quarta-feira, 13 de março de 2013

Sozinho



Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém

Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?




Caetano Veloso

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Borboleta Branca

    Eu fiquei procurando alguma coisa que eu me identificasse e pudesse por aqui. Uma foto ou um trecho de musica. Algum parágrafo de livro ou uma frase de efeito dito por alguém já morto e importante. Algo que simplesmente definisse de alguma maneira o que estou sentindo. Algo que se encaixasse e mostrasse isso, sem que eu precisasse fazer muito esforço para me explicar, para me definir de alguma maneira. Mas sou eu mesma, vejo isso agora, que devo fazer isso. Que devo falar o que estou sentindo. Mesmo que as palavras me fujam. 
    A unica garantia que eu tenho agora é que quero ficar bem, e vou ficar bem. Como diria o Caio, "No que depender de mim, me recuso a ser infeliz". E eu me recuso mesmo. Veementemente. Quero ser feliz, quero ficar bem. E essa é a unica garantia que eu tenho. A minha força interna que nunca se acaba. 
    Não esperava esse tombo. Não esperava por esse engasgo no escuro. Não estou assustada, de certa forma eu previa isso, como um homem das terras prevê a seca quando o verão se aproxima. Ele ora da melhor forma que lhe foi ensinado falar com os céus, ele acorda cedo todos os dias e olha para a sua terra fértil e murmura baixinho para que isso não aconteça. Mas acontece. Sempre acontece. Inevitavelmente. São coisas da vida e o homem da terra entende isso agora, depois de tanto tempo. Dói, mas já era por se esperar.
    Eu não sinto raiva. Ou ódio. Ou tenho qualquer sentimento ruim sobre você. Se sempre foram de luz os nossos encontros, agora eu só quero que você siga sendo luz em algum lugar mesmo que não aqui. É como eu disse, eu não tenho qualquer sentimento ruim, eu só sinto-me triste como uma criança com seu brinquedo preferido retirado de si. Mas eu orei ontem a noite, eu pedi a Deus para que você fosse feliz, e sabe, no que depender de mim, eu serei também. 
    Os caminhos da vida são confusos, estranhos. Abri a janela hoje pela manhã e vi o sol fustigando em cima das telhas e calhas e árvores frutíferas sobre o pátio do vizinho. O coração foi dormir apertado, uma espécie de incerteza mútua. Mas acordou em paz. Em paz porque foi o que eu pedi ontem a noite, enquanto cobria o corpo com as cobertas e pedia a Deus para que tudo ficasse bem. Em paz porque eu sei que no fundo tudo vai se ajeitar. Acontece, são coisas da vida esses rompimentos abruptos. Em paz porque eu entendi. Em paz porque eu quero ficar bem e quero que você esteja bem também, em qualquer lugar que estiver. 
    Não irei fazer falsas promessas. Eu continuo a mesma. Talvez meus passos andem mais firmes, mais bravos e destemidos, mas eu tenho os meus motivos. Assim como todos nós temos os nossos motivos de viver. 
    É verdade que eu ainda acho que poderia ter sido diferente, e ter durado e ter sido lindo com toda a força, e seria lindo, cara, seria lindo. Poderíamos ter sido mais, ter brilhado mais. Poderia ter sido, sim, diferente. Mas eu sei que não foi e que não será. E é por isso que escrevo as linhas a seguir.
    Eu fecho os olhos e prometo que essa será a ultima vez que escreverei sobre você. Porque é necessário assim como um beijo de boa noite de uma mãe. É amável e honrável e bonito te deixar ir. Foi uma escolha limpa. Ninguém ficou preso nos seus ideais. E se assim foi, assim será. Te deixo ir, como assim quis, para livre ser, virar borboleta branca sobrevoando flores e partindo por ai. Enquanto eu serei um gerânio, na minha completa e intensa forma de ser apenas um gerânio e viver. 
    Fique bem, que a luz esteja sobre você.
    Saudades.



Annabel Laurino


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