terça-feira, 21 de agosto de 2012

;


Feche algumas portas... não por orgulho ou arrogância, mas porque já não levam a lugar nenhum.


Paulo Coelho

Nem um par calça todas


    Ela lambeu os lábios e o avistou bem de perto, o nariz quase que grudado na vitrine. Lindo, quanto mais se visto em uma vitrine na época de Natal. Sim, na promoção, liquidação, 80% de desconto, para levar, sem juros. Acessível. Ela havia namorado ele muitos dias, todos em que passava diante da vitrine o via ali, exposto, tão caro e reluzente. Nunca pensara em comprar um calçado daqueles porque não era assim tão confortável. E ela tão prática, finês e pomposa, do estilo as clássicas, vezes gastando no vermelho e no rock, gostava de algo mais sensual e ao mesmo tempo discreto, nada tão trabalhado, tão cheio de voluptuosas. Mas naquele dia em si, não resistiu. Claro, estava ali, era só passar a mão e levar, não tinha como resistir naquele momento. Ele todo pronto, ela toda querendo. Era para ser.
    Entrou na loja e, com toda a pompa, pediu para que a vendedora o trouxesse. Sentou-se na cadeira ao lado do espelho, ajeitou o cabelo, piscou os cílios repuxados, passou batom e cheirou o pulso, perfumado. Tudo bem, parecia até que esperava pelo o encontro da sua vida, e de certa forma era. “É agora, vou experimentar o bendito”, pensou. Nossa, queria tanto ele que sentia seu coração se apertar, queria mais do que muita coisa, era capaz até de sair correndo da loja com o par calçado nos pés. Não entendia porque raios de motivo havia esperado tanto tempo para decidir.
    Cinco minutos e a vendedora veio, saltitando em suas sapatilhas blassê, com a caixa dos sapatos no colo, sorrindo feliz.
    - Aqui – disse-lhe a vendedora. Estendeu a caixa redonda, de laço vermelho do qual puxou a ponta e abriu a caixa.
    - É lindo! – irradiou ela, tão cheia de perplexidade
    - É mesmo. – concordou de imediato a vendedora.
    - Bem, vamos provar!
    Sorridente e feliz, tirou suas sapatilhas confortáveis dos pés pequeninos e pegou o primeiro pé do par de sapatos que tanto queria. O toque foi explêndido, maravilhoso, melhor... melhor do que sorvete, melhor que cheiro de roupa limpa, melhor que sexo... Não, não para tanto. Mas era incrível.
   “Lá vamos nós.”, pensou.
    E calçou.
    [Silêncio]
    Oras, mas que estranho.
    -Então, ficou bom?
    - hã?
    - O sapato, ficou bom? Ah, caminhe, caminhe com ele e veja se é confortável.
    Obedeceu.
    [Mais silêncio]
    Sentou-se tonta na cadeira, meu Deus era trágico. A tragédia das tragédias. O calçado era horroroso, ridículo, feio, feinho. Grotesco. Cor de rato. Era de um tecido ruim, daqueles que marcam no pé, e sabia que era grosseiro falar assim, mas era feio mesmo, muito feio. Ficara horroroso em seus lindos pesinhos pequenos. Era o efeito abóbora passada à mágica, só que acontecia com os sapatos, que não eram de cristal.
    - E então?
    - Não.
    - Não?
    - Não, não é para mim.
    - Não seja boba, é para qualquer uma, ficou lindo em você. Ele é lindo.
    - Não somos compatíveis.
    - Oras...?
    - É, nada a ver. Ele não combinaria com nenhuma roupa que eu tenho, e olhe para ele, não valoriza em nada com o meu pé. – tirou o calçado dos pés, os ombros caídos, parecia ter sido vencida pela 1° e 2° Guerra em massa.
     - Não diga isso, ficou realmente bom. Ele combina com tudo, veja bem, com calças sociais a vestidos clássicos, como esse que está usando.
     Olhou-se no espelho, ainda com um único pé do calçado.
     Não.
     Sabia que não fazia sentido, mas realmente não era bonito. Não nela.
    - Com licença, mas vai levar esse calçado? – perguntou uma moça esguia chegando-se de repente.
    - Não, pegue. – respondeu ela.
    A moça esguia sentou-se ao lado dela e calçou o bendito sapato.
    [silêncio]
    - Vou levar. – sentenciou apressada que a vizinha ao seu lado mudasse de ideia e levasse o sapato.
    A vendedora saltitante pegou a moça e encaminhou-a até o caixa.
    Muito bem, foi melhor assim, pensou. Agora não preciso mais me perguntar o que aconteceria se eu tivesse experimentado.
    Feliz, ajeitou os cabelos, juntou a bolsa, e aprumou-se para sair da loja. Quando no final do corredor, veja lá, um lindo par de sapatos salto agulha, pretos, divinos de lindos, em veludo, revestido de couro, magnífico.
    Não sei, não combina comigo...
    Mas não sabia explicar, queria, mas não queria. E por fim, sabia, queria muito.
    Sussurrou uma voz: Experimenta.
    Outro dia.
    Ah vai, experimenta! 
    Tudo bem.




Annabel Laurino



;


"Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo.
Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca na sua vida? "

Luiz Fernando Veríssimo




;


"Eu nunca deixo mesmo claro o que eu tô sentindo. E fica parecendo que eu não sinto. Mas é incrivelmente triste quando desistem do meu mistério."


Verônica H.

;

 Mas então eu queria muito. Porém o risco, o medo da falha, da descoberta, sim, da descoberta, porque era pequeno em sua forma e secreto de mais onde ninguém podia saber. Era esse o medo. Da descoberta. Dava certo anseio, fome, mais e mais sede e fazia parecer ainda mais gostoso. Dava uma descarga de adrenalina pelo corpo, brilhava a mente. Sabe quando ilumina a sua mente? Pois é, fazia a coisa ficar mais bonita, os dias ficarem melhores. Talvez porque eu tinha me encontrado nesse segredo, sim, eu tinha me encontrado de alguma forma. Mas então, sim, então, o risco era grande demais, e eu, que nunca fui romântica, sempre tão medrosa, soltei suas mãos e continuei a caminhar. A desculpa era que eu não servia, eu não sirvo, que eu não me encaixo bem.

Annabel laurino

Amor, Amor, um pouco de amor

     Eu ainda não sei o que é o amor cara. Tenho bilhares de teorias, esboços grudados nas paredes do quarto, fórmulas cheias de explicações porém nenhuma corretamente aplicada. Luas e milhares de estrelas cruzaram no céu com seus bilhares de anos de antecedência e eu aqui tão atrasada, ainda não sei o que é o amor. E continuarei a não saber, se tudo depender desse mundo perdido, dessas pessoas perdidas de olhos velados e corações amordaçados.
    Não há histórias de amor, romances lindos e exacerbados que expliquem esse sentimento incrivelmente invejado, odiado, questionado, e por ai vai. Mas eu, toda descabelada, sentada na minha humilde cadeira de um quarto qualquer, em um canto qualquer do mundo, tenho vontade de dizer um bocado de coisas sobre o amor para muitas pessoas que conheço e que provavelmente desconheço profundamente.
    Coisas elementares, meu caro. Há quem pense que para chamar a atenção de uma pessoa tenha que fazer despertando o amor desta com implicações, com trejeitos, obrigações, brigas, ciumes, essas coisas todas que estamos cansados de ver nas novelas a quatro. Mas não é assim, não é assim meu bem. E é agora que eu rio desdenhosamente, afago seus cabelos de criança pirralha e pequena, e olho para você toda gentil, sentindo um bocado de dó pela sua ingenuidade. Amor a gente não desperta não. Amor a gente nem se quer faz crescer. Ele que cresce involuntariamente, ele vem, com o tempo, com os dias, com o resto dos sentimentos. Amor acho que é uma globalização de tudo. Há os grandes amores, os pequenos amores, os amores de uma vida toda, que você jamais esquece, e aqueles que duram um verão ensolarado e depois morrem.
    Não gosto de amor criado, fantasiado por cima de afeto. Amor bom é aquele que a gente não pede, ele chega de mansinho com os braços do outro. Vem com a gentileza, o perdão pelas falhas, a aceitação do outro por ser quem a gente realmente é. Sem susto, sem medo. O amor acima das dores é lindo, quando suas doses diárias são devidamente engolidas à copos de água, mas o amor que sai do controle, vira dependência onde o individuo começa seus coquetéis diários substituindo a unica pilula somente, bem, ai a coisa vira crazy e passa de easy para so hard.
    Mas quem sou para falar de amor? Oras, eu amo muita gente, as vezes eu amo até quem nunca pensará em me amar, mas não dói, é um amor tranquilo, pacifico. Amor a gente dá e não pede em troca. E claro eu sinto o amor voluntário de que assim como o amor manso, me aceita, me perdoa, me pega nos braços e me aceita de volta sempre.
    Sou criatura perdida, vagando pelos cantos do mundo com minhas quiquilharias, meu violão sem corda completamente desafinado, achando lindo o ser desajeitado e a vida leve, a liberdade infinita. Tai uma forma de amor também. O amor pelos nossos valores, por quem a gente realmente é e não por quem a gente deve ser.



Annabel Laurino