sábado, 4 de agosto de 2012

Cadarços, Balança, Vida chata e eu, a louca

    Ficou um vazio. Sei lá. Um vazio meio tosco, parecido mais ou menos de quando a gente tenta abraçar o mundo, mas não consegue. Quando a gente acaba de amarrar os cadarços e três minutos depois eles estão tictaqueando na calçada suja. Da uma vontade de entender por que não ficam amarrados. Por que os benditos otários cadarços não ficam lindos e bonitos no idiota do laço que você acabou de dar.
    Eles simplesmente de desesronlam, desnodam, se desfazem. Sem permissão, consentimento, funciona basicamente além da física, matemática ou se você quiser se aprofundar mais, vai além da objetividade a respeito do material dos cadarços, da força exercida do nó para com o laço e a gravidade do ar, o movimento do pé com a pressão exercida sobre o nó e o quanto ele poderia desfazer-se ou não.
    Não sei. Não faz muito sentido se você quer minha opinião, mas da mesma forma dos cadarços de um calçado a vida funciona basicamente assim. Vai além, se você quiser se aprofundar. E também pode ser bem simples, caso você queira ser objetivo e seja do tipo de pessoa que prefere as coisas as claras/escuras, para não perder tempo tentando decifrar nada quando você sabe que a resposta pode não lhe agradar.
    Aquela garota que você quer muito? Ela não te da bola? Não te liga? Não está nem ai pra você? Aquele garoto então? Não? Ta... Não é nem sexos a parte, talvez o emprego, a faculdade, a prova, a oportunidade dos sonhos, a viagem, o carro novo, ou quem sabe mais simples então... O próximo ônibus que iria pegar, o livro que iria chegar e não chegou, o bolo que abatumou na hora das visitas, as chaves que você perdeu, a discussão antes de dormir...
     A lista é longa, campeão, mas somos sobreviventes deste acaso initerrupido que a vida nos oferece dia após dia. Eu, você e acho que todo mundo, a não ser aquelas pessoas chatas e perfeitas que tem tudo nas mãos e muito dinheiro, sentadas o dia inteiro na beira da piscina com um cosmopolitan na mão. A não ser elas, somos como todos os outros e sofremos do acaso irritante da vida, a balança do destino. Pode dar certo, pode dar errado e na maioria das vezes achamos que o certo era o errado e o errado o certo, e quando tudo se confunde, nos confundimos, não aceitamos, choramos, nos escabelamos e pobre travesseiros para nos aturar.
    Comecei a aceitar o desfrute da vida de me surpreender. E ela parou. Sério mesmo, ficou quieta. E a vida ficou mortalmente chata se você quer saber. Chatissima, um porre. Todo dia abro a janela na esperança de encontrar algo super legal no jardim, uma passagem secreta para outro mundo, um avião, um pônei, uma cafeteria esclusiva, epa! Estou pedindo demais...
    O importante, o irreversível nessa história toda, nessa longa estrada toda que damos um pequeno passo de tartaruga todo dia é que a jornada adiante sempre nos espera para nos pregar peças. Sim, inoportunas peças. Decide você se chora, se ri, se aceita. Ou se assim como eu, malucos a parte e adoidados andando por ai, começa a desviar curvas, adentrar a mata, criar próprios caminhos e pregar peças na própria vida. Coisa de pirraça, bobagenzinhas. Não salva, mas diverte. Advirto.

Annabel laurino

Bobagem é não viver a realidade

    Eu queria. Muito. Mas depois as horas perduraram no relógio e tudo que eu queria era dormir. Mas não mais com você. Não mais sonhando ou pensando em você, só dormir. Entende? Não? Tenta vai. Eu só queria. Te queria, queria a gente, queria nós, enroscados, entrelaçados, dormidos, acordados, despertados, sedentos, famintos, mas não rolou, não desenrolou, só complicou ainda mais. Ficava olhando você através daquele caleidoscópio sem lógica, perfurando todos os teus defeitos inimagináveis e achando que podia lidar com cada um deles. Sei lá, foi mal, não posso. Você não ajuda também, não ameniza o choque. Fica me embebedando das suas crises, das suas coisas diferentes de mais para mim e nem espera para que eu digira. Achava que minha sede é de amor, mas minha sede é outra. Que você me deu no começo, e continuou me fartando dia após dia, de todo esse seu carinho, mas dai tive que começar a abrir mão de coisas, dizer adeus para tantas outras, dividir meus dias ao seu lado e vi você, amontoando seus pacotes de vida, costumes antigos, manias chatas, coisinhas pequenas ao lado, como um mero animal se preparando para o inverno. Você não querendo abrir mão de nada seu, e logo achando que seu carinho a mim depositado era muito. Mas era o minimo meu amor, meu amigo, meu fado, meu anjo, meu lindo. O minimo. E eu toda enferrujada fazendo ao máximo para criar em mim um coração, como o Homem de Lata em o Mágico de Oz e você como o Leão, o covarde. Não consigo te dizer mais nada, só isso. Acordei de um sono lento enquanto assistia a novela, sentada no sofá da sala. A realidade difundida na minha cara sonolenta, nas minhas retinas escuras, e eu toda boba, querendo fantasiar.

Annabel Laurino