanie Perkis criou o livro porque um dia também foi apaixonada pelo seu melhor amigo. Então segundo mais vários fatores que acrescentaram na inspiração da história ela decidiu escrever sobre isso também. E voilá. Anna e St. Clair nasceram e Paris, e Josh, Rashimi e Mer e a Resident Lambert. E eu, apaixonada por cada página desse livro. 
    Escrevi uma resenha há muito tempo atrás a respeito dele no meu blog  Livros, Chás e Bolinhos, e isso definitivamente não é uma resenha. É mais uma forma de expressar o "ei olhe esse livro que maneiro, o mundo precisa saber disso!". Não são todas as pessoas que gostariam de Anna e o Beijo Francês, mas eu gosto muito de um paradigma que encontrei uma vez em que dizia que os livros ficam aos sonhadores. E se você, seja quem for, é um sonhador, você amaria Anna e o Beijo Francês. Por isso é tão simples para as pessoas que me conhecem de perto logo de cara me compararem ao livro, não porque sempre que encontro uma oportunidade falo sobre ele, mas porque é um livro que defino como "a minha cara". Eu me sinto em paz toda vez que o leio, é como um regresso a um mundo que eu criei enquanto o lia desde a primeira vez, e espero que isso dure por muito e longos anos afins. 
    Claro, não é o único livro que amo reler, há vários além dele. Mas esse em especial é o que está guardado em algum espacinho muito afundo de mim. Tenho certeza que quem preza seus livros e sabe o que é ter aquela vontade de reler aquele seu livro que há muito ficou abandonado na estante e sente bater aquela saudade daquela história, daqueles personagens, entende do que eu estou falando. 
    E sim, ficam os sonhos depois que termino de ler Anna e o Beijo Francês. Sonhos como Paris, a Pâtisseriie com seus montes de doces perfeitos e delicadamente saborosos como só Paris pode ter, os cafés e cafeterias, os macarons de várias cores, o Louvre, a Notre-Dame, O Jardim de Luxemburgo, Mona Lisa e os milhares de cinemas. Eu estou incansavelmente apaixonada por esse livro, é como uma história que mesmo que eu termine de ler ela nunca terá um final propriamente dito, nunca morrerá ou terminará. Porque é perfeita.

    "Finalmente, obrigada a Jarrod Parkins, que será sempre meu primeiro leitor, me tira da cama, me despeja café e chá goela abaixo e me empurra para o escritório. Que faz o jantar, leva até minha escrivaninha e leva de volta os pratos sujos. Que nunca teve dúvidas de que eu teria sucesso, que enxuga minhas lágrimas, ri das partes engraçadas e leva seriamente em consideração minha pergunta frequente "O garoto é gostoso o suficiente?". Eu estou profundamente apaixonada por você. Obrigada por ser você, porque você é o meu favorito" (Ultima parte dos Agradecimentos de Stephanie Perkins no livro, se referindo ao seu melhor amigo e atual marido) 

    E é nessa parte que as lágrimas rolam mais uma centena de vezes sem que eu me canse jamais de lê-lo novamente. 



Annabel Laurino

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“Era uma dessas meninas que acredita em todos e tudo, até em botão de semáforo para pedestres.”


Gabito Nunes

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Dias daqueles meio assim

    Daqueles dias que você sente uma humildade latente no peito, você seria capaz de abraçar um mendigo, de lavar a calçada das ruas com as mãos e escovinhas de dentes e ainda assim se sentir só 5% melhor. Daqueles dias que tudo que você deseja é que te percebam. Que alguém pegue sua mão e pergunte "ta tudo bem com você menina? Parece meio triste..." e que você responda meio zonza de humildade latente e vontade louca de desmoronar "to bem sim, é só sono". Mas que a pessoa não vire as costas satisfeita com a resposta, nada disso. É um dia daqueles que você quer que 1% dos 99% dos covardes e desatentos do mundo que passam por você todos os dias insista pra saber como você realmente está, e esse corajoso não vai se importar de ouvir suas lamentações estupidas de vidinha medíocre, ele só vai ouvir, dar tapinhas nas suas costas e quem sabe dizer que vai ficar tudo bem. E é disso que todos nós precisamos, não é mesmo? Alguém que nos ouça de vez em quando só pra variar, alguém que minta pra gente um pouquinho e que nos deixe em paz mesmo que seja só ouvindo nossas idiotices sem cabimento enquanto os tapinhas nas costas conforte qualquer coisa como uma avalanche dentro de nós mesmos pronta a desabar. 
    O mundo as vezes parece tão pequeno. Pequenino, pequenino. Viajar, eu quero viajar. Muitas vezes só abrir lugar numa estrada qualquer e fingir que estou num daqueles movimentos Beats e que nada mais importa além da estrada a minha frente e a gasolina que preciso repor. Só isso. Gasolina e estrada, brisa leve, coisas fáceis. Mas minha essência grita toda manhã, e eu sei que não suportaria o fato de viver em vão a procura de qualquer coisa, porque no momento tudo que eu preciso está bem aqui ó, na minha frente. Sei que da uma vontade desesperada de jogar tudo para o alto e abandonar tudo, deixar que as coisas se desarrumem a vontade, mas por outro lado eu sei que é a minha tarefa agora, que é a minha sina, meu fado, razão dos meus dias. Eu só preciso encontrar forças, eu só preciso resgatar minha fé. 
    Mas acho que você me entende, entende não é mesmo? Você sabe o que eu estou querendo dizer, você sabe como é se sentir sozinho com seus próprios pensamentos e querer tanto que alguém só te olhasse por mais do que cinco segundos e captasse qualquer coisa sua, nem que por uma telepatia poderosa e do além. Sabe, a vida assim bruta e um abraço em dias difíceis cairia bem. 
     Enquanto me sinto pequena como parte de qualquer coisa no mundo lá fora. Enquanto tenho desejos virulentos de só esquecer de tudo. Enquanto tudo muda sem minha permissão. Enquanto as coisas correm na velocidade da luz para qualquer lugar distante de mim. Enquanto histórias se formam e capítulos terminam. Tudo e tudo, nada e nada. 
    Sei que você entende.
    Dias daqueles que vez em quando todos tem. 




Annabel Laurino

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“Pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças.”


 Cecília Meireles

segunda-feira, 3 de junho de 2013

April again

    Tossiu. Uma tosse que não passava a quase uma semana. Tomava remédios e aquele xarope de nome esquisito e gosto ruim e mesmo assim a tosse lhe vinha pela garganta cada vez mais forte, atacando seus pulmões fracos. Desconfiava que morreria jovem, muito jovem, mas era só uma tosse e sua inclinação ao drama desenfreado.
    Atravessou a rua. Quase três da tarde e o sol bateu forte em sua cara desmantelada de sono. Agitou os cabelos com as mãos e espalhou os fios ainda mais, deixando-os terrivelmente bagunçados. 
    Não sabia de onde havia saído toda aquela gente. Caminhavam ávidas passando umas pelas outras em tamanha rapidez e se batiam os ombros sem pedir se quer desculpa, apenas seguiam o rumo adiante para as ruas em frente. O que tanto tinham para fazer àquela hora? Sacolas de compras, contas para pagar, algumas saiam de cursos, jovens matando a aula, desempregados sem nada para fazer, não saberia o que mais dizer. Ele mesmo se pudesse não estaria ali aquela hora da tarde, se ainda conseguisse ficar sozinho e ter o poder de filtrar a sua mente que insistia em se sentir tão... Só.
    Foi ai que sentiu aquele estalo. Um bem forte e que quase lhe deixou surdo. Olhou toda aquela gente, e todas aquelas moças, aqueles cabelos compridos, curtos, pernas de fora e braços e bocas e sentimentos que carregavam como bagagens para todos os lugares. Poderia se apaixonar por qualquer uma delas. Qualquer uma. 
    Entrou em um café e puxou uma cadeira. Café expresso, por favor. Olhou a garçonete que anotava seu pedido, bonitos lábios e rosto angelical, nova, talvez vinte, poderia se apaixonar por ela. Talvez gostassem de algumas bandas parecidas, talvez pudessem ir ao cinema e falar mal de alguns filmes e depois ficarem juntos na cama até o dia amanhecer, qualquer cama, na dela ou na sua. Poderia funcionar. 
    Ou não. 
    Cabelos encaracolados e corpo de violão lhe assaltaram a mente tão rápido quanto uma supernova explodindo no espaço distante. Sorriso de criança feliz e pés gelados, perfume gostoso de sentir e aquela risada, ah, aquela risada. 
    De repente a garçonete sumiu, a cafeteria desapareceu.
    Já fazia tanto tempo que tudo havia acontecido. A ultima vez que a vira seus cachos que costumavam serem eletricamente felizes e dourados estavam caídos e tristes. A ultima vez que a vira ele havia ido embora e a deixado para trás em um ponto de ônibus qualquer da cidade. Não era o mesmo desde aquele dia. 
    Era mentira. Não conseguiria apaixonar-se por qualquer pessoa. Não naquela hora ou naquele dia ou talvez por um bom tempo. Sentia-se, como era mesmo? Substituindo. E dessa vez seria substituindo algo que fora lindo e que ainda não havia ido dormir, como deve acontecer com os sentimentos ou coisas que terminam porque morrer não, nada morre, ou simplesmente cai-se em esquecimento ou adormece dentro da gente. 
    Sorriso de criança e cabelos encaracolados ainda não estavam dormindo dentro de si. Tomou um gole do café que havia chegado sem que ele percebesse. Tentou admirar a garçonete de longe, tentou gostar dela e tentou se forçar a talvez um flerte, um gracejo na hora de pagar a conta e talvez a convidar para sair. Mas não seria mais possível, não por ora.
    Olhou seu reflexo no vidro e se viu tão estranho. O rosto magro e com a barba por fazer, as mãos ossudas segurando a xícara e os olhos fundos, mergulhados em olheiras roxas. 
    Ah a vida sempre tão frágil.
    Mas não foi ele mesmo que decidiu ir embora quando tudo ainda podia ser uma flor ou um jardim ou qualquer coisa linda que pudesse crescer e dar frutos? Não foi ele que virou as costas? 
    Sim, foi. 
    E mesmo assim se encontrava ali, infeliz e vazio. Um vácuo por dentro que nada daria jeito. Pensou em pegar um cinema, em se levantar da cadeira, em ir para qualquer lugar e dar um jeito na vida e fingir pelo menos por alguns segundos ser feliz, mas parecia necessitar de um esforço imenso para que conseguisse operar todas essas ações. E infelizmente, ah sim, infelizmente, sua motivação havia evaporado. Ou melhor, sido deixada para trás. Ser forte não era mais uma opção. Ser forte para quem, para que? Para os seus amigos solteiros e que desacreditavam no que poderia ser o amor? Ou para as cervejadas de sexta e o futebol de quinta quando colocava todo o seu lado homem e viril de se mostrar? Pra quem sabe então as outras mulheres ou a sua colega de trabalho do terceiro compartimento à esquerda. Não, para ninguém mais. Ser forte não era mais uma opção, não era mais possível, não era mais útil. 
    Depois de um longo tempo que não soube dizer quanto, a garçonete retornou a sua mesa e perguntou se poderia retirar a xícara, sim, por favor, e se talvez ele gostaria de mais alguma coisa e então pensou. A língua passou pelos cantos da boca, olhou para cima, para os olhos da moça, escuros, quase negros, negros como o café preto que havia recém tomado. E disse enfim:
    - Sim, sim, eu quero sim. Eu quero uma máquina do tempo e que seja abril outra vez. Apenas abril outra vez.



Annabel Laurino