Na noite escura e
silenciosa,
o roçar da pele
crespa de meus dedos quentes
crepitam no papel do
livro velho e bolorento
o arranhar do vento
no galho seco, o leva até o vidro
chama e grita
baixo como um
ronronar nervoso,
e a chama escura que
alumia ao passar das horas
descompassa do
relógio da sala e tictacteia sem parar.
A minha pele quente envolta na roupa de dormir se aconchega,
desdobrando as
dobraduras do tecido e se acomodando aqui e ali,
reconfortante meu
corpo procura um melhor modo para dormir.
A xícara vazia em cima da mesa resta somente o vapor do café
quente
que antes ocupava o
recipiente,
a tevê desligada, a cadeira vazia, as roupas esquecidas,
desdobradas
E tudo mais aqui dentro se aglutinando com o lado de fora,
Em um silêncio ininterrupto,
ninguém fala,
nem boceja e muito menos chora.
Guardei meu caderno de poesias embaixo do colchão
pra ninguém achar, e quem sabe nem eu mesma.
Amarfanhei meus
sentimentos no poste mais alto da rua
e como as lâmpadas antes acessas foram piscando até se
apagar.
Logo tapei o rosto pelo edredom macio e fechei os olhos,
nada mais a ouvir ou ver, somente a acompanhar.
Comecei a imaginar teu corpo, tua pele coberta de pelos e tuas
pernas,
teus músculos, tuas
coxas, teu pescoço, teu cabelo
e fui girando em um mundo mudo que ninguém podia ver,
nem ouvir e nem falar,
somente sentir, sentir sem parar.
Annabel Laurino.