segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

não sabendo como, só sendo.

   Todo mundo se sente só. Acho que a solidão é o mal do século. Fome, de comida que não está nas prateleiras do mercado. Fome, que amarga, arranha na garganta seca e dói nos braços vazios de corpo quente para se abraçar no cair da noite. Solidão, falta de dizer e de ouvir: "estou aqui, sozinho, não estás.", beijo sobre a mão, carinho nos lábios. Tudo faz falta.
    As vezes, até mesmo, que por se diga assim, se sente fome, e saudade, e a solidão assoma tanto, que forte e densa, ela preenche o espaço do vazio, e tão grande e gorda, machuca, dói, não há o que fazer.
    Por que te sentes só? Ninguém sabe dizer.
    Como dizia Clarice, é uma verdade que todos nós somos um pouco triste e nos sentimos um pouco só. É fato exorbitante.
    E o que há de se fazer? Não sei. Desculpe-me, não sei. Se quer mesmo saber, prefiro essa solidão danada do que me escorar em qualquer corpo por ai, procurando abrigo, e mesmo assim, no fundo, ter por dentro, aquela terrível verdade aguda de que de qualquer modo continuo só, por que não é quem quero, quem mata a minha solidão, quem desfere a golpes essa tristeza.
    Não sei, cada um faz o que pode, como pode. Tem gente que não liga, tem gente que chora, que grita. Não sei. Acho tudo muito tristemente cansativo.
    Eis que engulo a verdade, aceito o fardo.
    Somos todos muito só.

Annabel Laurino.

Aproxima-se manso, dizia-se assim: Aos poucos, se chega lá.

    Não é estranho como os dias passam rápido? Dispersos, eles voam com pressa nos quadradinhos do calendário de papel da cozinha. Cada dia quente de verão, eles vão indo, como que fugindo. E eu olho, um quadrado a menos, a cada dia, um dia a menos de verão.
    Parece besteira, mas sonho com o inverno. Parece que esse corpo aqui só se sente bem no frio, no frio enregelante, nas tardes úmidas, nos espasmos românticos de um inverno muito bem dotado, por baixo daquela tão linda camada de folhas secas, dos cafés quentes, dos beijos gelados, os narizes vermelhos.
    Será que nunca me canso? Pergunto-me. Porém decido sempre que não. Expectativa furiosa que assoma lenta o fundo do estomago. Espero por dias melhores, espero por dias mais secos, mais úmidos, dias com mais sentido, dias mais sentidos. Espero por mais café quente em cima da mesa, por mão em cima da perna, em cima de outra mão, beijo por cima da mão, em cima do beijo, de outro beijo. Prossegue então, alivio, sinto alivio.
    Os dias voam, o logo se aproxima manso, porém ele chega.


Annabel Laurino.

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 I'm a Lady.