quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Argamassa misturada, sentida, mundo mudo do... viver


  Na noite escura e silenciosa,
 o roçar da pele crespa de meus dedos quentes
 crepitam no papel do livro velho e bolorento
 o arranhar do vento no galho seco, o leva até o vidro
 chama e grita
 baixo como um ronronar nervoso,
 e a chama escura que alumia ao passar das horas
 descompassa do relógio da sala e tictacteia sem parar.
A minha pele quente envolta na roupa de dormir se aconchega,
 desdobrando as dobraduras do tecido e se acomodando aqui e ali,
 reconfortante meu corpo procura um melhor modo para dormir.
A xícara vazia em cima da mesa resta somente o vapor do café quente
 que antes ocupava o recipiente,
a tevê desligada, a cadeira vazia, as roupas esquecidas, desdobradas
E tudo mais aqui dentro se aglutinando com o lado de fora,
 Em um silêncio ininterrupto, ninguém fala,
nem boceja e muito menos chora.
Guardei meu caderno de poesias embaixo do colchão
pra ninguém achar, e quem sabe nem eu mesma.
 Amarfanhei meus sentimentos no poste mais alto da rua
e como as lâmpadas antes acessas foram piscando até se apagar.
Logo tapei o rosto pelo edredom macio e fechei os olhos,
nada mais a ouvir ou ver, somente a acompanhar.
Comecei a imaginar teu corpo, tua pele coberta de pelos e tuas pernas,
 teus músculos, tuas coxas, teu pescoço, teu cabelo
e fui girando em um mundo mudo que ninguém podia ver,
 nem ouvir e nem falar, somente sentir, sentir sem parar.


Annabel Laurino.