Ficou um vazio. Sei lá. Um vazio meio tosco, parecido mais
ou menos de quando a gente tenta abraçar o mundo, mas não consegue. Quando a
gente acaba de amarrar os cadarços e três minutos depois eles estão
tictaqueando na calçada suja. Da uma vontade de entender por que não ficam
amarrados. Por que os benditos otários cadarços não ficam lindos e bonitos no
idiota do laço que você acabou de dar.
Eles simplesmente
de desesronlam, desnodam, se desfazem. Sem permissão, consentimento, funciona
basicamente além da física, matemática ou se você quiser se aprofundar mais,
vai além da objetividade a respeito do material dos cadarços, da força exercida
do nó para com o laço e a gravidade do ar, o movimento do pé com a pressão
exercida sobre o nó e o quanto ele poderia desfazer-se ou não.
Não sei. Não faz
muito sentido se você quer minha opinião, mas da mesma forma dos cadarços de um
calçado a vida funciona basicamente assim. Vai além, se você quiser se
aprofundar. E também pode ser bem simples, caso você queira ser objetivo e seja
do tipo de pessoa que prefere as coisas as claras/escuras, para não perder
tempo tentando decifrar nada quando você sabe que a resposta pode não lhe
agradar.
Aquela garota que
você quer muito? Ela não te da bola? Não te liga? Não está nem ai pra você?
Aquele garoto então? Não? Ta... Não é nem sexos a parte, talvez o emprego, a
faculdade, a prova, a oportunidade dos sonhos, a viagem, o carro novo, ou quem
sabe mais simples então... O próximo ônibus que iria pegar, o livro que iria
chegar e não chegou, o bolo que abatumou na hora das visitas, as chaves que você
perdeu, a discussão antes de dormir...
A lista é longa,
campeão, mas somos sobreviventes deste acaso initerrupido que a vida nos
oferece dia após dia. Eu, você e acho que todo mundo, a não ser aquelas pessoas
chatas e perfeitas que tem tudo nas mãos e muito dinheiro, sentadas o dia
inteiro na beira da piscina com um cosmopolitan na mão. A não ser elas, somos
como todos os outros e sofremos do acaso irritante da vida, a balança do
destino. Pode dar certo, pode dar errado e na maioria das vezes achamos que o
certo era o errado e o errado o certo, e quando tudo se confunde, nos
confundimos, não aceitamos, choramos, nos escabelamos e pobre travesseiros para
nos aturar.
Comecei a aceitar
o desfrute da vida de me surpreender. E ela parou. Sério mesmo, ficou quieta. E
a vida ficou mortalmente chata se você quer saber. Chatissima, um porre. Todo
dia abro a janela na esperança de encontrar algo super legal no jardim, uma
passagem secreta para outro mundo, um avião, um pônei, uma cafeteria esclusiva,
epa! Estou pedindo demais...
O importante, o irreversível
nessa história toda, nessa longa estrada toda que damos um pequeno passo de
tartaruga todo dia é que a jornada adiante sempre nos espera para nos pregar
peças. Sim, inoportunas peças. Decide você se chora, se ri, se aceita. Ou se
assim como eu, malucos a parte e adoidados andando por ai, começa a desviar
curvas, adentrar a mata, criar próprios caminhos e pregar peças na própria
vida. Coisa de pirraça, bobagenzinhas. Não salva, mas diverte. Advirto.
Annabel laurino