quarta-feira, 31 de julho de 2013

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    "Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la."


Caio Fernando Abreu 


terça-feira, 30 de julho de 2013

Be You

    Você não sabe de onde eu vim. Você não sabe por onde estive. Você não conhece os estragos que carrego no peito e nem desconfia dos sonhos que tenho quando consigo dormir. Você não entende meus sonhos, não ouve minhas ideias, não decifra meus silêncios e não mergulha nas minhas entrelinhas que permito esporadicamente para que fiquem claras, caso queira entrar. Não, você não me conhece. Não sabe das minhas musicas e nem dos meus medos, das minhas evasivas perigosas, das histórias que tenho enroscadas na língua esperando o momento certo, ou alguém certo, para contar. Não desconfia das minhas meias verdades. Não sabe que eu como doce antes do jantar e que na maior parte do tempo não sei o que estou fazendo.
    É difícil ser eu, solitário sobretudo. Qualquer um que seja, será sozinho. É uma vastidão confusa. Só há Um somente que me ouve. Mas eu continuo só. E conto estrelas, e toco alguma musica, ouço as horas do dia irem e virem e me perco e me encontro, e observo tudo e mantenho a fome, e não sacio a sede e tudo entra por um estranho ciclo, até que eu entenda. Até que eu me acostume. E acostuma? Acostuma.
    Guardo segredos, mastigo perguntas, engulo vontades, esqueço desejos, seleciono meus sonhos. Seja sábia menina, seja sábia, não se pode ter tudo. Amanhece todos os dias, o sol sempre o mesmo. A lagarta perguntou um dia, 'quem és tu?" e a menina disse "eu não sei, é possível que não seja mais a mesma". E sou? 
    Como diria Einstein, "Não sei por que todos me adoram se ninguém entende minhas idéias.". 
    E como entenderiam? Estão todos ocupados em ser eles mesmos. Quem pode culpá-los?
    Ocupo-me.



Annabel Laurino



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"Se eu largar sua mão que você sobreviva são, que você viva bem, leve, feliz. Que quando eu soltar sua mão você se desprenda vivo como um fio de luz que se sobressai sozinho do globo central e viaja pela atmosfera encontrando outros fiozinhos. Que você não sinta falta, que você saiba sempre porque soltei sua mão. Sem dor, sem mas, sem arrependimentos. Sem choros, sem velas, sem nada mais do que saber, eu soltei sua mão."




Annabel Laurino.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

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"Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores."


Caio Fernando Abreu

domingo, 28 de julho de 2013

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Meu estilo de vida
Liberta minha mente
Completamente louco
Mas um louco consciente

[...]

Não, eu não me sinto mal
Eu sobrevivo a todo lixo
Todo ódio, com amor
Eu dou o valor
Das coisas simples
Eu dou valor
Pras coisas simples



Charlie Brown Jr

sábado, 27 de julho de 2013

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                                                            (Skins)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

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''Você vê as coisas. Você guarda silêncio sobre elas. E você compreende." 



(As vantagens de ser invisível - Stephen Chbosky)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

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"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante."



Clarice Lispector

terça-feira, 23 de julho de 2013

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o lado bom da vida | Tumblr
Sometimes is just you have to say.

Misantropa

    Juliana sentou-se no chão do quarto e se deixou chorar. Porque não tinha mais importância segurar o choro, conter a frustração indesejada latejando dentro do peito. Era preciso se deixar doer.
    O chão estava recém limpo, assim como a cama tinha cheiro de aroma de algodão, borrifada cuidadosamente depois que havia posto seus lençóis ao sol. O ambiente tinha cheiro de alecrim, do incenso. Fotos penduradas num painel mostravam uma atenção ávida por pessoas, momentos, família. Mas no peito, lá dentro do peito, essa atenção dada em excesso lhe doía agora.
    Juliana queria entender como o mal do mundo podia ser justamente as pessoas. Como se machucavam tanto entre si quando não se entendiam e o quanto se amavam quando se completavam alucinadamente. Sentia-se enganada, traída. Mas fora ela mesmo que se permitiu enganar. Sentiu-se como se tivesse assistido um comercial de televisão em que anunciassem um tal produto muito bom, que mudaria sua vida, colocaria metade de sua bagunça em ordem e, ludibriada pela propaganda, tivesse comprado o produto só para depois descobrir que era uma farsa. Uma mentira.
    O plexo solar e seu violão não partilhando de mais nenhuma chance de compor uma nota se quer. As decepções transbordando. O quarto impecável, o coração, destroçado.
    Sentiu vontade de chorar mais, e mais e mais e só mais um pouco talvez. Para esvaziar-se. Para preencher-se de um vazio que quem sabe viesse acompanhado de paz e uma solidão longínqua. Quem sabe. É por isso que fechava-se tanto. Juliana havia cansado. Cansado da espera insaciável de que as pessoas parariam de lhe doer. Por que não podia existir alguém no mundo que a cuidasse e a fizesse feliz sem lhe roubar os morangos que cresceriam no final? Será que nunca haveria uma forma de ficar tranquila?
    E o medo persistiu durante horas. Se houvesse uma maneira de esquecer que a humanidade existia, de fugir, de não criar mais laços com ninguém. Ah sim, ah isso seria bom.
    Encostou o corpo na cama. O quarto nem era grande, mas ali, sentada no chão, em meio ao frio infindável do dia, sentiu-se pequenina, tão pequena quanto a adorável Alice quando mordeu o macio biscoito que a diminuiu.
    Alguém bateu na porta, uma, duas, três batidas e uma voz insistente para poder entrar. Mas agora não, pensou. Hoje não. Me deixe em paz, pediu no vácuo do escuro, mas era dia, o escuro estava era dentro. Do peito.
    Me deixe só. Me deixe quieta, simplesmente me deixe, pediu em silêncio, como são feitos os desejos mais fortes e dolorosos, daqueles que Juliana não pronunciava em voz alta. E talvez não ousasse pronunciar nunca mais. 




Annabel Laurino


Tumblr - mywonderfulw0rld.tumblr.com

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“I can’t go back to yesterday because I was a different person then.”

Lewis Carroll, Alice in Wonderland

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Folha esta, Folha sua

     Uma folha escorregou gentil do topo de uma arvore na 5° avenida em frente ao Plaza Hotel, ao lado das belíssimas coberturas de Manhattan. A folha flutuou e encarapitou-se, depois caiu no chão como se repousasse lentamente com a sua finíssima camada seca e vermelho escura. 
    Um transeunte pisou-a logo quando atingiu seu voo. E mais tarde naquele mesmo dia, uma jovem se exercitando arrastou a pobre folha para longe, e esta escorregou pelo chão, até que um cão vadio a cheirasse e a pegasse na boca e fosse caminhando com ela por um curto espaço de tempo até  que perdesse o interesse e a deixasse sozinha na calçada suja. Um vento, não mais que frio e forte, e sabe-se lá de que direção vinha, se eram tantas, a ergueu com tamanha força, levantando seus flancos pedaços pisoteados não lembrando mais aquela linda folha de antes, erguendo-a cada vez mais, até que subisse e subisse, alcançando as janelas mais altas e depois como se nada fosse suficiente perdeu sua força e deixou-a regressar ao chão estável, duro e frio, onde já havia estado antes, para onde voltava agora. 
    Pedaços lhe faltavam para que estivesse completa, haviam roubado-lhe até mesmo seu caule macio. Pobre folha. Os espíritos das árvores, perguntaram-se depois, como podia ainda se considerar uma folha única, se seus pedacinhos dividiam-se espalhafatosos por ai. Oras, muito simples, ela estava em todos os lugares e seria sempre única e não se entristecia mais por isso. Era um ciclo, caindo uma vez do seu ramo verdejante e bonito, como a árvore, e cairia agora novamente, até que quem sabe, renascesse em uma outra árvore qualquer, quando o verão chegasse. E assim até que o ciclo se encerrasse. 
    Ah, como todos podem ver, a vida.




Annabel Laurino


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“Me enfiei em casa e não saí. Um desgosto. Leio o tempo todo. Sento no jardim. Ouço música. Tento escrever, mas não sei se quero ou se preciso, e não consigo. Umas carências.”
Caio Fernando Abreu



quarta-feira, 17 de julho de 2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

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"Abençoados são os esquecidos porque aproveitam seus erros."



Nietzsche

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Clementine

     Lembra daquele filme, aquele em que a personagem principal pinta o cabelo várias vezes de azul, vermelho, laranja e por ai vai? É, aquela mesma que fez aquele filme Titanic e que ambos os principais se amam muito, mas brigam por qualquer coisa estupida e decidem se apagar da memória um do outro. Sim, eu sei, você lembra. 
     Foi exatamente nesse filme que Marina pensou quando acordou naquela manhã de sábado meio enlurada. Ela lembrou da moça do filme e suas cores diversas de cabelo, ela lembrou de tudo e de mais um pouco e mais ainda enquanto repunha as pequeninas doses engolidas de cafeína para dentro do corpo, olhando a manhã que se sobrepunha pela janela afora. 
     Clementine era o nome da moça do filme, a personagem, lembrou-se Marina. E tinha uma musica até, cantada pelo o outro personagem principal enquanto os dois estão num trem e 'acabaram de se conhecer/reconhecer', soava um pouco assim: 'Oh darling, oh darling, oh my darling, Clementine'.
     Porque Clementine soa como clemência, um pedido de paz, perdão, salvação.
     Marina sorriu pela primeira vez naquela manhã de sábado. Meio tristinha ela, a manhã, toda meio cinza, os raios de sol indecisos se queriam ou não perpassar as nuvens. Marina se sentiu nostálgica, com o cabelo preso num rabo de cavalo bagunçado e sua manta de três cores. Sentada na janela, ela ouviu seu vizinho ligar a televisão bem alto e por naquele canal de musica, era a hora da manhã que só dava musica estilo anos 20, e isso duraria uma hora ainda. Respirou fundo, abraçou seu próprio corpo, inverno. Inverno há muitos dias já, incontáveis. O tempo passa relativamente devagar quando se está frio, e tem muito mais coisas para serem vistas e apreciadas. Mas nesse sábado não, nesse sábado ela só queria que o tempo passasse voando e fosse logo segunda-feira, ou não sei, um mês depois. Ou que o roteirista da sua vida, se consolidasse de uma vez por todas, e apertasse logo o botão avançar e fosse finalmente, e tão merecidamente, aos créditos finais. Vamos lá, só apertar o botãozinho, pensou ela, tão esperançosa.
    Sim, esperança, porque assim como clemência a esperança vem sempre viva e acessa mesmo depois de muitos pontapés. E isso Marina sabia muito bem, dos pontapés que a vida dá. Já levara tantos e alguns aprendeu a distribuir por ai, mas só de levinho, porque caiu sobre seu entendimento que algumas vezes lutar por paz é abrir mão de muita coisa, doa a quem doer, e isso a gente não tem como se culpar.
    E das desistências, dessas entendia muito bem. Havia desistido poucas vezes na vida, pequenas coisas como desmarcar a manicure num final de semana porque acabou saindo tarde do trabalho, de comer doces para entrar naquele vestido lindo, de ver seriados e dormir tarde, para não perder a academia no outro dia, isso é meio como abrir mão, não uma desistência em si. Desistir mesmo, de verdade, do tipo de desistência que é daquelas mais difíceis de se fazer, das mais complicadas, que dói fraquinho e depois cai como uma avalanche, bem, dessas assim, só uma vez. E o que ela aprendeu foi que clemencia e desistência tem tudo a ver uma com a outra, quase irmãs, aliás. 
    Ah se doeu, é isso que você quer saber? Ô, doeu muito. Ainda doía, as vezes, de vez em quando, ou dias como esses, como esse sábado. Foi por isso que acordou lembrando desse filme, tudo a ver, tudo a ver. Vontade de abrir o peito e concertar os parafusos frouxos, repor o óleo e depois concertar algumas falhas de praxe. Se tudo fosse tão simples assim, como cuidar de um robô!
    Marina não sentia mais tristeza, era só um sentimento de ' e se tudo tivesse sido diferente, e se eu, você, todos nós, tivéssemos sido diferentes?', foi por isso que não chorou naquela manhã, como costuma fazer quando pensa em coisas dessas que escurecem sua mente, ela só sorriu. Havia algum tempo esquecido como era se sentir terrivelmente triste, é verdade que as vezes caia em choros profundos e soluços de dar dó e que tinha dores fortíssimas no peito que nem um médico especialista com seu mais renomado diploma daria jeito. Só o tempo, meu irmão, só o tempo deixa tudo em ordem outra vez. E foi assim que esquecera-se de alguns desejos inervosos, de que o príncipe encantado surgiria a qualquer momento, que as pessoas não a machucariam mais ou que a lei de Murphy não a atrapalharia nunca mais. 
     Mas de verdade mesmo, Marina só queria um pouco de clemência, foi o momento em que suas rosadas pálpebras começaram a se fechar, cobrindo os pequenos olhos de gato, meio brilhantes naquela manhã cinza, os lábios úmidos de café e os cabelos desgrenhados, assim como seus pensamentos há alguns dias atrás. Marina sentiu paz, sentiu o mundo lá fora, como as árvores enfeitando a rua, Marina era uma daquelas árvores, ou um bem-te-vi, uma andorinha, uma folha seca, qualquer coisa, o que importa era o que estava dentro dela naquele momento, e tinha um nome doce, tinha vindo com tanta luta, com tanto suor, algo tão batalhado, vitória até que enfim. E sentiu paz, e tudo ficou limpo e Clementine poderia ser seu novo nome em um novo mundo onde só existiriam coisas boas e o brilho de uma mente sem lembranças alguma.



 Annabel Laurino
      
(5) Tumblr

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"Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome."


Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 11 de julho de 2013

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  "O Futuro já nos iludiu tantas vezes, mas não importa... Amanhã correremos mais depressa e esticaremos nossos braços um pouco mais além que, em uma bela manhã...
   E assim nós prosseguimos, barcos contra a corrente, empurrados incessantemente de volta ao passado." 



O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

Reinvente-se

    Esperei que as luzes da cidade iluminassem as mechas azuis do meu cabelo. Esperei que o sol engolisse as calçadas sujas e encharcadas de passados inúteisEsperei que alguma coisa brilhante acontecesse que nem uma explosão da grande Eta Carinae lá nos altos intergalácticos. 
    Irmão, nada aconteceu. Só o que eu tinha era o céu acima, o reflexo solar, as nuvens, o mundo, era tudo e ao mesmo tempo nada. E eu, tão só quanto uma sombra caminhando sozinha num escuro sem mais nada a frente. 
    Eu tive que me reinventar. Eu tive, sim.
    Dando voltas no escuro e de repente uma porta se abre. Nunca sei do que eu posso ser capaz de fazer, eu só tenho fome, eu só quero ser feliz. Você entende?
    De repente o céu escureceu e as estrelas maiores trocaram de lugar, e nós lá perdidos ainda num mundo coadjuvante. Você quer ser feliz? Eu me perguntava isso todos os dias e eu sabia que sim, sim, claro que sim. Então algo me disse: abandone essas suas fantasias sem fundamentos concretizados, essas suas roupas que não te vestem mais, esses pesos desnecessários, esses medos contraditórios, largue esse lixo todo em qualquer lugar por ai, recheado de mágoas e lembranças que te assolam todos os dias antes de dormir, e simplesmente continue caminhando mocinha, como um marujo caminhando em direção da rampa que o atirará direto para o mar. Você nunca sabe, mas pode ser que você até goste dessa aventura, ninguém disse que será fácil, que você saberá nadar, e é bom que saiba, ou que você não engolirá grandes quantidades de água até conseguir, sabe-se lá como, chegar em algum lugar seguro. Mas não importa, simplesmente faça.
    E eu fiz, eu tive de fazê-lo. Doeu, ai doeu muito. Submergi e imergi diversas versas vezes até aprender o ritmo certo para me manter estável, até que meus pulmões se acostumassem, que meus braços se abrissem o suficientemente fortes para abraçar o oceano longínquo. E veja só, é assim que a gente aprende, é no grito.
    Será que amanhã terão estrelas no céu? Será que seremos felizes? Será que haverá amor e será que conseguirei me manter firme na estrada dos tijolos amarelos até o fim? Não sei. Não é engraçado? Não sabemos de nada do que virá a seguir meu caro, mas é por isso que prosseguimos. É pela espera de algo melhor.
    Particularmente, estou ansiosamente esperando pelos próximos capítulos que virão a seguir, quero me deliciar com as aventuras e até mesmo com as desventuras, poder chorar com alguns momentos nem tão felizes assim e quem sabe sorrir mais tarde porque estarei te contando todas essas coisas assim, como agora, com uma musica bem alta, os pés titubeando firmes no chão no compasso do coração levinho, feliz, se reajustando aos poucos conforme a vida passa.
    "Verás que estais contente outra vez", já como dizia o Caio.



Annabel Laurino 


Vintage's Life | via Facebook

quarta-feira, 10 de julho de 2013

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 "Então eu quero é viver, meu caro. Antes de tudo é ser feliz e saber porque eu vivo, o que eu quero e onde eu quero chegar. O resto sou só eu tocando violão numa janela qualquer como Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, e cantarolando Moon River baixinho para quem quiser escutar. Para quem quiser ser feliz junto."



Annabel Laurino in O Lado Bom 

terça-feira, 9 de julho de 2013

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“ Quem é você? ” disse a lagarta. Alice respondeu um pouco tímida:
"Eu… eu… no momento não sei minha senhora… pelo menos sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então.” 
"O que você quer dizer? ”, disse a lagarta ríspida. ”Explique-se!”
”Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora”, disse Alice, ”porque já não sou eu, entende?”


Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

Kiss you

    Eu não lembro a musica de fundo. Engraçado que nesses momentos sempre rola de estar tocando alguma musica de fundo, sei lá, cheia de trepes de bateria e solos românticos de guitarra. Dessa vez era só o silêncio constrangido do seu quarto com a nossa presença. Embora eu não ouvisse nada. Eu sabia que tinha o barulho da nossa respiração sendo embebida uma na outra, o som da gente juntos.
    Lá num outro canto da casa sua mãe perguntava ao seu pai sobre a ração do seu gato de nome simbólico e que perdeu um  pedaço da cola. Num canto da sua casa seus pais assistiam TV enquanto você me abraçava forte e dizia o quanto, e muitíssimo, bom foi ter me encontrado. E eu dizia o mesmo, meio engolindo em seco, meio respiração nervosa. Tão bom também, meu bem.
    Tão bom que eu nem conseguia responder direito. Apaga a luz ou acende. Horas nem sei a quantas são. O jantar estava excelente, obrigada. Mas me perdi mesmo foi depois enquanto você me buscava com os braços cheios de calor e me colocava na sua vida aos poucos, 'vem cá, eu sei cuidar de ti, eu sei do que você precisa'. E eu assim, meio absoluta, perdida pelas facetas da vida, aceitei o convite, te beijei outra vez, outra mais desde aquela primeira vez em meio aos livros, enquanto te interrompia falando da minha banda favorita e te olhava fundo nos olhos quase vendo o meu rosto também, olhos puros, escuros, gostei. Te beijei de novo. De novo. E outras vezes mais depois, porque tudo tinha um gosto bom.


Annabel Laurino 

"Es la moda,Es tu estilo & Eres tu'' | via Facebook

terça-feira, 2 de julho de 2013

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“– Talvez você seja um cara legal, ainda não sei. Só que dá pra ver que você anda meio perdido, sem saber o que você quer, sabe, de mim, da sua vida, de você mesmo.
– Quem disse que eu não sei o que eu quero? Mas é claro que eu sei o que eu quero!
– E o que é? Me diga.
– Eu quero você.”



 Gabito Nunes

segunda-feira, 1 de julho de 2013

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     Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto.


Caio Fernado Abreu

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Ninguém ajudou. Me virei sozinho.



Caio Fernando Abreu