sábado, 31 de dezembro de 2011

A vida segue assim


    Então, sobresaltada você olha para o relógio no canto da tela do computador. Pousa a xícara de café ao lado e observa ao longe um dia chuvoso. O ultimo dia do ano.
    Parece que foi tão rápido e depois tão lento. Você se descobre olhando para tudo o que passou, como se tivesse decorrido por uma montanha russa radical, cheia de curvas, altas e baixas, umas que até mesmo te colocaram de cabeça para baixo.
    Mais um ano está indo embora. E tantos livros você leu, tantas coisas você acumulou, não só mais pesos na estante do seu quarto, mas mais bagagens na sua bolsa de viagem. Mais amizades, uma ou duas, três no máximo, contando-se as de verdade. Mais sorrisos, choros e abraços. Momentos especiais. Você observa o coração inflar numa dor escura e distante. Uma paixão descoberta, vivida, partida, e já quase esquecida.
    Novamente você entende que tudo passa muito rápido. Mais um ano dizendo adeus, e você na verdade nem sabe mais quantas oportunidades terá de sei lá, sentar na frente do computador, no ultimo dia do ano e poder dizer que mais um ano está indo embora.
    Duvidoso, o futuro é mesmo uma caixinha de surpresas. Atenta aos detalhes, você sorri, maravilhada como depois de noites frias, tempestades agourentas e tudo mais você chegou até aqui. Viva. Você está viva.   E todas coisas mais que virão serão intensas e mostraram mais uma vez que você pode escolher. Você consultará esse passado de agora e verá suas lições aprendidas. Saberá o que fazer.
     Mais um outono está próximo, você já conta os dias. E logo o inverno chegara, frio e irregelante. Haverá cafés, luvas e cachecóis. As árvores estarão secas, haverá folhas vermelhas e quentes por todos os lados, haverá novos dias e novas coisas, novos rostos. Até que a primavera chegue com sua calmaria e depois o verão e então, você se surpreenderá novamente que mais um ano passou e a vida segue em frente como se seguisse contas num colar de brilhantes. Essa é a maravilha. O recomeço. O virar a página.
    Um novo ano está vindo.
    Já posso escutar os fogos.
 

  Bebellaurino


 Feliz Ano Novo!
    Paz.

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Queridos, sinto saudade.

Tudo que eu queria, que eu espero ardentemente, enquanto o sol ardente de mais um dia vai embora, lá por volta das oito da noite, quando a janela do meu quarto fica aberta, aquela brisa de fim de dia vem recaindo silenciosa e sinto como se fosse denso esse silêncio puro, que transpassa na copa das árvores mais altas até que entra de mansinho pelo quarto. Um friozinho bem agudo e fino, da espessura de uma agulha, que acompanha o vento entrando erroneamente pelo quarto. Sinto cheiro de terra, folhas e fim do dia. O céu vai ficando daquele cinza esgotado. Eu olho como se fosse uma criança diante da loja de doces. Cenário perfeito. O coração palpita distante, parece que nem mais esta aqui. A boca fica deliciada, os olhos brilham. Outono. Inverno. Se pudesse buscá-los eu sairia correndo pela porta do quarto em um roupante sem nem mesmo pestanejar. Quero eles, e tudo que vem junto. Quero frio, quero café quente esquentando a gente por dentro, quero dedos gelados, nariz vermelho, meias de desenhos, suéteres velhos e corações mais aquecidos. Quero tudo como se tem direito. 
   

bebellaurino.



Mas eu to falando é de... Você sabe.

    Entre as divergências estranhas que se repartem agudas, geladas e ferinas enquanto arranham a nuance calma de dentro da vida, se estende a mão sobre a mesa, encontre-se outra mão viva. Quente, aquece sua mão fria. É no ato de estender, que se descobre como é fácil chegar até algum porto perto para poder descansar. E descansa. Por que seu corpo já sente as dores daquele corpo muito cansado depois de um longo e terrível impasse briguento. Agora, depois de todas as disputas, muitas percas, poucos ganhos, mais sabedoria acumulada, e todas coisas mais que você considera importante, chora baixinho no ombro, espera uma história divertida, e que se diga: "Tudo bem, estou aqui, fique calma, temos todo o tempo do mundo."
    E assim, tinge-se um aglomerado de coisas quentes que você não saberia dar nome, define-se apenas como sensações novas e momentos únicos. Desfeche para corações feridos.

bebellaurino. 


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Ando um pouco para dentro, não sei se você entende. Me fechei um pouco, de tudo. Me abri
para mim, me fechei para o resto. Ainda não sei se é certou ou no que vai dar, mas garanto que estou me descobrindo um pouco. 


(Caio Fernando Abreu)



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

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''Não é de repente, é aos pouquinhos que as coisas acontecem.'' 



( Caio Fernando Abreu )

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Palavras flutuam como uma chuva sem fim dentro de um copo de papel
Elas se mexem selvagemente enquanto deslizam pelo universo.
Piscinas de mágoas, ondas de alegrias estão passando por minha mente
Me possuindo e acariciando


(Across The Universe - The Beatles)

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É preciso, extremamente preciso, e necessário, ter um espirito tão livre quanto á alma que gratifica, para poder degustar do sabor real da vida, o de renovo.
    O gosto do tudo em frente melhor estará.

bebellaurino

Re-virada. Virada.

    Muita coisa mudou e passou.
    Hoje, já não sou mais a mesma. Como uma camiseta, fui revirada do avesso. Ou melhor, dentro de mim, uma página foi virada. Um novo tempo vem pela frente. Sentimentos que antes me inundavam, hoje são só lembranças de um passado distante. Não deixo de ser a mesma, sempre sou o que sempre fui. Mas aprendi uma porção de coisas novas. Aprendi com os erros á como recomeçar, a como seguir em frente, á ser mais forte. Nessa vida nunca só se acerta. É necessário cair em meio a corrida, é necessário conhecer seus competidores. Cruel, mas necessário. Aprender que nem sempre quem te estende á mão é aquele que quer te ajudar a levantar. Aprender que nem mesmo só por que você gosta é amor. Que nem sempre é tudo. Pode ser nada...
    Deixo-me livre pra aprender e vou vivendo. Vou correndo sobre esse mar de girassóis, vou colhendo as maravilhas, vou tropeçando, mas vou indo.
     Se caso você me ver por ai, correndo diante do campo, me estendendo brava sobre o longo caminho, se caso você passar por mim, não pergunte se estou feliz. Sou sempre feliz, mesmo que meus braços doam, minhas pernas tremam. Sou sempre capaz de sorrir. Pergunte-me apenas pra onde vou, se perdido você estar, venha comigo, te ajudo, te deixo até onde você precisar.
    É isso.
   Te encontro por ai.


bebellaurino. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

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   Você se sente preso em si mesmo. E não sabe mais para onde jogar essa dor. Para nenhum lado, qualquer que seja, parece um lado satisfatório ou suficiente.
   E ai que você deseja poder despejar toda essa dor em lágrimas, no colo de alguém. Mas nunca nenhum colo serve e você se sente tão frágil, tão ferida.
   Pelas mentiras que te contam, pelos jogos, pelas brincadeiras de mal gosto, pelas histórias sem noção, pelo tempo perdido e misturado, por tudo.
   E sente-se terrivelmente pesado e com dor. Terrivelmente ferido, batido, com sono, saudade, fome de algo que nunca sacia.
   Bem como bater numa porta que nunca abre.

bebellaurino.
    Definitivamente você não sabe aproveitar qualquer sintoma da carinho que eu sinta por você. Você simplesmente vai lá e poda qualquer sinal de afeto, demonstração de amor ou qualquer admiração que esteja renascendo, novamente, por você.
    Você destrói tudo, me afasta de você. Você consegue me jogar para longe com um simples aceno de mão. Você não sabe me ter. Não soube me cuidar. Você pensa que como todas as outras pessoas o meu coração funciona da mesma forma. E desse jeito você reata e desata nós em mim como se não doesse, como se em meio aos fios dessas cordas nunca um lado ficasse mais preso do que o outro a ponto de que o nó de tão cego não conseguisse se desatar.
    É, você não soube mesmo me amar.


bebellaurino.

O mar, e tudo mais de negro que você possa imaginar


    O mar era negro. E as ondulações, eram nervosas e brandas. Tudo parecia meio pastoso, meio difundido em cada minúscula coisa que você poderia até mesmo nem perceber, com esses seus olhos humanos de todo dia, que olham para tudo sem enxergar de verdade. Você, se olhasse assim, não perceberia a areia genuinamente pesada que se aglomerava no fundo do alto mar, nem mesmo pensaria nela, ela que nem era tão coberta, por que antes mesmo de chegar ao mar existia a praia, onde na beirada uma espuma cinza de milhares e bilhares de bolhinhas pequeninas e brilhantes explodiam no calor do sol, e enquanto borbulhavam, o sal tilintando no calor causticante e no fervor do dia, essas pequeninas bolinhas estalavam crepitadamente, e no estalar nervoso eram, muitas vezes, esmagadas por pés brancos, negros, magros ou pequenos que corriam em direção do mar. As gaivotas em seus vôos rasantes ficavam encantadas com as espumas cinzas e as bolhas crepitantes, e no final do dia sempre admiravam de perto. Você também não perceberia, naquele negrume de coisas difundidas, que só eram vistas pela luz do dia, o céu por exemplo, azul brilhante, nuvens brancas, você diria, “o que há de mais?”, mas havia mais, muito mais. Como as pipas coloridas que as crianças sapecas com seus pais que ainda não cresciam soltavam no ar, refulgiam no vento, rasgavam no céu e pareciam, em certo momento como se coladas no papel azul perfeito.
    Ela nem notava essas coisas. Assim como você. Não tomava nota nem mesmo das conchas com suas listras de muitas cores que ficava á beira mar. Muito menos nas pipas, no sol, no céu. Ela se importava com quão negra estava a água, e ia em direção á ela, quanto mais negra mais seu estomago pulava de pavor. Não queria que fosse daquela maneira, lembrava-se sempre que um dia a água havia sido verde, clara, branca-mar, quente e refrescante no seu sal, na sua areia. E agora, negra. Como uma pedra difundida, banhava-se em constante movimento. Ela não queria entrar lá, afundar sobre aquele sol e mar. Mas ia, sabia que seria assim e quando começou a colocar os pés genuinamente brancos dentro da primeira ondinha de água, soube que seria quase tão difícil sair depois. Não sabia por quanto tempo, sabia apenas que era necessário entrar, e depois, que tivesse entendido tudo corretamente, poderia sair.

Annabel Laurino.

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“Caso tudo isso seja um trabalho inconsciente para me perder, parabéns, você está conseguindo. Mas se ainda existir dentro de você alguma esperança, eu preciso demais que você me abrace e me faça sentir aquilo novamente.”
    (Tati Bernardi)

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“Eles se amam, todo mundo sabe mas ninguém acredita. Não conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossível. Ele continua vivendo sua vidinha idealizada e ela continua idealizando sua vidinha. Alguns dizem que isso jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem não dizer nada. Preferem meias palavras e milhares de coisas não ditas. Ela quer atitudes, ele quer ela. Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhãs ele pensa nela. E assim vão vivendo até quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros. Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é dificil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontram e que nada, nada seja por acaso.” 

Tati Bernardi

domingo, 25 de dezembro de 2011

Jingle Bells


Dashing through the snow
On a one-horse open sleigh
O'er the fields we go
Laughing all the way
Bells on bob-tail ring making spirits bright
What fun it is to ride and sing
A sleighing song tonight

Oh, Jingle bells, jingle bells, jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one-horse open sleigh
Jingle Bells, Jingle Bells, Jingle all the way
What fun it is to ride
In a one-horse open sleigh.





sábado, 24 de dezembro de 2011

Sem você.


"Da dor que se dissipa a cada respirada mais funda e cheia de coragem de ser só. Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem você, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem você, de como eu posso ser até mais feliz sem você. Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, músicas, descobertas solitárias e momentos introspectivos andando ao Sol. E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar você de grão em grão (…)”


 (Tati Bernardi)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

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“Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar uma das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar.”


    (Caio Fernando Abreu)

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-Às vezes sinto falta de mim
-Eu também, menina.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.

[Silêncio]

-Me abraça?
-Sempre.

(Caio Fernando Abreu)





Precisa-se de Alguém


    "Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: Precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
    P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar."


Clarice Lispector

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Algo


 Hoje não vi nada em especial... Nada que pudesse... Espere!
    Oh, sim! Sim!
    Eu vi algo!
    Algo subindo a elevação de cores e de sabores que se enchiam dos meus lábios até aos lugares mais alheios de mim. Meu olfato, minha audição.
    E subia e subia. Como se estivesse sendo comandado por um maestro que cheio de suas consternações, dos mais profundos e sórdidos desejos, conduzia o algo.
    Oh! Algo cheio para se ser visto, ouvido, cheirado e ainda saboreado.
    Gostos e gostos.
    Uma explosão de sensações na ponta de minha língua.
    Doce e amargo!
    Que crueldade deliciosa de uma mentira mal contada, mal profanada no encontro firme do osso que se move no beijar.
    Cheio de texturas. Ásperas e lisas. Sedosas e macias.
    Conduzindo pelo corpo.
    Conduzindo num caminho incerto da alma.
    Você vê sem nada ver.
    Você sabe sem nada saber.
    Saber e saber. Nada impede de entender.
    Oh como me encanto. É como notas de piano. Fortes, mais fortes, mais fortes, soando precisas, raivosas, subindo no ar. Tragando o silêncio, tragando a doce e breve inocência.
    Oh sim!
    Hoje, de fato eu vi algo.
    Vi você.
    Em um sonho. Apenas em um sonho.
    Real, por que não, real?
    Você esteve aqui afinal.



Annabel Laurino.




Texto escrito no dia 20/03/11

A Idiota do Pijama de Bolinhas.

    E a noite finalmente caiu. Passei o dia inteiro de pijama. O dia inteiro. Lendo um livro jogada sobre o sofá, bebendo água gelada e roubando balas de chocolate do baleiro de cristal da sala. Passei o dia inteiro fora de nexo, aprofundada em uma história distante da minha realidade. Buscando nada em nada.
    O dia passou lentamente. E só agora que chega perto do fim eu paro e vejo o céu escuro e pastoso, tão negro, tão misterioso, tão nu, que me assombro o quanto na verdade mais um dia se foi. Mais um dia. Um dia a menos. Para que, nem mesmo eu própria sei dizer.
    A verdade, a verdade incorrigível que não sai da minha mente é que não consigo tirar você dela, da minha mente. Não consigo nem ao menos dormir em paz por que me pego sonhando com você, em sonhos loucos, em vontades ardentes de passar meus braços em seu corpo e sentir seu calor perto de mim. São as horas mais contentes e mais vividas do meu dia, quando eu estou dormindo, estou vendo seu rosto, e tudo parece incrivelmente real.
    Não é engraçado? Há um tempo atrás era muito real, tão real, você estava aqui de verdade e eu nem precisava se quer pedir para você estar, você estava, você esteve, até eu ver tudo sucumbir pelas minhas mãos como água sendo derramada pelos meus dedos, tudo, tudo por besteiras, por bobagens, por palavras não ditas, por olhos que não queriam se abrir, os meus olhos. E que visão turva e realmente idiota eu tenho agora. Desperdiçando meus dias, com um pijama ridículo de bolinhas, deitada em um sofá em uma tarde insuportavelmente quente, e tudo por que eu ainda tenho esperanças de que a próxima vez que alguém apertar a campainha, será você. Será você na soleira da porta sorrindo gentil para mim, será você me tomando em seus braços e me reconfortando perto do seu corpo quente. Será unicamente você. E é por isso que eu espero.
   E isso se torna uma tortura. Uma tortura que eu mesma me culpo por passar, por que sou ridiculamente idiota o suficiente para me deixar passar por isso. E o problema é que eu não consigo sair, é como me ver engolfada em uma imensidão de um oceano, ser cercada por ondas gigantescas mais fortes do que mil homens que com facilidade me jogam para o fundo do mar, e rapidamente sou emergida por esse amor, por essa vontade doida de crer todos os dias que você vai voltar.
    Abri os olhos nesta manhã, era ainda muito cedo, a luz no céu era cinzenta, seis e pouca da manhã, descobri que apertava o travesseiro loucamente perto do corpo, e que este suava. Descobri que era um sonho o que recém havia se passado na minha mente, descobri que você não estava no meu quarto e invés disso, todo ele era vasto, vazio. Descobri que sua risada recém escutada fora criada por mim, pela minha memória, era sua risada de fato, mas não recente, como eu gostaria de acreditar. Descobri que você não estava do meu lado e que a matéria pomposa que eu agarrava junto ao meu corpo, em um gesto desesperado, tão pouco e de longe era seu corpo. E então me senti afogar, me senti engatinhar no ar na busca incessante de tentar voltar ao sonho, ao mesmo sonho, onde eu poderia só mais um segundo que fosse, só mais um instante, só para mim passar só mais um instante pequenino do seu lado, mesmo em um sonho.
     E agora sentada em meu quarto, revendo os acontecimentos do dia, pensando no livro que acabei de ler, pensando no ocorrido do sonho, no sonho, em você, pensando que frustração grande senti ao descobrir que você não veio hoje, que você não esteve aqui. Estou pensando quando isso vai mudar, e quem pode mudar para mim.
     Resposta fácil.
     Somente eu mesma.
     E eu quero isso? Começando, talvez á trocar o pijama quem sabe. Um de bolinhas não seja assim tão... Charmoso. Mas trocar minhas esperanças, isso é diferente.
     Eu trocaria pelo que? Por quem?
     Me parece vago e sem sentido desistir agora. Me parece inútil dizer que não te amo mais, quando na verdade está escrito na minha cara, esta nas ultimas silabas de cada palavra que pronuncio. Até um cego pode ver. Que desperdício, que desperdício lamentável de um coração. Em pensar que já estive prestes a entregá-lo para qualquer um, qualquer um que quisesse, e hoje descobri que burrice. Que burrice a minha pensar nisso. Em doar meu coração para qualquer um. Qualquer um quem? Qualquer um não serve e um também. Preciso é de amor, e que não seja qualquer, e que também não de apenas um dia. Por isso, me agarro incontestável á esse amor, mesmo que me destrua e me desfaleça todos os dias. É divertido olhar para mim vestida nesse pijama, pensar nas possibilidades de que eu não precisava estar aqui, assim, vestida dessa forma. Que eu tenho amigos, que eu tenho para onde ir. Mas me faz sorrir, por que mesmo assim, mesmo com diversas possibilidades eu me agarro a só uma. Eu prefiro esperar por você. E isso, isso me faz rir, por que pelo menos eu sei, e gostaria que você soubesse também. Há um alguém no mundo, um alguém pequenino, como uma agulha minúscula em um palheiro do tamanho de um baú, com um bravo e forte coração, mesmo que idiota com seu pijama de bolinhas azuis, mesmo que ridículo com seu cabelo despenteado e seus óculos já um pouco grandes no rosto, mas á alguém que prefere acreditar em você. É esse alguém que também prefere acreditar em si, e sorri, pois sabe que mesmo que as possibilidades sejam enormes á ponto de desviar todas as suas esperanças, ela é forte o suficiente para admitir que é fraca para desistir e forte para continuar, pois o ama incondicionalmente.



 Annabel Laurino.




 Texto escrito no dia 04/02/11

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  Eu ia escrever sobre você.
  De novo.
  Desisti.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

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Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: Pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: Pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: Existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O amor. Por isso, preste atenção nos sinais e não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor!


(Carlos Drummond de Andrade)

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Você tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro. Mas apenas te dou um beijinho no rosto. Preciso me comportar.




Tati Bernardi



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"Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu precisava viver. E que irônico: Pra viver eu precisava perdê-lo..."


Tati Bernardi

Questions

  Dizem que as duvidas movem o mundo.
  Tenho uma porção delas abarrotando meus bolsos. Pesadas, são muitas.
   E no entanto, me sinto sempre no mesmo lugar.

bebellaurino.

?

   Bem, então foi como se eu visse agente. Não, não era a gente. Mas no entanto, na minha cabeça, pareceu como se fosse, entende? Foi como se eu dormisse enquanto assistia aquela cena, e no momento logo se formava um sonho, sonhando de olhos abertos, assistia aquele momento do filme e imagina nós dois nele. Foi muito real, e eu não consigo explicar o que aconteceu, eu nem mesmo pensava em você naquele momento, mas tudo pareceu tão bonito e me perguntei se seria possível que estivesse acontecendo aquilo mesmo. Senti como se afundasse no lugar e mergulhasse naquela cena tão bonita.
   Eu e você olhávamos uma para o outro dentro de um cúpula invisível que rodeava-nos, era brilhante para nós, completamente mágico, o tipo de coisa que é puramente simples e explica até mesmo as maiores duvidas de uma vida inteira. Em pé, estávamos em uma altar todo branco, flores coloridas cintilavam á volta, os aromas cítricos e harmônicos, tudo perfeito, a música, o tom, a luz, a paisagem, você, eu, eu e você. E acabávamos de dizer sim, sim, sim! Nos olhávamos como se não acreditássemos naquilo, era mágico! Depois de tanto tempo, eu esperando por você e você esperando por mim, era como algo muito surreal. Quem poderia imaginar?
   Sei que parece loucura. Mas foi exatamente isso que aconteceu. E foi lindo, uma daquelas coisas que acontecem raramente, mas que costumam acontecer com frequência comigo agora. Um sentimento muito antigo se apoderou de mim e eu me perguntei do por que disso. Eu não sabia, não tinha como explicar. Senti-me saindo da cena do filme, sentada na sala do cinema, rodeada de pessoas a minha volta, um tom apavorado no rosto.
    Será possível então?


bebellaurino.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

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 Você ficava ali sentada, esperando, como se alguma coisa, ou alguém, pudesse te salvar.
   E a resposta, nítida de mais para pronunciar acima do grito de necessidade.
   Nada de mais. Tudo muito frágil e febril.


bebellaurino.



...


"Detesto tudo, perdi o contato com as pessoas, fico vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo."

CaioF.

...



Sentia-se pequenina, só, perdida dentro do cobertor, aquele tremor que não era frio nem medo: uma tristeza fininha como as agulhas cravadas na perna dormente, vontade de encostar a cabeça no ombro de alguém que contasse baixinho uma história qualquer.

Caio Fernando Abreu






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  Algum outro corpo, algum outro lugar. Alguma outra história, algum outro caminho...
   Mas não da. Não é permitido. E escrevo. E invento histórias.

bebellaurino. 



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"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percusso sem ele. Faça uma pausa, você que esta lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável."

Charles Dickens, Grandes Esperanças 

sábado, 17 de dezembro de 2011

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  Sabe, tudo que eu queria no momento era um xícara de café bem quente. Queria estar sentada em um cama aconchegante de várias almofadas brancas e genuínas, macias e fofas, meu corpo afundaria no menor toque de encosto á elas. Depois eu desejaria que uma bandeja de biscoitos macios e quentinhos estivessem servidos á minha frente. Haveria alguém do lado, e esse alguém descansaria o braço sobre o meu corpo, passaria gentilmente a mão sobre meus cabelos e diria mansamente que tudo iria ficar bem, que tudo isso era só uma madrugada tempestuosa e confusa, que o tempo logo logo irá se estabilizar, que eu vou conseguir sair dessa, que tudo vai ficar certo outra vez. Esse alguém contaria-me uma história, beijaria meu rosto, me faria crer nas suas longas promessas de que o amanhã seria melhor, e me colocaria para dormir  nos seus braços. E eu dormiria, acreditando que tudo ia ficar bem. E o medo iria se dissipar aos poucos, e a vontade de chorar também, e se mesmo a vontade de chorar insistisse eu saberia que mãos quentes logo as secariam do meu rosto. Tudo iria ficar bem.
   É, eu desejo ardentemente tudo isso.

Annabel Laurino.

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    As vezes, numa confusão de cores, sons, rostos diferentes, transloucados de momentos e transições de assuntos, as coisas simplesmente parecem zumbir numa sinfonia alucinada que não se encaixa em som algum, é simplesmente um zumbido enlouquecedor, que toca naqueles dias insanos que você sempre se arrepende de ter saído da cama.
    To tentando ser forte e ver a fundo tudo isso. Toda vez que olho pro fim do buraco em que me enfiei vejo que cheguei até aqui sozinha. Por que fui suficiente burra para ter chegado até aqui. Concluo sempre, em meio a fios de pensamentos como esses, que posso ser tão burra para permanecer.
   Ou tão mais forte e conseguir sair, já que pude chegar até aqui, deve ter alguma forma de sair.
   Me agarro enlouquecida nos últimos fios de esperanças, marcho como se saísse para a guerra e dou urros de bravura, visto á armadura pendurada no canto esquerdo da porta, peço a Deus para que me proteja, penso que não está certo, que não vai ficar assim, e me convenço de que esse talvez possa ser o grande desafio de todos, e ótimo, eu adoro desafios. Vamos lá!

Bebellaurino.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

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"Realmente, não adiantava tentar esquecer. Na verdade, tentar esquecer é quase o mesmo que lembrar. Mas tentei mesmo assim, e também tentei ignorar o fato de que me lembrava de você o tempo todo."


     (Amanhã Você Vai entender - Rebecca Stead)

!

I'd still miss you, baby


(aerosmith)

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Alguns momentos você para e se pergunta: Céus, eu posso confiar em quem?
   E a resposta quase sempre tão contraditória.


bebellaurino.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

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"Eu gostaria que tudo crescesse naturalmente."






                                                        Caio Fernando Abreu

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    E indo dormir outra vez, outra noite, como todas as outras vezes, você olha pro relógio e não se surpreende pela hora. Abre a janela, respira o ar úmido de chuva de verão e olha pro céu, pro negrume vazio do ar denso que se espalha e chega a adentrar errante por dentro de si. Inspira forte e longamente. Sozinha, você pensa que daqui a pouco o sol surgirá. "Here Comes The Sun". Você sorri.
    Pensa, você pensa. Como um sussurro que ninguém poderia ouvir, você se vê falando: Boa noite, dorme bem, sonha com os anjos, ou comigo, ou com qualquer sonho bom que te faça acordar e ter um motivo pra sorrir e querer viver. Sinta-se em paz, receba o meu carinho. Te gosto para sempre.
    Rapidamente você fecha as janelas, você vai dormir. E logo você também vai sonhar.


bebellaurino.

Prenda-me.

    E se algum dia você me achar, mais do que eu própria me achei esse tempo todo em que vivi dentro e fora de mim mesma, eu peço, por favor me prenda. É. Me prenda no que for. Nas suas garras fortes de mãos firmes de quem vai a luta ou dos teus braços quentes e macios de quem não tem medo de abraçar o corpo de outro alguém e de lhe doar o melhor e mais cálido reconforto, ou me prenda nos teus olhos cintilantes que poupam palavras abstratas que simplesmente, e muitas vezes, só preenchem o vazio. Ou me prenda nos teus lábios, que mel não resvalam e nem amargas coisas dizem, mas que sabem pronunciar a verdade e que também sabem esconder do perigo os segredos mais obscuros. Mas, simplesmente me prenda. Com o que você puder, como puder. Mas não me deixe seguir em frente achando que me achei inteira sem saber que existe outro alguém que me acha muito mais do que eu própria. Simplesmente não se perca de mim, muito mais do que eu me perdi de mim, por que eu reconheço esse erro. Não tem volta. Mata, feri e nunca soluciona.
    Me prenda, em ti.

Annabel Laurino.

Distante.


    Você tira os sapatos, coloca aquele camisetão gasto e preto, você bagunça os cabelos, bebe um gole de café bem amargo e quente, que desce pela sua garganta e acaba no seu estomago vazio desde a primeira e ultima refeição do dia, um biscoito de sal. Você anda pelo quarto, se olha no espelho, faz uma careta estranha, pega o telefone, nenhuma ligação. Anda pelo quarto de novo, liga o som, toca “Penny Lane” dos The Beatles, depois você chora um pouco e depois você se senta na cama. Admira o céu cinza meio fustigado de nuvens negras e pastosas. Você olha as arvores e fica em silêncio absoluto até que percebe os primeiros pingos de chuva cintilarem no vidro da janela. Você cantarola baixinho ao som de “Something”. Você fecha os olhos, e lembra-se como se fosse um sonho de quando era criança, das tardes sentada na mesa do ateliê com a sua avó, pintando panos de pratos e desenhando gravuras de revistas sobre natureza morta. Você se lembra de entender enfim o que era natureza morta. Você sorri se recordando de quando fazia seu avô se levantar da soneca da tarde e comprar picolés na esquina para você e de como se divertia em assistir ao “Vale á Pena Ver de Novo” ao lado de sua avó enquanto ela tricotava e vocês duas riam dos roncos altíssimos do seu avô no sofá.
   Você queria que o tempo voltasse. Você queria não saber das coisas que sabe hoje, você queria ainda poder passar as tardes de chuva brincando de bonecas e desenhando borboletas de tintas no papel. Você ainda queria acreditar que todas as pessoas seriam boas e que seu coração nunca iria se machucar. Você queria não saber o que é amor. Você queria saber como não amar. E logo, você se cansa que querer qualquer coisa impossível e absurda que logo você se da conta de que nunca vai acontecer. Você suspira, termina o resto de café, suspira outra vez, olha pro céu e chora mais um pouco, sem nenhum soluço soltar. Simplesmente queria que alguém puro, de coração limpo, pudesse reconfortar seus pensamentos e receber-te no colo, só pra variar. Queria ouvir uma canção e uma história de princesas, ter o cabelo escovado antes de dormir e um chá quente preparado para aquecer o corpo e desanuviar os maus sonhos. Simplesmente você não queria se sentir só. E só consigo mesmo. E só com o passado distante que não se ilumina mais.


Annabel Laurino.



Wish? And the Now? And the Make?

    Você se pergunta o que realmente poderia acontecer para enfim fazer com que algo na sua vida fizesse algum sentido básico, meio que direto e indireto, mas que fizesse algum sentido. Algo que pudesse levar você tanto para a direita, ou para a esquerda. E no fim das contas você não sabe. Por que você já não sabe mais pelo o que afinal esperar.
    As pessoas dizem que querer de mais é ambição, e querer de menos é pensar muito pouco, é não saber viver. Mas e o que você deseja todas as noites antes de dormir? Quais são seus sonhos mais ardentes? Quais são as suas vontades mais latentes?
    Não tenha medo, o que esta dentro do coração não deve ser retido ou contido. Se não, aonde iria parar o impulso vital de viver?
    Seres robóticos se espalhando por ai. Essa não, quando você percebe, é mais um. Repetindo tudo que eles dizem, só por que parece legal dizer, pensando o que eles pensam, por que parece correto pensar também, vestindo o que eles vestem, "cor de rosa e tons azuis com jeans está super em alta agora", e comendo o que eles comem, afinal "carnes e fast foods são a glória da pátria, onde serviria-se anos de lutas por um tasco de felicidade"?
    Você precisa entender, ou você sonha e faz, ou você sonha e dorme, e volta a dormir, como todas as outras noites. E pega os seus sonhos e os guarda embaixo do travesseiro, e depois espera até que a próxima  noite chegue e você possa enfim brincar de historinhas com eles. Aquela tipica iniciação de: "E se fosse verdade..." .
    Não existe essa de querer inventar desculpas, de dizer que tem medo, de chorar por que é difícil, de ficar dando murros nas portas até que a que o levo ao caminho mais fácil resolva se abrir para você poder entrar. Não existe contos de fadas e nem príncipes encantados, dietas mágicas e pote de ouro no fim do arco-íris, não existe essa baboseira toda que as pessoas decidem acreditar por que é mais fácil do que simplesmente começar a realizar o que elas desejam. Não existe também três pedidos ou beijos em sapos. Simplesmente não existe.
    Existe o agora. E o fazer.
    Isso sim existe.


    Annabel Laurino.

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     "...Você se cansa de não saber exatamente do que está cansado. Se cansa do "alguma coisa está errada" que paira sobre o ar desde uma época que você não se lembra.
    Se cansa das avenidas, das ruas, das alamedas, das praças, do sol, dos postes, das placas de sinalização, das buzinas.
    Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do "apesar de". Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do "a vida é assim mesmo". Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono.
     Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.
    E você não para, até que esteja morto."

                          PC Siqueira 

Lonely Heart

    Coração solitário, vago por um caminho distante e recolho as roupas espalhas pelo chão gasto e empoeirado do quarto. Não sinto nada. Nada toca dentro desse coração. E das poucas coisas que me são ainda sentidas, e das pequeninas coisas que me chamam a atenção, apenas substituem vestígios desse vácuo compreensor dentro de mim.
   Preferi assim, escolhi por esse caminho e quero desfrutar do gosto agridoce de sentir perder e ganhar sozinha, de abrir as janelas e sentir a brisa do verão quente e abrasante preencher as tardes languidas desse pequeno período de tempo, em que me guardo dentro dessa caixa colorida e disforme, onde escrevo coisas sem sentido, onde me escondo do mundo, onde deito, leio, como e durmo, onde divago e choro, tudo muito silenciosamente, na solitude completa, sem ninguém perceber.
    Poderia até parecer muito dramático, meio que ever-dark-forçado, mas não é nada disso não. Decidi que o melhor remédio pra mim é a solidão, e sei viver muito bem assim. Gosto da maneira como tudo se encaixa apenas pelo esforço do tempo, gosto de me sentir assim, meio que solta, sozinha, sem ninguém. Tudo bem, faz parte, e eu gosto. Eu adoro me vestir só pra mim, de ler livros á tarde inteira, de passar tempo com as amigas, de sair para ver o mar e de caminhar tirando fotos de tudo, de tomar muitos cafés e de ajeitar o cabelo da melhor maneira que me convém.
   Cansei de me ferir, cansei de correr atrás, cansei de me importar, cansei de esperar o perfeito acontecer, cansei de querer alguém ideal e legal, e que cuidasse de mim, e que se importasse com o que eu dissesse. Alguém que fosse educado e gentil, que eu pudesse sorrir com gratidão ao apresentar aos meus pais.
  Acorda menina, repito para mim mesma, essas coisas só existem em sonhos, e você não tem esse tempo todo, bora já viver! Tipo, lonely heart vagando por ai.



                            Annabel Laurino. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pensamento transitório, enfim, certamente concluído.

    Passei o dia inteiro pensando em te ligar. Invariáveis vezes pensei em pegar o telefone e discar seu número, e peguei o telefone, e disquei o seu número e depois desisti de imediato. Eu não sei bem o que eu queria dizer. Talvez, eu só quisesse dizer que eu senti um pouco da sua falta, ou nem fosse isso, não sei. Eu só queria avisar que estava vendo um filme muito bom, que sabia que você ia gostar por que tinha tudo á ver com você... Comigo também, e com as longas histórias e conversas que compartilhamos juntos várias vezes. Ou também eu quisesse avisar sobre os biscoitos de Natal, já que agora está próximo, eu queria sua ajuda pra saber como poderíamos confeitar, se do modo tradicional ou de alguma maneira legal que eu, no fundo, esperava que você propusesse. Só para entrarmos em uma daquelas longas discussões brincalhonas de sempre, e no fim chegarmos á um acordo muito pratico que fora até mesmo mencionado no inicio da conversa, mas que por sermos nós, decidimos discutir primeiro.
    Sabe como é, tudo muito inocente. E é verdade quando digo isso, inteiramente verdade, pois não há nada de segundas intenções ou até mesmo delongas disfarçadas de indiretas querendo sobrepujar alguma frase não dita do tipo: “Senti muito sua falta, volte para mim”. Acredite, não é nada disso. Somente queria conversar, e dizer sobre as conotações do dia, e do meu sonho irado da noite passada. Ouvir um pouco a sua voz me faria bem, não vou negar. Mas seria só isso, por que é só isso que me servem agora, tua essência sem muitos detalhes, nada mais. Nem mesmo qualquer ação corpórea, quem sabe, talvez, um abraço, mas nada mais também. Nada mais do que seu carinho e sua luz me satisfariam agora. Seria como uma aglutinação de cores, minhas e suas,  que deixariam nossas mascaras coloridas das quais usaríamos e começaríamos a nos ver assim, tal como sempre deveriamos ter sido.
    É verdade que me machuca essas brigas bobas, é verdade que me partem o coração quando nos distanciamos e distanciamo-nos outra vez e parece que cada vez mais, e sempre mais para longe um do outro, através de jogos desnecessários e coisinhas idiotas por motivos de um ou outro não ter se acostumado com as mudanças repentinas de como nos ver.
    Mas era isso que eu tinha para te dizer. Que te gosto, muito, e que te ligo sempre que puder, quando der, quando a distancia imposta não me afogar antes. Eu ligo. E nos vemos qualquer dia. Sorriremos, seremos nós mesmos outra vez.


Annabel Laurino.



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Você me provoca, sem esperar a picada, sem saber que ainda não inventaram antídoto pro meu tipo de veneno.



Caio Fernando Abreu
 
 

domingo, 11 de dezembro de 2011

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    Lembro-me do seu toque, do seu sorriso, e fico pensando onde você esteve esse tempo todo, por que você sumiu? Senti saudades, sabia? Sentia a falta de ter sobre mim esse seu braço protetor e de vislumbrar esse seu sorriso quente que desperta dentro de mim sentimentos inacreditavelmente ternos e verdadeiros, sentimentos que me fazem sentir limpa, viva, inteira.
    Não suma mais. Fique aqui. Estenda a mão sobre a mesa e pegue a minha mão, deixe eu ver nos seus olhos o que você enxerga quando olha para mim, do outro lado da mesa, com um sorriso bobo estampado nos lábios tingidos de cor de rosa-menininha, deixe eu saber se pra você, esse tempo curto e longo, essas ladeiras de longitude e distância também lhe trouxeram os mesmos danos. O da saudade. O da falta de olhar nos olhos um do outro novamente e descobrir dentro de si aquela sensação tão gostosa de saber que mesmo assim, mesmo depois de muitas coisas ditas e não ditas, o destino é mesmo muito surpreendente.







Annabel Laurino



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"Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível-só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender."

                                  Caio Fernando Abreu

sábado, 10 de dezembro de 2011

Submergindo

    Então subitamente você começa a sentir algo completamente inesperado, que nunca imaginou sentir antes.
    É como se abruptamente te tirassem de baixo da água. E enquanto você adormecida, decaia sobre as ondas aguadas e geladas, todos os sentidos se indo com a força em que rapidamente você era engolfada para baixo, fundo, afundando. Mas de repetente, tão surpreendente, você leva um golfo de ar no rosto, na pele, e um soco acerta com força seu estomago, um pulsar nervoso lhe cai sobre o peito e você recupera todos os sentidos, todas as sensações adormecidas, todas as coisas fantásticas que deixou de ver ou sentir, por estar afundando.
    Comecei a ver tudo de um modo muito diferente. E muito bonito também. Acho que é tudo muito recente, não estou conseguindo elucidar tudo muito bem, mas é tudo muito mágico.
    Caminho sobre um caminho plano agora, e todos os pesos foram retirados de meus braços, minhas costas. Consigo respirar e consigo ver muito bem pra onde vou e o que devo fazer. Consigo sentir o que sou e como sou, e o que fomos, o que somos. Tudo passou. Aquela terrível sensação de perda também se foi. E todas as magoas, todas as lágrimas derramadas, todas as partidas, todo o tempo perdido e todo o tempo roubado, todos os sorrisos guardados e repuxados para baixo. Tudo se foi. E sobrou esse ar limpo que emana o que eu ainda não consigo saber. É doce. Incrivelmente doce.
     E como dizia o querido Caio, que seja doce.



Bebel Laurino.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Não me interrompa.

    Não tenho tempo para auto depreciação, lamentações sobre os dias que passaram e sentimentos que o coração não comanda. Na verdade não tenho mais tempo para nada que não seja puro, verdadeiro, e doce. Incrivelmente doce.
    Estou entrando numa fase muito boa, então não me interrompa agora. Justo agora que consigo caminhar sozinha e descobrir no fim dos dias potes de mel escondidos pelo quarto. E não se trata realmente de potes de mel, digo, coisas novas. Livros, filmes, músicas, quadros, pessoas. Pessoa.
    Estou descobrindo muito. Não me interrompa.

bebellaurino

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mágoa.


    E nesse vazio tão grande e inerte, sinto uma mágoa descompassada. Não sei. Me sinto ferida. Como se fosse ainda muito frágil e pequena. Sinto que por dentro de mim, entre minhas entranhas, uma criança muito pequenina, de pouca idade e muita inocência houvesse levado um tapa muito forte, e isso a feriu. E ela chora. Todos os dias. Vezes são gemidinhos baixos acompanhados de leves choramingos. Mas ela nunca esquece. E dias ou outros se lembra tão remotamente e tão intensamente daquilo que lhe feriu que aos berros clama, e chora, e se deleita agressivamente dentro de mim. Fico sem comer, sem ver, sem pensar. E isso me acompanha constantemente. Todos os lugares que vou á uma choro dentro de mim que nada cessa. Na madrugada fria esse choro rasga no silêncio como uma sirene de uma ambulância, despertando todos os sentidos. Com carinho tento acalmá-la, mas ela chora ainda mais, e berra, berra muito. Por que não sou eu quem deve acalmá-la, não é de mim que vem o alento.
    Nunca me esqueço do que há lá dentro. E tento abrandar, e tento de forma madura andar em frente, fingir que nada sinto, nada vejo, mas parece sempre pior. Já não sei o que faço. Essa armadura de ferro por fora de mim aos poucos vai enferrujando, vai perdendo as suas partes e temo o tempo todo de que essa fragilidade por dentro resolva sair e tomar conta do lado de fora. Tenho muito medo de cair em profundo choro, de voltar atrás, de demonstrar essa magoa, ou até mesmo de tentar curá-la.


Annabel Laurino.


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"Mas meu gesto não respondia à minha vontade."


Caio Fernando Abreu

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Bolso das dores.

- Amigo, tome.
- O que é exatamente isso?
- Minha dor.
- Ah claro, como pude esquecer? Dê-me logo aqui. Isso, muito bem, guardarei-a aqui dentre do bolso de minhas vestes e não precisarás mais lembrar que sentes dor alguma.
- Promete mesmo? Por que me sinto tão só, é tanta dor que quase nem cabe em mim. São tantas histórias e tantas e tantas coisas que se passam aqui dentro que eu..
- Calma menina, calma. Estou aqui. Já guardei sua dor. Agora vamos, sente-se pois me contarás sobre teus sonhos ou teus pesadelos e todas as coisas mais que te pertubam. E acredite, passará.
- Mesmo?
- Mesmo menina, mesmo.

  bebellaurino.



Entenda

    Desta vez, dentre todas as outras, é completamente diferente.
    Entenda, esta sendo muito difícil para mim agora. E esta sendo duro fechar as portas da casa e trancafiar as janelas jogando a chave fora e arrastando comigo o vazio ininterrupto que é o de aceitar o fim.
    Por isso, por isso você não vai ouvir um se quer gesto meu, nem mesmo qualquer ruído que seja. Por que seria impossível. Sinto-me como os gerânios de Caio Fernando Abreu. Adormecidos, parados, observam e não sentem mais coisa alguma.
    Espero que entendas. Já que não acerto mais seu coração, já que minhas palavras doces pra ti tão amargas e tão cruéis não surtem efeito ou indiferença, digo, entenda. Seria cruel de mais ter de desenterrar as chaves no quintal e com as mãos tremulas e com o peito palpitante e com as vestes sujas de terra abrir a casa outra vez. Me esbaldaria na vontade insana de me jogar outra vez nos teus braços, de tomar um banho, de lavar as vestes, e de te contar minhas histórias e de chorar a minha dor. Não conseguiria mais sair. Faria um café forte para nós dois e sentaria na varanda admirando o sol, ou a chuva. E se outra vez uma ruptura cruel ameaçasse a aparecer eu teria que novamente abandonar a casa, apagar o fogo na lareira, fechar as janelas, jogar fora as fotos, esquecer os cheiros, lembranças e partir. De novo. E de novo.
    Não parece cruel de mais para você?
    Entenda.


Annabel Laurino.

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"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido."

                                                        Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vai Passar.

    Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
    Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
    Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
    Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
    Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
    - ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...
 
 
          Caio Fernando Abreu