quarta-feira, 30 de junho de 2010

Naquele dia...

Por sobre aquele céu azul claro, estampado das mais diversas formas de nuvens. Brilhante e iluminado estava o sol ao meio céu, cintilante de seus fortes raios que caiam como pequenas flechas em meu corpo, cálidas e reconfortantes. Não podia olhá-lo como olhava o céu, pois meus olhos não agüentavam seu intenso brilho e calor. Mas, o sentia como sentia o vento, forte e preciso, sussurrar em meus ouvidos, frio e gélido tocando meu rosto, mas não tão gélido por causa do lindo sol acima. Então, deitada ali, naquele pequeno muro de concreto, escutando o som do farfalhar das águas que jorravam da pequena fonte adiante, vislumbrando aquele grande e imenso céu, naquela vasta tarde de um dia qualquer, eu entendi.
Sempre tentei entender o máximo possível de tudo que vejo. Não me julgo por esperta e muito menos mais importante que alguém. Não vivi muito. Julgo até pouco demais. Nunca sai daqui onde meus pés se firmam nesses poucos míseros 15 anos de vida. Mas, o pouco que vivi, que sei, que aprendi, que vi e que desejei, forma em si o que sou. Não, não venho falar de mim, não venho dizer nada do que eu já não saiba que sou. Mas o que possuo.
E naquele hilário momento senti que uma pequena lâmpada estava se acendendo no alto de minha cabeça. Como se algo enfim fizesse sentido. E em pensar que tantas vezes buscamos respostas em lugares mais contraditórios e quando menos imaginamos a resposta de que tanto precisamos está logo á ponta de nosso nariz. E foi exatamente assim que ocorreu.
Buscando algo que enfim fizesse sentido. Algo que me explicasse coisas. Coisas por que estou na família que estou, moro onde moro, por que nasci aqui ou por que sou assim e não de outro jeito..
Nesses 15 anos da minha misera curta vida eu planejei sonhos. Acho que, no entanto sempre acreditei neles, ou melhor, acredito neles. E sempre vivi deles, como se fosse um combustível, uma bateria. Minha pequena bateria de funcionamento que me fizesse acordar todos os dias. E então tudo mudou.
Alguns precisam viajar o mundo, vasculhar lugares, conhecer novas histórias. Precisam navegar em altos mares, voar á altas altitudes, conhecer pessoas, desfrutar novos sabores, sair e conhecer novos lugares, novas culturas, novas coisas que os satisfaçam... E antes que eu possa explicar, devo dizer que não julgo quem assim o faz.
Mas foi naquele dia, que eu coloquei todo o meu pequeno pote de sonhos e desejos de lado e o preenchi de uma famosa satisfação nunca pensada por mim antes.
Ah quem diga que conhecer lugares é maravilhoso, o sol de lá é mais quente, o mar é mais bonito, o céu é mais suave, a terra e mais viva... E sem nos darmos de conta despercebemos que o sol é um só, a terra é uma só, o mar também, as nuvens, as estrelas... Seja á qualquer lugar do mundo, nesses quatro cantos do mundo. É claro que em tal localização o ar é mais quente, mais frio, abafado... Mas ainda é a mesma terra. Ainda é o mesmo planeta. E de todos esses lugares eu vim parar aqui, aqui onde estou hoje. Na família que me acolhe, na casa cálida e harmoniosa em que vivo, com a comida que me deparo á mesa, com os animais em que tanto amo, fazendo frio ou calor, eu vivo aqui, habito neste humilde recinto de lugar.
E então de tantas vezes me peguei reclamando, pensando, e tentando entender por que eu vivo aqui? Por que meus pais enfim não poderiam ser mais diferentes? Por que a minha casa não poderia ser mais como uma de cinema? Ou, por que os meus cachorros não poderiam rolar e sentar como fazem na TV...
E naquela tarde eu entendi.
Como é a capacidade humana de reclamar sempre do que se tem em mãos. Como se nunca nada fosse o suficiente. Tudo que queremos é que todos pensem como nós. Se comportem como nós, e façam o que fazemos. Sem nem mesmo nos perguntar se o que nós somos seria politicamente correto pra obrigar o próximo a ser o que somos. E reclamamos mais ainda, mais de nós mesmos, do nosso corpo físico, das nossas roupas, do nosso quarto, dos nossos defeitos e até mesmo daquelas qualidades.
E sem conta reclamos mais, mais e mais. Até que se é preciso perder algo para nos mostrar o quanto de valor deixamos de dar.
Foi lá sob a imensidão do céu, que eu entendi que sempre em todos esses 15 anos tive tudo. Uma família pela qual eu jamais trocaria, seja lá qual for os seus defeitos. Se há algo que eu aprendi foi tentar lidar com eles á cada dia, e aceita-los como são, não posso mudar suas formas de agir ou de pensar, pelo contrário, eu posso aprender. Aprendi que sem eles eu não sou nada, jamais seria algo sem eles. São como grandes pedestais dos quais me sustentam e se qualquer um perecesse eu também pereceria.
Obtive o mais lindos dos dias, dias de chuva e de sol, dias dos quais sorri, dos quais chorei. Dias que me foram acrescentados á casa segundo, e que nenhum deles poderia ter sido esquecido.
Entendi naquele vasto dia, que a monotonia em si, com certeza deixa qualquer ser meio maluco. Mas maluco mesmo já é o homem em si. Maluco e burro, que não percebe a quantidade de coisas que tem em suas próprias mãos e nem se quer desfruta.
O amor.
Comumente e cálido, reconfortante e preciso em todas as vidas. Entendi o quanto amo tudo o que possuo. O quanto sofreria em mim qualquer coisa que á mim pertence se perdesse. E naquela tarde eu entendi o quanto amo cada pedaço desse pequeno mundo onde coloco meus pés, o quanto preciso de cada detalhe mesmo que parece insignificante, não importa, eu preciso, por que amo tudo que tenho.
E em pensar que foi naquela tarde que eu me dei em conta de dizer, algo que jamais tinha pensado antes, algo que certamente é pouco pra descrever tudo mais que aprendi. A importância dessa pequena palavra: “Obrigada.”
A todos que me fazem feliz, que me completam, que me enchem desse amor.
Á tudo.
Ao sol que me aquece, ao céu que vislumbro. Á tudo. Definitivamente tudo...


E naquele dia, naquela vasta tarde, de um dia qualquer, sim, eu senti que não precisava de mais nada. Pois eu já tenho tudo.


                                                 Com carinho, Annabel Laurino.