Novos punhos de aço aprisionam meu peito. Ah sim, esses
punhos fortes e destemidos, envoltos firmes de mim, na esperança bruta e cega
de me manter sobre vigília constante. Oh, mal sabe ele o quanto esse coração se
faz por livre. O quanto de espaço minha alma leve necessita para que possa
respirar todo esse ar solitário, esse punhado de solidão que me agrada muito
manter em minha dieta balanceada.
Não, eu não gosto
de não poder respirar. Sim, eu odeio seus jogos banais. Eu odeio perder tempo
com coisas fúteis, eu odeio as amarras no peito, eu odeio o nojo que eu sinto
quando me encobrem de infantilidades e cinismo desnecessário.
Eu prefiro a velha moda do à seco, do que
ao temperado e docinho de mais.
Para que? Eu me
pergunto.
Não posso
sobreviver com os tique-taques de um relógio programado para parar de trabalhar
em algum instante próximo, eu prefiro a entrega inteira do que viver com esse pé
atrás. Então, novamente, eu odeio pessoas que me fazem ficar com um pé atrás.
Na minha mente ingênua a mostra das reais faces facilitaria uma vida inteira. Para que mostrar aquilo que você não é?
E então essa retidão. Eu
não gosto de ser retida, de não poder me soltar. Eu, que em minha vida toda
passei por recatada, desligada, quietinha e justo quando encontro um
complemento carnal para dividir as dores do mundo eu tenho que ser recatada? Tenho
que guardar toda a minha arte, todo o meu amor, todo o meu fulgor? Tenho que me
fingir branca e sem vida?
Não gosto, não
suporto.
Um cansaço além
do físico sobressai meu corpo, umas dores, um vazio, uma fome além. Não gosto
do que sinto, não gosto do que vejo.
Umas sensações
que não entendo. Ou no mínimo quero fingir que não entendo.
E me pergunto
quando é que a bomba desse relógio programado irá estourar.
Claro, não sei.
Annabel Laurino