sexta-feira, 9 de novembro de 2012

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Com toda a tristeza admito: o que precisava dizer, já não consigo.

Uma compressa de sexta


    A sexta feira chegou esmagadora. As imagens na cabeça eram do filme de terror visto na noite passada, aquele meio antigo em que a menina vira a cabeça em 1000° e da as piores risadinhas diabólicas do mundo. Sem contar que no fundo da retina, muito complicada e perdida, estavam todas aquelas tragédias diárias, das familiares até as frustações românticas. A sexta começou mal.
    Começou afogada numa caneca de café amargo e com um olhar ainda mais amargo diante do espelho. “Meu Deus, pensou, eu devia estar feliz.” E porém, não estava.
    Tinha, aquela menina meio descabelada, a péssima mania de misturar sentimentos como se fossem alimentos sendo jogados num liquidificador, e que ela ligava, com o maior prazer, sem se preocupar em por a tampa, fazendo tudo voar pelos ares, manchando as paredes, tingindo o branco limpo das cortinas intocáveis.
    Dizem que as sextas feiras são os piores dias da semana, são o ultimo grito do martírio e então o salve da paz em direção a liberdade do final de semana e do “venha tudo que puder” o qual nos trazem sempre.
    No fim não acontece nada. E nunca acontecia de qualquer forma.
    Tomou banho gelado e pôs no corpo a roupa obrigatória de toda a semana, sair a luta era o potencial dos dias, ser esmagada pelas suas próprias emoções era o fado de uma vida sem explicações.
    Começou a chorar sempre. Antes de dormir, quando as luzes eram apagadas e se via envolta pela escuridão, dormia chorando, entre o rolar de uma lágrima e o gemido fininho de uma dor aguda no coração. Sem contar quando começou a chorar até quando chegava em casa, sentada no sofá abraçada à uma almofada. Nunca fora assim tão sensível, e agora, parecia quase que iria quebrar, de dentro para fora.
    Pressentia nos ventos abafados daqueles dias calorosos uma estranha sensação que chegava a perfurar no peito, uma espécie de sede destrutiva, de fuga da realidade, de fazer mil bobagens ou, de simplesmente não fazer absolutamente nada. Uma dorzinha mesclada com desejo que beirava à desistência. E não sabia explicar. Mas havia sempre, sobre essas sextas, uma vontade doida de sumir de tudo, sumir com tudo, mesmo que o sol ainda berrasse grande e impotente lá fora.



Annabel Laurino

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“esmagamar:
porque eu esmago
ao invés de amar”
    — J.Castro