São esses, os pequeninos momentos, de caminhar e chapinhar na lama, de cair de bunda na areia molhada, sentir as gotas pesadas de chuva baterem sobre sua cabeça e rapidamente lhe inundar de água gelada. Os risos escapando de sua boca em gargalhadas divertidas e gostosas, como calda doce escorregando no ar, para algum lugar. É melhor do que ótimo. Escutar o outro som de outra risada próxima acompanhando seu riso, gargalhando divertida por ver você caído no chão, com os cabelos molhadas, as vestes sujas de lama.
Os cachorros se desprenderam da coleira e saíram correndo pela praça, você quer busca-los, mas o riso é tão forte e gostoso que sua barriga dói. A chuva é mais forte agora, as folhas amareladas caídas pelo chão são como grãos de arroz nas enormes poças de chuva.
Você sai correndo pela chuva, pingando feito um pinto molhado, tirando os cabelos encharcados dos olhos ainda escutando os risos companheiros da pessoa que lhe mostra que você não está sozinha.
Correndo, o vento trazendo a chuva para seus olhos, tentando ver em meio as gotículas frias, você sai correndo atrás do enorme cão preto que brinca com as folhas nas poças com as patas como uma garça feliz enquanto a cola abana-se descontroladamente no ar. Você o pega o abraça, e ri pela cara faceira e astuta que ele lhe mostra.
É um daqueles momentos, aqueles momentos que você só tem poucas vezes na vida. É como estar em um filme, e tudo que você consegue fazer é sorrir, tudo parece mágico e renovador.
Você não tem duvidas, sobre você ser capaz ou não de fazer algo, você não sente o medo, e nem mesmo a angustia ou preocupação por suas roupas estarem completamente encharcadas.
Tudo simplesmente adentrou um vácuo distante que por um milagre, você conseguiu escapar.
Você pode ainda assim, sentir aquela velha saudade perfurando seu peito, você pode querer ele por perto naquele exato momento, não por que é um momento feliz, somente por que você gostaria de ouvir a risada dele se mesclando junto á sua. Mas, mesmo assim, você compreende.
Acima da saudade.
Esses momentos completamente felizes e renovadores não nos servem só para um bem estar físico ou mental, espiritual, sei lá. Mas como se uma fixa caísse e algo instantaneamente afrouxasse em seu peito, você compreende coisas que nunca poderia ter compreendido antes.
Você compreende o momento. O momento do aqui e agora. O momento de saber viver e respirar sem pedir nada mais em troca. O momento de esperar, de entender que tudo vem e vai com um propósito. O momento que certamente foi feito para dar certo, mas custa para chegar, apenas demorar, não quer dizer que não vá chegar. O momento da certeza brilhante e chamuscante que lhe aquece mesmo em meio a chuva fria escorrendo pelo seu corpo.
As coisas vão ficar bem a partir de agora. As coisas vão dar certo.
E você pode se perguntar por que? Por que tanta certeza?
Então você olha a sua volta, os cães com seus olhos brincalhões e divertidos, um enorme e outro do tamanho de uma almofada de dormir, os dois parecendo completamente felizes. Você olha a alma viva que lhe acompanha, o sorriso bonito em seu rosto, os cabelos desgrenhados e também molhados, as vestes grudadas no corpo, você vê aqueles olhos brilhando da mesma certeza que os seus. As arvores se balançando no ar, as folhas caindo, a chuva despencando mais lentamente, a calmaria, os barulhos dos respingos explodindo no chão.
A certeza de um momento vale mil vezes do que uma vida toda.
Está respondido, certamente respondido.
Por que foi feito para dar certo.
Basta crer.
Annabel Laurino.