Você bateu a porta
e eu escutei a batida, daqui de cima, depois das escadas. Tive vontade de
afundar no carpete marrrom batido, envelhecido. De entrar pra dentro dele e
fazer parte de suas milhares e pilhares de felpas encardidas. Era doloroso
essas nossas brigas, uma espécie de dor dolorida que não cessa. É um furacão
silencioso invadindo as casas, deixando rastros, calando os gritos, mordaz. Eu tive vontade de descer as escadas e de te mandar ficar, te tascar um beijo nos teus lábios grossos, te apertar o corpo, te dizer que tudo bem.
Mas não ta e não tava tudo bem. Eu fiquei chorando,
derramando lágrimas, perdida entre um pensamento e outro e a única certeza era
de não saber o que fazer. A certeza de não saber o que estar fazendo.
Nessas horas da
vontade de mandar alguém, qualquer pessoa, assumir a direção da nossa vida só
pra que alguém decida por nós mesmo o que está tão difícil de decidir. E eu
fiquei chorando silenciosamente, mordendo o lábio, olhando o computador, lendo
frases soltas, te odiando no fundo do meu estomago revoltado e na minha vontade
de gritar presa na garganta.
Paraíso a gente
sempre acha que não existe inferno astral. Paraíso tem que ser perfeito. E são
nas perfeições dos nossos dias, nos momentos que a gente só se da bem, que
rimos, que desfrutamos de tudo do pouco, de todas as coisas, felizes, amáveis,
se amando, a gente sempre rindo, a gente sempre brincando e assim, do nada,
essas brigas, essa instabilidade sobre os olhos, é terremoto, furacão é coisa
feia, palavras duras, duvidas incompreensíveis, olhares magoados e eu chorando,
sempre, chorando por me sentir tão ferida por qualquer mínimo escorregão seu. Eu
não sei ser tratada assim, não aprendi a lidar com o feio das coisas, com o teu
lado negro. Pra mim tu sempre foi luz, paz, amor, coisas bonitas, eternas, saudáveis,
pra mim tua áurea sempre foi brilhante, com o poder de iluminar a minha.
E agora assim,
esses acontecimentos que não sei lidar, quando é tu que mancha a minhas
vistas, que descolore as flores, que pinta negra a minha áurea, que apaga meus
sorrisos, que me escondes, que me enganas, que me tiras do sério. Doloroso ver
o não palpável, o não desejável, o não claro, quando tudo contigo sempre foi
luz.
Annabel Laurino