annabel laurino
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
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Geralmente quando eu finjo algo eu acabo acreditando no papel sendo exercido. Então fingir que eu não me importo, geralmente é não me importar de verdade. E você não iria gostar disso.
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Estou consertando um buraco onde a chuva entra
E bloqueia minha mente de viajar
Onde ela irá.
Estou fechando as rachaduras que apareceram pela porta
E bloqueou minha mente de viajar
Onde ela irá
( Fixing A Hole - The Beatles )
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"Não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida.
Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final.
Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo."
Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo."
Caio F. Abreu
Ligados sintonizados
Se havia aquela excitação ao desligar o telefone
depois de uma conversa rápida e despretensiosa lá pelas duas e talvez três da
manhã? Claro, sim, com certeza, sempre haverá.
- Então tá,
vou dormir.
- Claro, tudo bem.
- Boa noite, se cuida, tá?
- Boa noite, me cuido sim, se cuida também.
- Durma bem – diziam juntos.
- Um beijo.
- Beijo.
- Tchau.
- Tchauzinho.
E aquele arrastar do telefone passando da orelha
para a boca enquanto o tchau ia saindo devagarzinho e o olho grudado na tela
na esperança vaga de que sei lá, de repente, viesse mais alguma coisa dita lá
do outro lado da linha. Não vinha, claro, e ambos desligavam o telefone,
jogados em suas camas, em seus quartos, em suas casas, separados por trilhões
de argamassas de concreto e casas e prédios e ruas e carros e sinaleiras e
bairro e praças e pessoas e mais casas. As noites eram assim as vezes, um
arrastar familiar de uma conversa mais familiar ainda. Como a dose de café para
um mero viciado, ou um copo de coca-cola gelada para os amantes enervantes, ou
um bom e delicioso chocolate, para os chocólatras. Uma droga inocente, mas que
latejava a falta nos dias em que não sucedia a reposição das doses. Olhos
triste pro telefone sem tocar, uma vontade de sei lá, nem que seja ligar só
para brigar, bater boca, fazer beiço, fazer drama e sabendo, porque sabiam,
fazer as pazes no outro dia. Criava-se um vicio, quase que um ritual, depois da primeira mordida ao fruto desejado era impossível parar. E eles não paravam de se procurar aqueles dois.
Por que? Não havia explicação. Essa era a graça. Eram os risos, as brincadeiras, as lutas, as mordidas, as brigas, as conversas, os jogos mentais e as guerrinhas bobas. As disputas, as competições. Não se cansavam, essa era também a beleza.
Como velhos
amigos as grandes palavras as vezes são desnecessárias para uma explicação que
exemplifique a Sintonia. E sintonia era o que tinha naqueles dois. Sintonia.
Uma estranha sintonia. Uma ligação sintonizada de parâmetros complexos e
basicamente, estranhos.
Annabel Laurino
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