quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

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"Eu gostaria que tudo crescesse naturalmente."






                                                        Caio Fernando Abreu

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    E indo dormir outra vez, outra noite, como todas as outras vezes, você olha pro relógio e não se surpreende pela hora. Abre a janela, respira o ar úmido de chuva de verão e olha pro céu, pro negrume vazio do ar denso que se espalha e chega a adentrar errante por dentro de si. Inspira forte e longamente. Sozinha, você pensa que daqui a pouco o sol surgirá. "Here Comes The Sun". Você sorri.
    Pensa, você pensa. Como um sussurro que ninguém poderia ouvir, você se vê falando: Boa noite, dorme bem, sonha com os anjos, ou comigo, ou com qualquer sonho bom que te faça acordar e ter um motivo pra sorrir e querer viver. Sinta-se em paz, receba o meu carinho. Te gosto para sempre.
    Rapidamente você fecha as janelas, você vai dormir. E logo você também vai sonhar.


bebellaurino.

Prenda-me.

    E se algum dia você me achar, mais do que eu própria me achei esse tempo todo em que vivi dentro e fora de mim mesma, eu peço, por favor me prenda. É. Me prenda no que for. Nas suas garras fortes de mãos firmes de quem vai a luta ou dos teus braços quentes e macios de quem não tem medo de abraçar o corpo de outro alguém e de lhe doar o melhor e mais cálido reconforto, ou me prenda nos teus olhos cintilantes que poupam palavras abstratas que simplesmente, e muitas vezes, só preenchem o vazio. Ou me prenda nos teus lábios, que mel não resvalam e nem amargas coisas dizem, mas que sabem pronunciar a verdade e que também sabem esconder do perigo os segredos mais obscuros. Mas, simplesmente me prenda. Com o que você puder, como puder. Mas não me deixe seguir em frente achando que me achei inteira sem saber que existe outro alguém que me acha muito mais do que eu própria. Simplesmente não se perca de mim, muito mais do que eu me perdi de mim, por que eu reconheço esse erro. Não tem volta. Mata, feri e nunca soluciona.
    Me prenda, em ti.

Annabel Laurino.

Distante.


    Você tira os sapatos, coloca aquele camisetão gasto e preto, você bagunça os cabelos, bebe um gole de café bem amargo e quente, que desce pela sua garganta e acaba no seu estomago vazio desde a primeira e ultima refeição do dia, um biscoito de sal. Você anda pelo quarto, se olha no espelho, faz uma careta estranha, pega o telefone, nenhuma ligação. Anda pelo quarto de novo, liga o som, toca “Penny Lane” dos The Beatles, depois você chora um pouco e depois você se senta na cama. Admira o céu cinza meio fustigado de nuvens negras e pastosas. Você olha as arvores e fica em silêncio absoluto até que percebe os primeiros pingos de chuva cintilarem no vidro da janela. Você cantarola baixinho ao som de “Something”. Você fecha os olhos, e lembra-se como se fosse um sonho de quando era criança, das tardes sentada na mesa do ateliê com a sua avó, pintando panos de pratos e desenhando gravuras de revistas sobre natureza morta. Você se lembra de entender enfim o que era natureza morta. Você sorri se recordando de quando fazia seu avô se levantar da soneca da tarde e comprar picolés na esquina para você e de como se divertia em assistir ao “Vale á Pena Ver de Novo” ao lado de sua avó enquanto ela tricotava e vocês duas riam dos roncos altíssimos do seu avô no sofá.
   Você queria que o tempo voltasse. Você queria não saber das coisas que sabe hoje, você queria ainda poder passar as tardes de chuva brincando de bonecas e desenhando borboletas de tintas no papel. Você ainda queria acreditar que todas as pessoas seriam boas e que seu coração nunca iria se machucar. Você queria não saber o que é amor. Você queria saber como não amar. E logo, você se cansa que querer qualquer coisa impossível e absurda que logo você se da conta de que nunca vai acontecer. Você suspira, termina o resto de café, suspira outra vez, olha pro céu e chora mais um pouco, sem nenhum soluço soltar. Simplesmente queria que alguém puro, de coração limpo, pudesse reconfortar seus pensamentos e receber-te no colo, só pra variar. Queria ouvir uma canção e uma história de princesas, ter o cabelo escovado antes de dormir e um chá quente preparado para aquecer o corpo e desanuviar os maus sonhos. Simplesmente você não queria se sentir só. E só consigo mesmo. E só com o passado distante que não se ilumina mais.


Annabel Laurino.



Wish? And the Now? And the Make?

    Você se pergunta o que realmente poderia acontecer para enfim fazer com que algo na sua vida fizesse algum sentido básico, meio que direto e indireto, mas que fizesse algum sentido. Algo que pudesse levar você tanto para a direita, ou para a esquerda. E no fim das contas você não sabe. Por que você já não sabe mais pelo o que afinal esperar.
    As pessoas dizem que querer de mais é ambição, e querer de menos é pensar muito pouco, é não saber viver. Mas e o que você deseja todas as noites antes de dormir? Quais são seus sonhos mais ardentes? Quais são as suas vontades mais latentes?
    Não tenha medo, o que esta dentro do coração não deve ser retido ou contido. Se não, aonde iria parar o impulso vital de viver?
    Seres robóticos se espalhando por ai. Essa não, quando você percebe, é mais um. Repetindo tudo que eles dizem, só por que parece legal dizer, pensando o que eles pensam, por que parece correto pensar também, vestindo o que eles vestem, "cor de rosa e tons azuis com jeans está super em alta agora", e comendo o que eles comem, afinal "carnes e fast foods são a glória da pátria, onde serviria-se anos de lutas por um tasco de felicidade"?
    Você precisa entender, ou você sonha e faz, ou você sonha e dorme, e volta a dormir, como todas as outras noites. E pega os seus sonhos e os guarda embaixo do travesseiro, e depois espera até que a próxima  noite chegue e você possa enfim brincar de historinhas com eles. Aquela tipica iniciação de: "E se fosse verdade..." .
    Não existe essa de querer inventar desculpas, de dizer que tem medo, de chorar por que é difícil, de ficar dando murros nas portas até que a que o levo ao caminho mais fácil resolva se abrir para você poder entrar. Não existe contos de fadas e nem príncipes encantados, dietas mágicas e pote de ouro no fim do arco-íris, não existe essa baboseira toda que as pessoas decidem acreditar por que é mais fácil do que simplesmente começar a realizar o que elas desejam. Não existe também três pedidos ou beijos em sapos. Simplesmente não existe.
    Existe o agora. E o fazer.
    Isso sim existe.


    Annabel Laurino.

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     "...Você se cansa de não saber exatamente do que está cansado. Se cansa do "alguma coisa está errada" que paira sobre o ar desde uma época que você não se lembra.
    Se cansa das avenidas, das ruas, das alamedas, das praças, do sol, dos postes, das placas de sinalização, das buzinas.
    Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do "apesar de". Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do "a vida é assim mesmo". Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono.
     Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.
    E você não para, até que esteja morto."

                          PC Siqueira 

Lonely Heart

    Coração solitário, vago por um caminho distante e recolho as roupas espalhas pelo chão gasto e empoeirado do quarto. Não sinto nada. Nada toca dentro desse coração. E das poucas coisas que me são ainda sentidas, e das pequeninas coisas que me chamam a atenção, apenas substituem vestígios desse vácuo compreensor dentro de mim.
   Preferi assim, escolhi por esse caminho e quero desfrutar do gosto agridoce de sentir perder e ganhar sozinha, de abrir as janelas e sentir a brisa do verão quente e abrasante preencher as tardes languidas desse pequeno período de tempo, em que me guardo dentro dessa caixa colorida e disforme, onde escrevo coisas sem sentido, onde me escondo do mundo, onde deito, leio, como e durmo, onde divago e choro, tudo muito silenciosamente, na solitude completa, sem ninguém perceber.
    Poderia até parecer muito dramático, meio que ever-dark-forçado, mas não é nada disso não. Decidi que o melhor remédio pra mim é a solidão, e sei viver muito bem assim. Gosto da maneira como tudo se encaixa apenas pelo esforço do tempo, gosto de me sentir assim, meio que solta, sozinha, sem ninguém. Tudo bem, faz parte, e eu gosto. Eu adoro me vestir só pra mim, de ler livros á tarde inteira, de passar tempo com as amigas, de sair para ver o mar e de caminhar tirando fotos de tudo, de tomar muitos cafés e de ajeitar o cabelo da melhor maneira que me convém.
   Cansei de me ferir, cansei de correr atrás, cansei de me importar, cansei de esperar o perfeito acontecer, cansei de querer alguém ideal e legal, e que cuidasse de mim, e que se importasse com o que eu dissesse. Alguém que fosse educado e gentil, que eu pudesse sorrir com gratidão ao apresentar aos meus pais.
  Acorda menina, repito para mim mesma, essas coisas só existem em sonhos, e você não tem esse tempo todo, bora já viver! Tipo, lonely heart vagando por ai.



                            Annabel Laurino.