segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Certa vez,


Certa vez á muito tempo, recordo-me de ter dito para alguém – que agora eu não lembro bem pra quem – que dias chuvosos estragam nossos planos. Além de serem feios, céu cinza, nuvens carregadas e tudo, completamente tudo encharcado e tomado por poças compridas e lamacentas. Talvez, só talvez, eu estivesse enganada.
 Hoje quando abri as janelas, eu vi a chuva. O céu cinza, as nuvens, a paisagem encharcada. E eu suspirei. Não era bem o tempo em que havia planejado, não em um dia planejado. Eu queria sol. Muito sol. Calor e um céu lindo. Mas choveu o dia todo.
 E sabem, eu poderia bem ter feito cara feia, ter falado mal do tempo, do dia, da chuva, do céu e do frio que estavam fazendo. Mas tudo que eu consegui pensar foi: “que a chuva lave.”
É isso que dizem os antigos. Que a chuva lava, que ela é um bom presságio. A chuva tem o bom consentimento de purificar, levar as más noticias, o passado, banhar e inundar de boas novas o que se tem por vir.
 Parece bobagem, talvez só mais uma história mística que os avós costumavam contar para agente. Mas sendo assim ou não, tudo que eu resolvi acreditar hoje, foi que a chuva realmente levou e lavou tudo. Completamente tudo que ainda se prendia em mim. Os maus sentimentos, as velhas interrogações.
 E justo hoje, em um dia tão chuvoso, eu me permiti sorrir. Não que não sorrisse antes. Mas eu sorri pra chuva, pro dia. O dia inteiro.
 São coisas loucas e minúsculas que as vezes chamam nossa atenção como o amarelo bifurcado no meio do branco em luz. São coisas assim, capazes de lhe chamar a atenção em meio a tantas outras coisas.
O que podia ser um dia tão comum, tão chuvoso, tão sem cor. Tingiu-se muito bem em cores, em beijos, em sorrisos.
 Nessa certa vez, depois de tempo, - quanto já não me recordo mais – alguém sorriu pra mim, não como qualquer outro sorriso. Como quando se sorri normal. Eu prefiro guardar como um sorriso doce, cor de lilás, mas gostoso e macio como o chocolate, quando você mastiga lentamente e em uma sensação tão boa lhe faz fechar os olhos. Foi um sorriso, de certo alguém, em certa vez, que eu me recordo muito bem.



Annabel Laurino.