Seria um máximo se a gente socasse nossas coisas, nossas
tralhas, no porta-malas e partisse logo quando o sol amanhecesse amanhã. Se a
gente tivesse um carro. Nesse caso, a gente jogaria uma mochila nas costas e
voaria daqui, dessa cidade cheia de princípios antigos e gente de mente pequena
e rostos conhecidos desde que saímos da maternidade. Vai, eu aposto que você
era o bebê ao meu lado na sala do maternal, berrando sem parar. Isso explicaria
muita coisa, destino, fado. Como dizia Cazuza, nossos destinos foram traçados
na maternidade. E por que não?
Queria te dizer
tantas coisas, mas dizer ocupa tempo no espaço cheio de adornos eloqüentes que
vivemos hoje, melhor mesmo é deixar a musica doida e agitada tocar alto nos
auto falantes enquanto a gente se curte sem medo, planejando uma emboscada
qualquer, uma fuga divertida no meio da noite, sem deixar bilhete na geladeira.
Não faz sentido
essa gente chata por ai e seus padrões ironizados e ultrapassados. Eu mesma, já
tentei tantas vezes adentrar em um desses padrões, mas eu tão baixinha,
acinturada e quadris largos simplesmente não entro nessa história. Falando sério,
to legal assim, fazer o que. A mente Ta boa, te garanto. E no fundo é o que
importa mesmo. Só queria mesmo era ficar longe dessas coisas todas.
Um final de semana
na praia, alugando um quarto barato, saindo pra caminhar nas manhãs ensolaradas
de nuvens meio brancas celestiais ia renovar nosso espírito, quem sabe eu até
me descobrisse. Quem sabe até esses sonhos loucos, esses pesadelos constantes
cheios de insignificados, gente que desconheço e pressões súbitas de realidade
onde me vejo presa sem conseguir acordar, passassem.
Passaríamos um
final de semana longe de tudo, vendo as ondas quebrando, os pássaros e os
bichos estranhos na auto estrada, as arvores verdíssimas e o asfalto cinza aglutinado na
paisagem da janela do primeiro ônibus que iríamos pegar pela manhã. Conheceríamos
uns caras loucos que nos apresentariam a mais um monte de amigos mais doidos
ainda e que nos chamariam para uma social, nos contariam histórias trágicas sobre
suas viagens malucas em meio ao mundo e essas coisas meio blá.
Pode parecer
loucura, mas eu ficaria até bem. Seria bom, não acha? Podíamos nadar nus em uma
praia paradisíaca e ter as roupas roubadas, nos perder, ficar sem grana e ter
que ganhar um dinheiro em um trampo de meio período no fast food gordurento da
auto estrada. Que acha? Tranqüilo? Aventura de mais pra você? Prometo que
depois de um mês a coisa engrenava e a gente dava no pé daqui para a Sicilia,
ou Marrocos, Egito, Arabia Saudita, Sudão e tal.
E então, vamos?
Pega suas malas ali, coloca aquelas suas meias quentes, pode fazer frio, não
esquece da máquina fotográfica e das camisetas abarrotadas. To te esperando
nessa espreitada, um beijo.
Annabel Laurino.