- Eu, meiga?
- É, manhosa, sei lá.
- Mimada, então?
- Também. Enfim, eu gosto de
cuidar de você, de proteger você, é involuntário.
- Entendo.
- Mas talvez um dia você não vai
mais precisar disso, ou de mim, porque vai ter alguém que faça isso. E tu pode
gostar de verdade dessa pessoa.
- Eu acho meio dificil alguém me
aturar tanto e que eu vá gostar mesmo de alguém , assim, como tais
pensando. Minha cabeça não é pra isso. O
amor, e todas essas coisas, não são pra mim.
- É por isso que tenho medo por ti.
- Medo por mim, como assim?
- Sei lá, passar a vida não
querendo amar, ou amar um dia apenas e deu. Uma vida apenas com pessoas que te
distraiam, sem que você se apegue.
- Tens medo disso por mim? De eu
passar uma vida não amando ninguém e só 'pulando de galho em galho'?
- Isso.
- Sinceramente, não vejo
problemas. Mas, claro, talvez um dia eu ame alguém profundamente. Se caso existir
essa coisa de amar profundamente, aliás. E talvez eu nem suporte. Não sei.
Enquanto isso eu me distraio como posso, que problema tem?
- Tu acha mais fácil querer saber
do universo, química, biologia, leis da vida, planetas, estrelas e afins, que o amor.
- Porque parece um trilhão mais
simples.
- Você pensa assim, tão
despreocupadamente, por que amor não te falta, você se sente amada, sente que
tem amor, não precisa dele de verdade, não procura por ele.
- Talvez...
- Mas é bom amar. Ter ciúmes, se
preocupar, sofrer. Por que não? É bom isso.
- Não vejo como todo esse martírio
possa ser bom. Aliás, a palavra certa nem seria bom, talvez ‘irreversível’
fosse mais adequado, afinal, o cara se apaixona e não há mesmo o que fazer,
então tem que ver o lado positivo.
- Para com isso, seu pessimismo e irônia.
- Estou sendo sincera. Acho que
não é bom, é uma droga.
- É ótimo.
- Ótimo?
- É maravilhoso ouvir um ‘eu te
amo’. Ou dizer que ama alguém. E eu amo mesmo, sabes? Hoje mesmo, o motivo de
eu sorrir é você. Isso é a melhor coisa que alguém pode sentir.
- Hum. Então quer dizer que tu me
ama do jeito que achas ser de verdade?
- Estou com todos os sintomas,
pelo menos.
- Não entendo como isso aconteceu.
- Nem eu.
[silêncio]
- Vai ver foi carma, maldição de
família, praga de mãe, essas coisas.
- Ah certamente sim, e me sinto
muito amada agora, aliás.
[riram sem se olhar]
Annabel laurino and Andrei Escobar