A euforia é tanta, o coraçãozinho tão pequeno querendo se alongar grande como um passarinho saltitante abrindo suas asas, alongando o corpinho encarapitado e empinando o pescoço para cima - para o céu - querendo cantar a mais linda musica que houver, logo agora que o sol sai de mansinho de trás das nuvens negras depois de um longo e nebuloso temporal.
Quero deixar claro, mas nada me parece um tanto claro agora. Não, não é confuso, parece tudo muito certo. Mas ainda não estou certa dessa certeza toda, como se eu tivesse ainda que observa-la por um caleidoscópio, e você sabe bem como sou. Preciso saber com certeza, e com absoluta astucia do que se trata isso que chega manso e com dentes afiados e mãos quentinhas abrindo alas pelo caminho.
No fundo eu bem sei do que eu quero falar, claro. Quero dizer que estou feliz, que vivo bem, que a vida aqui ta ótima, nunca pensei em ser tão feliz, plena, limpinha e serena. Tenho até medo dessa calmaria toda, dessa beleza toda. Mas acho que esse medo é natural... Fico contando as horas para o telefone tocar e ouvir a voz de timbre forte dele, de ter aquelas mãos fortes na minha cintura, abraçando-me, apertando as minhas costas, de ter aqueles olhos firmes e negros sobre os meus, e sentir o gosto perfeito de lábios doces e delicados. Quero ouvir ele, ter ele. Ele que me trouxe coisas boas, ele que - e só pode ser, não há mais nenhuma explicação - Deus colocou na minha vida.
Acho que como um pintor preciso ser mais sensível a isso tudo e um pouco menos Alice, preciso sentar-me sobre o banquinho do parque, respirar fundo e me dar um tempo - quanto tempo? Não sei - para digerir essa virada toda, esse tudo que me toma. Então levantarei-me como uma duquesa-de-vossa-serenidade-e-alteza-de-toda-classe e caminharei à passos lentos - porém felizes - e saberei exatamente como descrever tudo isso. Tenho certeza.
Annabel Laurino.