quinta-feira, 3 de junho de 2010

Redescobrindo

Você já parou pra pensar em quanto tempo se gasta chorando por algo que depois de certo tempo você descobre que na verdade mesmo, não era nada? Nunca foi nada. Sim, absolutamente nada. No meu caso, claro, foram longos quatro meses. E claro, longos e insuportáveis, mas necessários. Necessários até para se ver algo que estava bem na ponta do meu nariz, gritando, exclamando atenção, e que simplesmente eu negava ver. Só que tudo que se é pra ser visto é a apenas fato até ser basicamente notado.
E bem notado.
Mas pouco importa.
Pouco importa o quanto eu chorei, o quanto de tempo eu perdi batendo com a cabeça tentando entender cada pedaço de erro deixado pra trás. Pouco importa o que ficou pra trás.
E que seja isso.
Eu não sei bem o que me fez acordar assim hoje. Talvez eu tenha percebido algo que não andava mais percebendo á muito tempo.
Eu mesma.
Mesmo com aquela claridade toda me segando os olhos, logo em um início de uma manhã. Aquela luz penetrante, cálida até mesmo pra um frio de outono.
Eu me aproximei daquela figura lisa e brilhante, tudo se refletia ali. A janela, o sol, as nuvens, á cama por dentro do quarto, a escrivaninha... E enfim quando me pus á frente desta, eu pude ver, era eu mesma.
Foi estranho me ver assim. Principalmente se seu pijama diz “Good Night Bad Girl”. Mas fora isso, foi estranho. Eu sabia o que eu era por dentro daquele corpo que refletia. Eu compreendo basicamente tudo que se passa por dentro, mas não por fora. É como se eu me visse estranha naquele corpo que refletia sobre a superfície. Era engraçado pensar que dentre tantas pessoas eu sou só mais uma. Mais uma garota adolescente em tudo aquilo por fora, me distinguiria uma pessoa completamente normal, e inofensiva.
Mas embora tantas características em que eu possa possuir, de todas as formas físicas que me façam humana e tudo o mais. Á algo dentro de mim em que eu precisava ver.
Confesso, eu havia esquecido já, todos os sonhos em que eu vim planejando todos esses tempos.
Os sonhos que eu mesma criei pra mim. As minhas vontades, meus desejos, minhas alegrias, minhas tristezas. Eu havia esquecido tudo isso, por um simples fato que acabou tornando-se insignificante, não que eu quisera, lutei para que não fosse.
Mas á horas na vida que por mais cruel que se possa ser, por mais duro que seja abandonar o passado e seguir em frente. Por mais medo que possa latejar em seu peito e gritar suplico em sua garganta para que seja libertado. Ás vezes é melhor seguir em frente. Abrir á porta e descobrir um novo.
Trocar as roupas velhas por vestes novas e limpas. Esquecer as mágoas do passado. Mas os erros jamais, pois até eles servem de aprendizado.
Eu acho que tudo isso foi bom. Esse tempo pedindo pra entender algo que eu já entendia.
Algo que eu já tinha em minhas mãos, mais não olhava, não admirava como merecido.
Eu mesma! Eu me esqueci. Esqueci meus valores, minhas formas. Esqueci o que mais amo, pra ir em busca de algo que no fundo não teve valor algum. Apenas como aprendizado... Apenas.
E foi assim.
Foi assim que eu acordei naquela manhã. Entendendo que eu não preciso beber todas pra ser feliz. Que eu não preciso da roupa mais linda do mundo pra ser linda. Não preciso do namorado mais gato do colégio pra ser á mais importante. Não preciso ir em festas toda noite pra ser á mais conhecida.Não preciso de nada que não me satisfaça.
E sabe. Eu encontrei valores que estavam aqui, por sobre a minha mão e que são muito mais valiosos do qualquer outra coisa que pudesse me distinguir.
Eu preciso da minha família pra ser feliz e amada. Acho que jamais encontraria aquele calor, aquele fervor de um amor cálido e reconfortante no peito sem eles. Sofreria a maior dor no mundo se os perdesse, me perderia de mim mesma então, e não haveria lágrimas e nem palavras que pudessem distinguir tal dor. Choro sem seus sorrisos, sinto falta de seus abraços, me vejo em cada pedaços deles. Aqueles rostos que em olhos dizem tudo. Sei que dariam o mundo pra mim se pudessem. Mal sabem eles que já me dão o mundo todo dia em que acordo e vejo seus rostos. E, preciso de meus amigos também, mas amigos de verdade, não aqueles de um “olá e até mais”. Aqueles que vêem e abraçam forte, aqueles que seguram da mão quando o medo toca o peito, aqueles que secam suas lágrimas, que não os define de feio ou bonito, mas apenas você mesmo. Aqueles que não se importam com o que você tem ou não, eles estão com você sempre. Eu preciso daquele caminho que trilho pra chegar á escola. Observar sempre as mesmas pessoas pode até parecer chato, mas torna-se interessante quando ás conhece melhor. Eu preciso ver filmes, entender como seria se tudo aquilo que mostra fosse real, imaginar. Eu preciso de meus livros pra imaginar como seria, ser tudo de uma vez só. Sendo que ser eu mesma já me basta.
Eu preciso de tudo que me cerca, tudo que eu amo, tudo que eu jamais veria como não viver.
Eu aprendi que viver um dia de cada vez é muito melhor do que viver todos e no final não viver nenhum.
Não me adianta nada encostar a cabeça nos travesseiros e imaginar como será o dia de amanhã, se o amanhã nem chegou. Se o amanhã nem amanheceu. Se o hoje ainda está aqui.
Mais uma lição, mais uma aprendizagem.
Embora possa parecer tolo aos olhos alheios, é preferível ser tolo aprendendo, ao que ser tolo julgando.
E assim tornam-se tudo.