domingo, 9 de outubro de 2011

                                                                      (C.F.A)

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Depois que aquela pessoa se torna essencial, depois que sua vida não é mais a mesma sem ela. Como se faz para retira-la de lá? Digo, lá, do coração, da memória, das fotos, dos beijos, do seu corpo, e das sensações brutas que insistem em latejar. Saudade, aquela ardência vertiginosa de desejo indesejável não permitido.

Annabel Laurino.

You and Me.


    Vamos nos casar. Isso é certo. Não importa o que aconteça até lá. Mas vamos nos casar e vamos morar naquela casa de que você me contou afirmando que seria maravilhosa para nós dois. Vamos acordar todos os dias com os cabelos bagunçados. Eu com o meu jeito insano e despertado, você com seu lado preguiçoso, fazendo protestos para te deixar dormir mais um pouco, mas vou me jogar sobre seu corpo, vou lhe beijar e te sentir despertar aos poucos. Vamos rir juntos. Vai ser tudo tão intimo, vamos estar acostumados. Vou fazer manha, te pedir para me trazer café na cama, aquele café bem forte e quente. Você vai me dizer que sou o carma da sua vida mas que mesmo assim me ama.
    Te esperarei chegar do trabalho. Vou escutar você jogando a pasta na mesa de entrada, vou imaginá-lo afrouxando a gravata e irei correndo me jogar nos seus braços, tirarei suas roupas e te preparei um banho quente escutando você me contar como foi seu dia, enquanto baixinho vou sussurrar que senti muito a sua falta.
    Seremos organizados, teremos um cachorro, brigaremos sobre a cor das paredes, sobre a melhor forma de fazer o jantar, iremos nos beijar na soleira da porta, nossos vizinhos vão protestar. Seremos malucos, certinhos. Você vai ler o jornal sentado á mesa da cozinha enquanto perpasso a minha perna na sua perna pedindo sua atenção. Você vai dizer que é louco por mim, vou dizer que não vivo sem você. Teremos um jardim de rosas, que regaremos juntos, e nosso cachorro será a primeira peça de uma família inteira que construiremos juntos. E depois de muitos anos, sentados á varanda, vamos ver nossos filhos brincar lá fora, e diremos um para o outro, que sim, valeu a pena lutar.


Annabel Laurino.


Madness!


    É esta todo mundo pirado. Todo mundo correndo para todos os lados.
    E Cadê a carta? Aquela que todo mundo espera, para aquela prova louca da qual devemos passar e que vai decidir as nossas vidas por um ano, ou talvez, por toda a sua vida. O que fazer? Estudar anos a fio em uma faculdade da cidade pequena, escutando todo mundo dizendo que você deve fazer? Ou pegamos uma mochila e viajamos o mundo, sem dinheiro algum, tipo, saindo por ai meio que sem rumo?
  Não tão literalmente talvez. Ok.
  Que tal trabalhar como barista naquele café em Sampa, ou sei lá, ir pro Rio, você lembra daquela sua tia que mora lá? Então, pode ser legal. Você pode descobrir o que fazer daqui uns cinco anos quando todos os seus amigos já estiverem formados e tomando whisky em suas festas de formatura fazendo uma social para as fotos com cara de chapados depois de noites insanas sem dormir por causa do nervosismo.
    Você pode dizer que não esta nem ai, talvez não esteja mesmo, talvez você só não quer admitir que se você disser que esta, você não saberia dizer quais são os seus planos, por que na verdade você não tem nenhum.
    Mas quem se importa?
    Ta na hora de fazer o que quiser, as oportunidades são imensas. Quem disse que você tem que ficar nessa cidade até morrer e criar seus filhos para freqüentarem a mesma escola que você? Quem foi que disse que você tem que ir pra faculdade, colocar um jaleco, ser médico e fingir que é importante, quando tudo que você queria era estar na praia azarando aquelas gostosas do terceiro ano da escola que sempre acharam você um saco? 
    Eu já nem respondo mais. Não ligo se uma carta do correio chega ou não. Os dias não passam mais do que contados. Sirvo-me de café, sento-me a mesa, ligo o computador e escrevo. Se me perguntarem o que eu quero fazer depois que o terceiro ano acabar eu vou dizer assim: “Olha cara, sabe de uma coisa, quando essa droga toda acabar eu vou sentar e beber muito café, muito mesmo, vou pegar uma mochila e vou pra algum lugar, qualquer lugar, e vou passar a minha vida toda escrevendo, quem sabe você topa comigo por ai, me vê na televisão, quem sabe? Vai ver eu me torno a maior revolucionária de alguma coisa insana que as pessoas vão julgar importante, ou talvez eu me torne a maior mané da história e depois de alguns anos eu veja todos os meus amigos se formarem na faculdade enquanto eu vou estar com pilhas de xícaras de café do lado e um romance clichê inacabado na estante do meu quarto. Mas na verdade, quem liga mesmo? Eu estou aqui pra viver, e você?”

Annabel Laurino.

It's a question...


    Dizem que as conotações do dia influenciam no seu humor. Dizem que a chuva o deixa mais dormente, meio largado, jogado sobre o sofá sem saber o que fazer. É estranho, você se diz jovem e irado, diz que não teme a nada, que coisa alguma o impede de ser feliz. Mas o tédio esta sempre impedindo você. Se diz corajoso, dono de uma boa mente, mas deixa o medo não permitir você de lutar.
    O que está havendo?
    Quando o sol surge, você diz que ama o sol, mas se esconde nas sombras reclamando do calor que o faz suar. O café é sua bebida favorita, refrigerante nem pensar, carnes não entram na sua geladeira, mas você adora falar com os amigos sobre novas formas de assar e tostar uma carne naquele churrasco de final de semana que toda a galera vai.
    É estranho. O que esta havendo?
    A música rola a solta, todo mundo bebe, menos você. Mas que consternação, você começa a beber. Vai contra seus princípios, que droga. Mas você não esta nem ai.
    O que é afinal?
    Rebeldia exagerada, chamam assim. Sua mãe diz “nessa idade...”, você já nem ouve mais.
    Não é isso, você tem certeza. É algo mais.
    Você mastiga a ponta da língua afirmando a procura aguçada de respostas. Você chora por que teme ser um estranho desconexo do qual só você mesmo inventou.
    Cai na real, fingimento afinal, não é legal. Você teme, você pensa.
    As coisas são estranhas, você é você. Ou não é mais? Afinal quem é você?

Annabel Laurino.

Wonderful World, vai se chamar assim...


Não fala nada. Não tem mais o que dizer. Estou aqui, e você também. Qualquer segundo a mais é muita sede e qualquer sede é um engasgo nesse tempo que nunca passa. To te querendo muito. Não ta fácil. Te quero agora, sem depois. Sem os antes que já ultrapassados e amassados joguei pelos cantos do quarto. Quero agarrar-me ao teu corpo e permanecer, sair por ai com você, sorrindo. Quero pra agora, pra muito, pra mais, eu quero a gente, eu quero você. Quero te comprimir junto do meu corpo, resvalar emoções, provar sabores e descobrir um mundo completamente novo, repartir lembranças, acender memórias e recriar um quadro, quero inventar cores e tingir o mundo. Nosso mundo. Vou chamá-lo da forma mais clichê que consigo encontrar, mas vais ser doce, incrivelmente doce e vai ter cheiro de café... Wonderful World. Eu e você.

Annabel Laurino